segunda-feira, 26 de maio de 2014

Todos os dias nos roubam uma flor



Toda despedida é dolorida
Mas, nos conformamos quando a partida era prevista
E sabíamos que ela aconteceria.
Mas, a alma é dilacerada mortalmente
Quando não esperamos por isso.
Nossa sociedade perdeu a noção da vida
Todos os dias nos roubam uma flor.
Vidas que são ceifadas na inocência
Sonhos furtados de corações sinceros.
Uma angústia profunda abate sobre os olhos
Cansados de lágrimas derramar.
No caminho da escola
Na volta do trabalho
Quando menos se espera
Um estrondo se ouve a interromper mais uma vida.
Os pássaros voam em fuga,
As borboletas, espantadas, procuram refúgio
E o perfume das flores é destruído.
Acostumamos com o odor fétido da morte
E não mais lamentamos a violência
A ceifar vidas inocentes.
O clamor do sangue espargidos no asfalto quente
É levado pela fumaça
E chega até as nuvens.
Aves de rapina espreitam as vítimas
E esperam ansiosas para destruir.
Até quando roubarás nossas flores?
O sol escaldante do egoísmo humano
Cai violentamente sobre as poucas flores que ainda resistem
E logo as queimará sem piedade.
O consumismo exarcebado atropela as vítimas
Tanto os que querem quanto os que necessitam.
O capitalismo selvagem impõe regras
Que ninguém consegue evitar.
O valor da vida humana não é mais do que um tênis
E, se não posso comprar um celular de última geração,
É fato que terei que roubar
Para mostrar lá na comunidade.
Todos os dias nos roubam uma flor
E o jardim já está quase deserto.
Protestos contra a violência gera mais violência
E as pessoas já não se respeitam.
Uma sociedade sem escrúpulos
Que preferem a podridão fétida do caos
Em vez de uma busca sincera ao Criador.
À medida que envelhecemos
Vemos que o tempo bom já passou.
O tempo onde havia o respeito aos mais velhos
E aos mestres que ensinavam.
Do nada o jovem levanta sua voz
Dedos em riste, voz exaltada a gritar ofensas e ameaças
Ao velho mestre que está a lhe ensinar.
Onde está o respeito?
Não podemos duvidar de que ele é capaz de fazer o que promete
Afinal, sua vida já não está sob o seu controle.
Deixo minhas mãos pousar livremente
E antevejo a hora de partir.
Os sonhos de um mundo melhor
Onde possa reclinar minha cabeça vai ao chão
E a tristeza infinita adentra o coração.
O que me resta é deixar as lágrimas rolarem.
Hoje roubaram mais uma flor.

Poema: Odair
Foto: Joe Bengala. (Às Margens do Rio Paraguai - Cáceres, MT)

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