quarta-feira, 31 de julho de 2019

Jardim exótico


Parecia imperceptível a visão do paraíso 
Que se escondia diante daqueles olhos 
Meigos e tristemente solitários. 

Havia uma brisa na penumbra 
Que descortinava silenciosamente 
Com os passos lentos de sua caminhada. 

Não sei ao certo se ouvia o seu soluçar 
Ou se ela cantarolava uma canção 
Que mexia com o meu sentimento. 

A beleza intensa de seu olhar 
Tão profundo como o oceano 
Era capaz de tirar a paz de qualquer um. 

No jardim exótico desfilava 
A magnitude de um sorriso meigo 
Que irradiava de sua alma singela. 

Tal beleza não poderia ser descrita 
Por nenhuma alma mortal 
De tamanha divindade que vislumbrava. 

Então me deixei navegar silenciosamente 
Nas águas tranquilas de um riacho 
Ouvindo os pássaros no jardim. 

As flores e as borboletas 
Misturavam-se com aquele sorriso 
E deixava o jardim tão exótico. 

Eternizada em versos e prosas 
A beleza daquele sorriso indelével 
Que transmite a paz que sinto agora. 

Poema: Odair José, Poeta Cacerense

terça-feira, 30 de julho de 2019

O flanelinha e a puta (parte 2) - A puta


Mal vi o flanelinha virar na esquina recebo uma ligação 
Um amigo me convidando para ir ver umas “meninas” 
- Não tenho dinheiro! 
- Vamos só tomar uma cerveja. 
Tarde de calor. 
Ideal para se tomar uma gelada. 
- Vamos lá. 
O que não se faz por um amigo? 
Lá fomos nós. 
Não preciso nem dizer que há vários locais nas periferias da cidade 
Que possibilita oportunidades para se conhecer uma garota. 
Mas, devo salientar que esses ambientes não são salubres. 
Nem bonitos. 

Uma moça de sorriso espontâneo 
Batom vermelho, seios fartos, 
Realçados pelo decote de uma blusa curta 
Short mais curto ainda e aberto 
Deixa transparecer um par de coxas salientes 
Com uma tatuagem em uma das pernas 
Vem sentar-se ao meu lado. 
- Oi bebezinho – diz ela com uma voz suave 
- Você pode pagar um uísque para mim? 
Qualquer bebida nesses lugares é o olho da cara 
Dá para comprar um engradado de cerveja em outro lugar. 
Invento uma desculpa e digo que só posso pagar uma cerveja 
Enquanto meu amigo se diverte com uma loira. 
- Vou para o quarto com ela – diz ele. 
Tenho que esperar. 

Então começo a conversar com a morena 
Que insiste em passar as mãos pelo meu corpo e me chamar de bebezinho. 
Por que as pessoas gostam de me chamar de bebezinho? 
Sei lá. Até que gosto. 
Então insisto com ela que não tenho dinheiro e que ela pode tentar agradar outro. 
Tinha acabado de chegar outros caras. 
- Gosto de você – diz ela – e esses caras ai vão lá para os fundos. 
Nos fundos do bar há mesas e outras garotas 
Bebendo e conversando. 
Vejo uma tomando banho em uma ducha 
Ainda está muito calor. 
Ela está seminua e não tem como disfarçar o olhar 
Ela sorri e faz uma bagunça para chamar a atenção. 
- Vai ficar olhando para ela? 
Então me volto para a menina ao meu lado. 
- Por que você fica aqui? – Pergunto. 
É possível ver em seu rosto as marcas do sofrimento. 

Conta-me, então, parte de sua história. 
Não conheceu o pai e a mãe não tinha condições de criá-la. 
Por viver uma vida miserável 
Fugiu de casa com quatorze anos 
Ficou grávida e teve um filho 
O pai do garoto nem quis saber de vê-la e muito menos do filho. 
Não queria que o filho passasse pelo mesmo que ela passara 
Por isso resolveu trabalhar para sustentá-lo. 
Como não conseguia emprego 
(não tivera oportunidade de terminar os estudos) 
Resolveu ser prostituta 
- Eu sou uma puta – ela diz para mim. 
Ela mesma me pede para chamá-la de puta. 
- Tem meninas aqui que não gosta, mas nós somos putas. 
Fico constrangido e ela nota isso. 
- Não se preocupe, bebezinho, isso é normal para mim. 
Então ela brinca com minha timidez 
Mas, na verdade o que sinto é estranhamento. 
- Quanto ganha fazendo isso? E seu filho, onde fica? 
Eu estava curioso e como ela havia aberto a possibilidade, queria saber. 
Disse-me que, às vezes, no começo do mês, dia de pagamento, 
Costuma tirar um bom dinheiro. 
- Teve uma vez que fiquei com 8 caras no mesmo dia. 
Fiz a conta na cabeça rapidamente: 
800 reais em um dia! 
Caramba! 
- Mas, tem semanas que ficamos aqui e não aparece nem uma viva alma. 
Ela, então, me contou sobre as rivalidades, sobre a concorrência, 
A exploração do dono ou dona do lugar 
Das condições miseráveis onde dormem, 
Da comida horrível que se alimentam 
Dos homens violentos que querem abusar porque estão pagando... 
Não sabia o que dizer. 
- Ah, o meu filho tem 4 anos e fica com minha avó. 

Meu amigo volta de sua aventura. 
A loira sorri, ele sorri. 
A felicidade! 
Ah! Ela existe. 

Deito-me na minha cama e começo a refletir sobre o meu dia. 
O que é a vida? 
Quem somos nós? 
De onde viemos? 
Para onde vamos? 
O flanelinha e a puta. 
A vida deles é melhor ou pior do que a minha? 
É pior ou melhor do que a sua? 

Poema: Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 29 de julho de 2019

O flanelinha e a puta (Parte 1) - O flanelinha



Por coincidência encontrei os dois no mesmo dia. 
O flanelinha em frente ao Banco do Brasil 
Tarde de calor como é costume em Cáceres 
O sol abrasador no seu fulgor tradicional 
E lá estava ele para cobrir a moto com um papelão. 

Ao sacar o dinheiro no caixa eletrônico 
Depois de esperar em uma fila enorme 
Em um banco que mais parece uma lata de sardinha 
Separei os dois reais para entregar-lhe ao sair. 
Nem me julguem se isso é certo ou errado 
Cada um age de acordo com sua consciência. 

Ele sorriu para mim ao ver que lhe daria dinheiro 
Os dentes apodrecidos, mas feliz, 
As mãos sobre a testa empoeirada e cheia de suor 
Tentando se livrar do sol que batia em seus olhos. 
- Obrigado moço – disse ele – você é muito gentil 
Quase ninguém faz isso. 

Olhei para os lados e as pessoas caminhavam freneticamente 
Cada uma em seus pensamentos 
Com seus problemas particulares 
Contas para pagarem, dificuldades para resolverem. 
- A vida é assim mesmo – disse-lhe. 
Sorriu. 

Poderia ter feito como sempre faço: 
Subir em minha moto e ir para casa ou trabalho 
A vida segue seu curso, afinal. 
Mas, do nada me veio a ideia 
De chamar aquele homem castigado pela vida 
Para tomar um suco de laranja. 
Ele sorriu mais uma vez: 
- Sério? 
- Sim. Com uma condição. Você me conta porque está nesta situação. 
Topou e fomos tomar o suco na lanchonete. 

Dei-lhe a liberdade de escolher um salgado 
Ele comeu dois. 
Enquanto comia ele me contou a sua biografia: 
Não tivera oportunidades de estudar 
Nunca conheceu o pai e a mãe não teve como sustentá-lo. 
Viveu parte da infância com a avó, 
Mas ela morreu e ele resolveu viver nas ruas. 
Usava drogas (só para manter a vício) 
- A vida não é fácil, moço! 

Não posso expressar a sensação que tive ao vê-lo comer o lanche 
E ele sorria ao contar-me a sua história. 
- É bem concorrido aqui 
Tem bastante gente precisando ganhar uns trocados. 
Então, não resisti a pergunta que me incomodava: 
- Quanto você consegue tirar com esse trabalho? 
Ele fez uma cara séria. 
Pela primeira vez não sorriu. 
Mas, foi por pouco tempo, 
Logo abriu um largo sorriso 
Mostrando os poucos dentes que ainda lhe restava na boca. 
- 50, 80. Depende do dia e da boa vontade das pessoas. 
Não sei dizer se isso é muito ou pouco 
Não fiz a conta para saber quanto dá no final do mês 
Mas, é uma vida miserável depender dos outros. 
- Pelo menos não estou roubando. 
"Verdade". Pensei comigo. 

Ele me agradeceu pelo lanche 
Falou-me palavras de agradecimentos e sorriu mais uma vez. 
Não sei por que, mas senti vontade abraça-lo. 
Claro que ele se assustou 
E as pessoas ali na lanchonete também: 
- Vá com calma – disse ele – não sou gay nem gosto disso. 
O que fazer? 
Também não sou gay e nem era essa minha intenção. 
Vi ele se afastando balbuciando alguma coisa: 
- Esses engomadinhos! Tudo boiola! 

(Continua...) 

Poema: Odair José, Poeta Cacerense

domingo, 28 de julho de 2019

Pensei ter ouvido você sorrir


Minha mente caminha confusa 
Tenho um misto de sentimento em meu coração 
Torna meus dias atormentados 
Porque não sei ao certo o que aconteceu. 
Não ouço mais os seus passos 
Nem sinto o seu perfume espargido pelo ar 
Mas, sinto as batidas do seu coração, 
E pensei ter ouvido você sorrir. 
A solidão é cruel nessas noites sombrias 
E a falta que você faz não tem sentido 
Nada é capaz de ofuscar o brilho de seus olhos 
Que ainda teimam em espantar a escuridão. 
Sinto saudades de você 
Saudades que tortura o meu pobre coração 
Que procura encontrar-te nas nuvens 
Onde navega os meus pensamentos. 

Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sexta-feira, 26 de julho de 2019

Esperança de amor


Essa que meus olhos contemplam nesse dia, 
A desfilar pela passarela, no corredor, 
Provoca em mim um desejo, uma alegria, 
Que culmina em um anseio, esperança de amor. 

Sua beleza ímpar, chama minha atenção, 
É inexplicável sob a luz do luar, 
Um mistério nos olhos que revela o coração 
De uma princesa, presente, aqui neste lugar. 

Na singeleza de uma vida a ser desvendada 
De uma alma que precisa ser alcançada 
Vivo um misto de desejo e pavor. 

Seus olhos são misteriosos e tenho que saber, 
Para conquistar o seu coração, o que preciso fazer? 
Pois, depois que vi você, anelo pelo seu amor. 

Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quinta-feira, 25 de julho de 2019

A vida criou o nosso amor


Bem que eu não queria acreditar 
Quando vi naquele olhar a ilusão dos dias passados 
Eu que sempre sonhei ser livre 
Não poderia ter os meus sonhos ofuscados. 

Andei caminhos tristes 
Noites intermináveis de sofrimento 
Para alcançar a liberdade 
E apagar a tristeza do meu pensamento. 

Então eu vi em seu lindo olhar 
Um amor que era tão puro e verdadeiro 
Que meu coração outra vez 
Ao sentimento entregava-me por inteiro. 

A vida criou o nosso amor 
Como um casulo tão particular 
E nossas manhãs tornaram-se 
A beleza da mais linda forma de amar. 

Não posso acreditar 
Que seus passos caminham em outra direção 
Que meus olhos não há de contemplar 
A beleza do seu lindo coração. 

Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quarta-feira, 24 de julho de 2019

Crônica de um amor louco


Diante de mim estava aquele olhar 
Que nunca havia visto outro igual 
Um olhar de sedução e mistério 
Que envolveu meu pobre coração mortal. 

Sem saber o que fazer diante de tal esplendor 
Abri meu coração e me entreguei 
De corpo e alma aquela paixão alucinada 
Nas noites de sedução que vivenciei. 

Os melhores momentos de um insano amor 
No êxtase total de sentimentos 
Teu corpo junto ao meu em união 
Mistura de desejo e paixão sem sofrimentos. 

Esta é a crônica de um amor louco 
Que vi nascer em seu olhar 
Na plenitude dos tempos deixei-me 
Em seus braços descansar. 

Falo de um amor que não está morto 
Mas, que vive para sempre em mim, 
Mesmo depois que você se foi 
Mantenho esse sentimento sem fim. 

Poema: Odair José, Poeta Cacerense

terça-feira, 23 de julho de 2019

Catarse


Liberto-me do que me é estranho. 
Por que sofrer com isso? 
O que pode me perturbar? 
Quero conservar em mim 
O que há de melhor 
E, por isso, descarto o pior. 
Rejeito tudo que dilacera minh’alma. 
Se a purgação é necessária 
Eis-me aqui pronto a galgar 
Os umbrais do mais temido purgatório. 
Sacrifícios, 
Absolvições, 
Purificações... 
Jogos aprazíveis para vivos e mortos. 
Purifico-me dos ardis 
De palavras tolas e sem sentidos. 
Liberto-me dos prazeres 
Da alma e do corpo. 
Rasgo o coração 
Faço-o sangrar até o fim. 
A morte? 
Eis que jaz a espreita 
Mas, não me assusta. 
Não agora! 
A alma cheia de desejos 
Os vermes a corroer o corpo 
E os olhos impuros. 
Como arrancá-los? 
Como andar na escuridão? 
A alma se recolhe 
Tudo se tornou impassível 
E choro tristemente no meu silêncio. 
A purgação é necessária 
Porque preciso encontrar a paz 
Que só na poesia posso desfrutar 
Discretamente e silenciosamente. 
A tragédia é o caos, a solidão a rotina, 
De uma vida que se vai 
Na madrugada muda e gélida. 
Esse terror não pode terminar 
E os distúrbios embaçam minha visão. 
As emoções estão abaladas 
E impressionam minha alma. 
Não há piedade, apenas o medo. 
Preciso de serenidade 
Equilíbrio nas emoções 
E a pacificação que essa catarse 
Pode me harmonizar. 

Poema: Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 22 de julho de 2019

Alucinação (Poema sobre drogas)


A Cocaína

A primeira vez que a ela fui apresentado 
No banheiro da escola 
Por um dos meus amigos 
Doidão para arrasar na balada daquela noite. 
Cheirei a cocaína espalhada na pia 
E senti o nariz escorrer 
A sensação de liberdade 
Fizera-me andar pelas nuvens da imaginação. 
As luzes coloridas da boate 
O som estridente das músicas eletrônicas 
O roçar dos corpos agitados no salão 
E a sensação de estar em outro mundo. 

Para mim uma experiência única com a cocaína 
Não tive coragem de outra vez 
Usar na minha vida. 
Para meu amigo o início da tragédia. 
Meses depois estava viciado 
Roubando da própria mãe para sustentar o vício 
Clínicas de recuperação 
Corpo definhado pela dependência 
Sofrimento sem fim para a família 
Até o dia fatídico de sua morte. 

O Cigarro

Eu via as pessoas fumando 
Via nos filmes, via pessoalmente, 
Parecia bacana 
Queria muito experimentar. 
Consegui um maço de cigarros 
 Nunca esqueço a marca: Free 
Escondido de todos eu acendi o primeiro cigarro 
Depois outro e outro 
A fumaça saindo pela boca e nariz 
A sensação de liberdade 
De poder Será que as garotas iriam achar legal? 
Era adolescente ainda. 
Mas, foi só essa vez. 
Nunca mais tive a coragem de colocar 
Cigarros em minha boca. 

A Maconha

Era um fim de tarde 
Fui apresentado a uma galera legal 
Fomos para uma casa no centro da cidade 
Em volta de uma piscina, na grama, 
Todos sentaram em círculo. 
O cigarro de maconha 
Passava de mão em mão 
E cada um dava uma tragada. 
A sensação de liberdade 
De euforia. 
A noite foi pequena para nós. 
Madrugada e estávamos na praia do Julião. 
Só Deus sabe o que fizemos naquela noite 
Porque eu não me lembro de todos os detalhes. 
Foi apenas uma vez. 

Considerações

Muito se fala sobre as drogas 
Conselhos e orientações 
Para uma vida sem a dependência das drogas. 
Drogas matam 
Drogas destroem vidas 
Drogas causam alucinações. 
Desde a origem da humanidade as drogas existem 
E sempre há de existir. 
Mas, não podemos tornar-nos reféns das drogas. 

Drogas não são apenas essas que citei em meu poema 
Mas, tudo aquilo que escraviza o ser humano: 
As bebidas, 
Os jogos 
A pornografia 
Torna-nos seres controlados pelos nossos instintos 
E transformam as pessoas em escravos. 

Liberte-se dessas amarras! 
Não use drogas! 
Diga NÃO às drogas! 

Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sexta-feira, 19 de julho de 2019

Quando a estrada e o caminho são demais para mim


No silêncio profundo de uma dor 
Onde solitário vejo as horas passarem 
Sem nenhuma novidade que possa 
Amenizar esse sofrimento banal da vida. 
Caminhar pela estrada deserta 
Sem ouvir os cantos dos pássaros 
Que simplesmente sumiram 
Deixando apenas um vazio sem sentido. 
Quando a estrada e o caminho 
São demais para mim 
Eu choro a ausência de um amor 
Que se foi na madrugada fria. 
Deixava-me descansar em seus braços 
Como se não existisse mais nada no mundo 
Que fosse mais importante do que estar com você 
Imaginando a vida feliz para sempre. 
Então, como em um passe de mágica, 
Seus olhos tão meigos já não pertenciam a mim, 
Se é que um dia havia pertencido 
E na noite do adeus se foi para sempre. 
Eu que sempre confiei no brilho desse olhar 
Acabei tropeçando em meu desespero 
De ter que caminhar sozinho 
Por uma estrada que não conheço. 
O medo da solidão me apavora 
E dos meus olhos saem lágrimas 
De saudade do seu calor tão aconchegante 
Que dava sentido a minha vida. 
Ergo-me da minha triste solidão 
Olho pela janela e vejo 
O sol nascendo no horizonte 
Dizendo a mim que a vida continua. 
Levanto-me, então, do meu leito solitário, 
E meus pés tocam o solo 
Consigo dar os primeiros passos 
Rumo à liberdade que sempre sonhei. 
Quando a estrada e o caminho 
São demais para mim 
Eu invento uma canção de amor 
Que tocará o seu coração no fim. 

Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quinta-feira, 18 de julho de 2019

A tirania do urgente


Olho pela janela e vejo o sol nascer 
Preciso chegar o mais rápido possível 
Meus pés tropeçam nas pedras do caminho 
E alcançar o objetivo do dia parece impossível. 

O tempo já não passa 
Simplesmente voa 
E eu preciso chegar ao meu destino 
Antes que o dia se destoa. 

A sociedade espera que eu consiga chegar 
Ao topo da montanha que preciso escalar 
Não existe alternativa de escape 
Pois o mundo atropela quem vacilar. 

Sou caminhante desta vida alucinada 
Onde o imperativo é o urgente 
Que pressiona o fazer hoje. 
Urgente! 

Eis uma palavra do cotidiano 
Que impulsiona o tempo de construção 
Uma ideologia que esmaga 
Atropela o coração. 

Tenho que seguir em frente 
Construir meu universo 
Se parar serei esmagado 
Por esse capitalismo perverso. 

Olho pela janela e o sol já se pôs 
Ainda não deu tempo de concluir meu poema 
E as dúvidas martelam minha mente 
O que fazer com esse dilema? 

Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quarta-feira, 17 de julho de 2019

A Esperança e o Destino Final


Meu nome nem queira saber 
Caminho com os passos de um peregrino 
Mas não posso dizer que sou um 
Pois, sei de onde sai e para onde quero ir. 
O destino que propus seguir 
É o caminho da paz e do amor. 
Eu gosto muito de falar de amor 
Convivo com ele mesmo sem saber ao certo defini-lo. 
Já me jogaram pedras por onde passei 
E me falaram para voltar 
Mas, não posso desistir da minha jornada 
E espero chegar no lugar certo destinado a mim. 
Às vezes eu deito-me sob uma frondosa árvore 
Principalmente nos dias de sol 
E começo a pensar em tudo que me aconteceu até aqui 
E o que ainda pode acontecer na minha vida. 

Olhando o passado vejo onde tropecei 
E almejo o futuro de forma mais consistente. 
Observo os pássaros que voam silenciosamente 
Indo em direção oposta ao meu caminho 
E penso na distância a ser percorrida. 
Não posso negar que chorei várias vezes 
Que tive dúvidas e que elas sempre voltam 
Para atormentar minha mente 
Que, vez ou outra, parece ser insana. 
Mas eu não desisto do meu caminhar 
E prossigo para o alvo que almejo alcançar. 

Lembro-me das vezes que acreditei 
No olhar que estava a minha frente 
E de repente já não os via mais 
E a ilusão da vida me sufocava. 
Outras vezes cantei alegremente 
Correndo pelas planícies espantando as borboletas 
Sem pressa de chegar a algum lugar. 
Mas, o sonho não pode ser desfeito 
E a vida prossegue em passos contínuos 
Na esperança de chegar mais perto do destino final. 

Sei que não posso mais encontrar aqueles olhos 
Que um dia fizeram-me promessas de amor 
E que não chegaram a me conduzir ao paraíso 
Mas, me mostraram a beleza da vida. 

No horizonte distante do entardecer 
Quando meus passos pareciam trôpegos 
E pediam para parar 
Eu avistei os seus olhos. 
Sabe toda aquela desilusão que havia em mim? 
Tudo evaporou com o calor que vinha deles 
E eu amei. 
Minha caminhada tinha um novo sentido 
Uma nova esperança nasceu em mim 
Ao contemplar os seus olhos tão meigos. 

Mas eu não sabia de nada e meus pés tropeçavam 
Nas minhas incertezas. 
Eu queria correr e te abraçar 
Deixar-me descansar em seus braços e sentir teu calor 
Mas tive medo de me expor 
E sofrer com tudo isso outra vez. 
Quem poderia garantir que dessa vez seria diferente? 
Como saber que em seus olhos não haviam só promessas? 
Eu não sabia e tinha medo 
Até o momento em que contou-me os seus sonhos 
E eu entendi que eles se realizavam em mim. 

Ah! Como pode ser tudo isso? 
Minha mente confusa não queria entender 
O que se passava no meu coração. 
Em algum momento da vida eu aprendi 
Que os olhos são as janelas da alma 
E nesses olhos negros que você tem 
Eu vejo sua alma singela a me dizer que é possível. 
Quando você sorri eu sei que há amor 
Que tudo pode acontecer quando duas almas se rendem 
Aos mistérios do amor. 

O que posso dizer da beleza de sua alma tão singela? 
Faltar-me-ia palavras para descrever 
Toda magnitude de seu coração. 
E tudo isso eu vi ao olhar em seus olhos. 
Mesmo que com palavras você não quisesse dizer 
Não conseguiu esconder o que estava estampado em seu olhar. 
Isso foi bom 
Deu-me coragem para seguir. 

Ainda havia muito chão pela frente 
E eu ouvia o som do vento bater nas folhas às margens do caminho. 
O sol aos poucos ia se escondendo atrás das montanhas 
E a brisa suave da tarde chegava de mansinho 
Trazendo consigo as lembranças de tempos idos 
Que não voltam mais. 
Com eles aprendi coisas importantes 
Que podem me ajudar a dar os próximos passos 
Na direção certa. 

Vejo no céu as primeiras estrelas 
E elas trazem o brilho do seu olhar. 
Na verdade, há uma batalha imensa sendo travada 
Pela intensidade causada pelos seus olhos. 
Eu agora sei o que isso tudo significa 
E por que cheguei até esse ponto da caminhada. 

Eu precisava encontrar você 
Descobrir o quanto é bom estar com você 
E sentir a beleza que vem de sua alma. 
Minha vida seria incompleta 
Se eu não tivesse encontrado você. 
Seria como caminhar no deserto e morrer na praia 
Não teria sentido a minha vida. 
Por isso eu não falei o meu nome no início 
E nem disse qual era o meu destino 
Mas, posso resumir tudo em uma única frase; 
Meu nome é esperança e você é meu destino final. 

Poema: Odair José, Poeta Cacerense