quarta-feira, 30 de abril de 2025

[Fragmento III]

Hoje sonhei que éramos livres. 
Andávamos de mãos dadas pelas ruas, 
Sem medo, sem pressa, 
Como quem não deve desculpas ao tempo. 
 
Acordei com o coração sorrindo. 
Ainda preso, mas sorrindo. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

[Fragmento II]

Não preciso de testemunhas. 
Teu riso é prova suficiente 
De que o amor existe — 
Mesmo onde disseram que não devia crescer. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

Não é rebeldia

 Eu vou ser sincero mais uma vez 
Sobre esse sentimento escondido. 
Quando amar é segredo, 
Teu nome é meu silêncio mais doce. 
Guardo tua voz entre as costelas, 
Como se fosse música proibida 
Que só o coração escuta. 
 
Quando tento resistir a mim mesmo, 
Minha esperança veste tua pele. 
Caminho entre espinhos, 
Mas vejo flores 
Onde teus olhos me lembram de quem sou. 
 
Não é rebeldia, é cuidado. 
Não é pecado, é poesia. 
Amar-te em silêncio é como colher o orvalho — 
Pequeno, frágil, 
Mas capaz de alimentar um jardim inteiro. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

terça-feira, 29 de abril de 2025

[Fragmento I]

À noite, 
Escrevo teu nome no vidro da janela. 
A neblina apaga, 
Mas meu peito repete: 
Ainda estás aqui. 
Mesmo quando o mundo finge que não vê. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

Quando amar é um crime

 Quando amar é um crime, 
Carrego no peito um contrabando de promessas. 
Cada gesto teu — prova e pecado, 
Cada beijo — fuga e sentença. 
 
Quando resistir é um ato de fé, 
Rezo com os punhos cerrados 
E a alma aberta em chamas. 
Não ajoelho. 
Mas cada passo que dou 
É uma prece secreta ao impossível. 
 
Porque há guerras que só os amantes conhecem. 
E há vitórias que não cabem em leis, 
Apenas em olhares que não se rendem. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 28 de abril de 2025

O outro lado da História

 
No avesso da história, 
Os heróis se confessam em silêncio. 
O tempo, paciente, recolhe os fragmentos 
Que a vitória esqueceu de narrar. 
 
Toda história é uma moeda lançada: 
De um lado, a glória; 
Do outro, o esquecimento. 
O tempo, sorrindo, guarda ambas no mesmo bolso. 
 
O tempo não narra, coleciona. 
Entre linhas apagadas e ecos roucos, 
Ele sussurra: 
"A verdade também envelhece." 
 
O outro lado da história 
É um jardim de vozes caladas, 
Onde o tempo cultiva 
As flores que ninguém quis ver. 
 
Contar é escolher. 
O tempo, imparcial, não escolhe — 
Ele apenas deixa que as histórias se desmanchem 
No vento da memória. 
 
Entre o que foi dito e o que se perdeu, 
O outro lado da história cresce, 
Uma sombra que o tempo 
Alonga ao pôr do sol. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

domingo, 27 de abril de 2025

A memória do meu futuro

A memória do meu futuro pesa tanto em mim 
Que o agora se desfaz em silêncio. 
Carrego imagens ainda não vividas 
Como quem guarda retratos de sonhos quebrados. 
Tão vívido é o que ainda não aconteceu 
Que prefiro não tocar o instante, 
Não quebrar o frágil vidro do presente 
Com as mãos ansiosas de quem já sabe demais. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sábado, 26 de abril de 2025

Alguns encontros

Alguns encontros não são meros acidentes. 
São poemas antigos, 
Escritos à margem do tempo, 
Disfarçados de coincidência. 
 
Às vezes, é o próprio destino que se curva, 
Rabisca versos no chão da vida, 
E nos guia, desavisados, 
Para o abraço que já nos aguardava. 
 
Cada olhar que cruza o nosso, 
Cada palavra dita sem pensar, 
É a rima secreta de uma canção 
Que não lembrávamos saber. 
 
Há mãos que se tocam 
Como se folheassem um livro esquecido, 
E sorrisos que se encaixam 
Feito peças de um quebra-cabeça 
Que só o universo conhece. 
 
Quando almas se encontram assim, 
Não é acaso. 
É poesia em estado bruto, 
Vestida de emoção. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sexta-feira, 25 de abril de 2025

Te amar me pesa

Te amar me pesa. 
Como vestir uma roupa 
Feita de lembranças que nunca foram minhas. 
Digo teu nome com a doçura do hábito, 
Mas no fundo, é silêncio o que sinto. 
 
Há um eco em mim que responde teu olhar, 
Não por desejo, 
Mas por medo de te ferir. 
E esse medo me corrói mais do que tua ausência. 
Porque é mais cruel mentir com carinho 
Do que dizer a verdade com dor. 
 
Talvez eu tenha amado a ideia de te amar. 
Ou tenha me perdido 
Tentando te encontrar em mim. 
Mas agora sou só esse nó: 
Entre o que finjo sentir 
E o que meu peito não consegue inventar. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quinta-feira, 24 de abril de 2025

A geração ansiosa

Nascemos com os dedos prontos pro toque, 
Mas esquecemos onde repousa o coração. 
Vivemos clicando promessas que não chegam, 
E desejamos paz com a tela ainda acesa. 
 
Dormimos com a mente em grito, 
Sonhamos com um descanso que nunca vem. 
Cada suspiro é cálculo, 
Cada passo, performance. 
Ser virou tarefa. 
Sentir, um erro de sistema. 
 
Queremos tudo, agora. 
Mas o agora sempre foge. 
Corremos atrás de um tempo que já passou, 
E o futuro nos olha com olhos de dívida. 
 
Somos filhos do excesso, 
Órfãos do presente. 
Carregamos o mundo no bolso 
Mas esquecemos o próprio nome. 
 
Na fila do café, 
No scroll infinito, 
Na espera do que não sabemos 
Ali moramos. 
Ali nos perdemos. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 21 de abril de 2025

O Homem que Ninguém Libertou — Parte III - (O Que Veio Depois)

Nos dias seguintes, ele deixou de falar. 
Não por trauma 
Mas porque as palavras já não o reconheciam. 
Tentava dizer “trabalho”, 
Mas a língua endurecia. 
Tentava dizer “dever”, 
E o som morria antes de nascer. 
 
As roupas começaram a incomodar. 
Não como tecido 
Como memória. 
Ele as tirou, uma por uma, 
Como quem arranca camadas de uma pele que não é sua. 
Vestiu o vento, o barro, a chuva. 
Começou a andar descalço, 
E o chão o reconheceu como um velho amigo. 
 
As pessoas olhavam, 
Mas não viam mais um homem. 
Viam um vulto estranho, 
Meio bicho, meio silêncio, 
Meio nada. 
 
Numa noite sem lua, 
Ele entrou na floresta. 
Não uma floresta literal, 
Mas uma feita de sombras internas. 
Galhos de lembranças retorcidas, 
Raízes de culpa e medo entrelaçadas. 
 
Ali, no centro escuro, 
Parou diante de uma árvore que não existia. 
Ou talvez sempre tivesse existido, 
Mas só pra quem já se despedaçou por inteiro. 
 
Tocou o tronco. 
O tronco respirou. 
 
E então ele deixou de ser homem. 
Não virou fera, nem santo, nem espírito. 
Virou o que vem depois do nome. 
O que existe quando o eu se desfaz. 
 
Agora habita as brechas 
Nos sonhos de quem duvida, 
Nos silêncios entre as palavras, 
Nas rachaduras dos que ainda acreditam no espelho. 
 
Alguns dizem que ele enlouqueceu. 
Outros dizem que finalmente despertou. 
Mas a verdade é que ele se libertou tanto, 
Que nem a liberdade o contém mais. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

O Homem que Ninguém Libertou — Parte II - (A Ruptura)

 Certa noite, o silêncio voltou mais alto. 
Não como sussurro, mas como grito. 
Um grito seco, interno, 
Que não se ouve com os ouvidos 
Se sente como fratura. 
 
Ele estava diante do espelho, 
Ajeitando a gravata, 
Quando viu 
Não o rosto de sempre, 
Mas um leve trincado nos olhos. 
 
Uma rachadura. 
Pequena. 
Mas real. 
 
A imagem o olhava de volta 
Com um cansaço que parecia ancestral. 
E então algo rompeu 
Não em som, nem em gesto. 
Foi uma rendição silenciosa, 
Como quando uma represa cede devagar. 
 
Ele não foi trabalhar no dia seguinte. 
Nem no outro. 
O celular tocava, depois silenciava. 
As mensagens se acumulavam como poeira digital. 
O mundo chamava, 
Mas ele não atendia mais ao nome. 
 
Começou a caminhar sem rumo. 
Cidades cinzentas, ruas iguais. 
Pessoas vestidas de pressa e ausência. 
Mas em cada passo, 
Um peso se desfazia 
Ou talvez fosse ele mesmo se desmanchando. 
 
Certa madrugada, 
Em frente a uma vitrine de loja fechada, 
Viu seu reflexo mais uma vez. 
Estava diferente. 
 
Havia ali um homem sujo, com olhos fundos, 
Mas vivos. 
Assustados, talvez. 
Perigosamente vivos. 
 
E pela primeira vez, 
Não soube se sentia medo 
Ou liberdade. 
 
(Continua...) 
 
 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

O Homem que Ninguém Libertou - Parte I - (A Rotina)

Ele acorda às 6h. 
Sempre às 6h. 
Não por vontade, mas por um eco:
O som das engrenagens do mundo 
Que exigem pontualidade na servidão. 
 
Veste-se com as cores neutras da aceitação. 
Cinza, preto, azul-marinho. 
As cores do invisível respeitável. 
A gravata é um nó no pescoço 
Que ninguém vê como corda. 
 
Ele caminha pelas calçadas 
Como quem desliza por trilhos. 
Já não sabe o que é caminhar por escolha. 
Cumprimenta com um sorriso treinado, 
Entona a voz com um otimismo morto. 
Aprendeu que verdades demais assustam. 
 
No trabalho, 
Digita memórias que não são suas, 
Ideias que cabem em planilhas, 
E desejos que foram arquivados 
Na gaveta de "impróprio". 
O chefe o chama de “exemplo”. 
Ele sente náusea, mas agradece. 
 
Nos raros momentos de silêncio, 
Ouve um murmúrio dentro do peito. 
Algo antigo. 
Algo feroz. 
Mas logo vem a tela, a notificação, 
O mantra do consumo 
E o som some. 
 
À noite, deita-se com o corpo exausto 
E a alma adormecida. 
Não sonha. 
Os sonhos foram domados na infância, 
Vacinados contra risco, 
Inoculados com prudência. 
 
Ninguém o prende, 
Mas ele nunca foi livre. 
E o mais trágico: 
Acha que liberdade é isso mesmo.
 
(Continua...) 
 
 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

domingo, 20 de abril de 2025

Os caminhos da razão

A razão caminha em linhas sutis, 
Entre pedras de dúvida e flores de certeza, 
Com passos firmes, mas olhos atentos, 
Como quem dança na beira do abismo 
Sem nunca se lançar. 
 
Ela traça mapas no silêncio do pensamento, 
Faz pontes entre o que é e o que pode ser, 
Tece perguntas em fios de lógica, 
E colhe respostas nas margens do talvez. 
 
Às vezes, veste-se de matemática e exatidão, 
Noutras, esconde-se nos labirintos da linguagem, 
Mas nunca se perde. 
Ela apenas escolhe outros rumos 
Para alcançar o mesmo horizonte. 
 
A razão não grita, sussurra. 
Não impõe, convida. 
E mesmo quando parece fria, 
Há nela o calor sereno 
De quem busca entender 
Antes de julgar. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sábado, 19 de abril de 2025

Próximo do infinito

Próximo do infinito, longe da imaginação, 
Jaz um amor bonito, em suave combustão. 
Não se mede em tempo, nem se prende à razão, 
É chama que acende no centro do coração. 
 
Nas bordas do cosmos, onde o silêncio é canção, 
Ele dança entre estrelas em pura contradição: 
Tão etéreo, tão vasto, sem ter definição, 
Mas pulsa tão forte — é pura conexão. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

Indubitável

Entre tantas belezas, me perdi. 
A flor, o céu, o gesto breve, 
Tudo grita certezas que não sinto mais. 
O que era óbvio, agora dança, 
Feito neblina sobre um lago calmo. 
E eu, que antes caminhava firme, 
Hoje tropeço nas verdades que todos guardam 
Como se fossem pedras eternas. 
Mas talvez… 
Duvidar do indubitável 
Seja só mais uma forma de ver 
A beleza que escapa aos olhos 
Acostumados demais com o claro. 
 
 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

Saber viver

Saber viver os belos momentos 
É uma arte sutil, quase secreta. 
Não se trata de capturá-los, 
Mas de permitir que eles nos atravessem. 
 
A felicidade não se acumula, 
Ela se reconhece 
Como quem encontra sentido 
No voo de um pássaro, 
Na pausa entre duas palavras, 
No silêncio que não pesa. 
 
O tempo é um mestre silencioso: 
Ensina que o agora é tudo o que temos, 
E que os instantes mais belos 
Não se repetem, 
Mas deixam ecos eternos 
Na alma de quem estava realmente lá. 
 
 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sexta-feira, 18 de abril de 2025

Entre circuitos e silêncios

É complicado pensar, 
Nesse elaborado estado de ser
Onde o humano se despede em fragmentos 
E a alma escorrega para dentro de algoritmos. 
 
Somos carne que sonha, 
Mas sonha com máquinas. 
O toque já é cálculo, 
O gesto, instrução. 
 
Robotizados, 
Não por engrenagens, 
Mas por repetições invisíveis 
Que nos moldam como molda o tempo
 As arestas de uma pedra cansada. 
 
E no fundo, ainda resta uma pergunta: 
Será que nos tornamos autômatos 
Porque é mais fácil 
Do que sentir? 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quinta-feira, 17 de abril de 2025

Vestígios em ruínas

Recordar é folhear um livro antigo, 
Cuja capa foi polida pela pressa do presente. 
O passado — tão inteiro quando vivido — 
Hoje é só um eco, 
Trincado pelas mãos da mudança. 
 
Somos ruínas de nós mesmos, 
Reconstruídas com materiais modernos, 
Mas os alicerces… 
Esses rangem com saudade. 
 
A evolução é uma fera gentil e cruel: 
Nos empurra para frente, 
Mas arrasta pelas unhas aquilo que éramos. 
E quando olhamos para trás, 
Já não sabemos 
Se o que vemos é memória ou invenção. 
 
Ser é crescer, 
Mas crescer é esquecer. 
E esquecer, talvez, 
Seja o preço da beleza do agora. 
 
 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quarta-feira, 16 de abril de 2025

Escultor de silêncios

O poeta é um escultor de silêncios. 
Cada palavra é um golpe de cinzel 
Na pedra bruta do pensamento. 
Ele não escreve — revela. 
Retira o excesso, a sobra, o ruído, 
Até que reste apenas o essencial: 
Um verso nu, em equilíbrio com o vazio ao redor. 
 
O escultor vê a forma escondida na rocha. 
O poeta, o sentido oculto no caos da linguagem. 
Ambos trabalham com as mãos sujas de matéria
Um de mármore, outro de metáforas. 
E o que criam é algo que já existia, 
Esperando ser libertado. 
 
Escrever poesia é talhar o vento. 
É dar peso ao que é leve, 
É moldar o instante antes que ele se desfaça. 
É lutar contra o excesso até que reste só o poema, 
Firme como estátua, 
Vivo como sopro. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

terça-feira, 15 de abril de 2025

Tarde silenciosa

O silêncio cai como névoa no quintal, 
Entre sombras alongadas de um sol cansado. 
Cada raio parece sussurrar despedidas 
Às folhas que dançam sem pressa, sem rumo. 
 
Na moldura da janela, o mundo se aquieta 
O tempo escorre em lentos fios de ouro e cinza. 
Há uma saudade que não tem nome, 
Uma ausência que pesa mais que o próprio ar. 
 
Os pássaros calaram seus cantos, 
E até o vento caminha de mansinho, 
Como quem respeita um luto antigo 
Guardado no peito de um tarde silenciosa. 
 
A melancolia, velha amiga sem pressa, 
Senta-se ao meu lado, sem dizer palavra. 
E juntos, partilhamos o vazio 
Como quem bebe um chá morno de lembranças. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 14 de abril de 2025

A lembrança dela

No entardecer, 
A lembrança dela é uma ausência 
Que se acende devagar, 
Como as luzes da cidade, tímidas, 
Sabendo que a noite vai chegar. 
 
Ela aparece no intervalo 
Entre o sol e o escuro, 
No momento exato 
Em que o dia parece cansado demais pra continuar. 
É quando o céu se desfaz em tons frios, 
E o silêncio pesa mais que o próprio tempo. 
 
Penso nela 
Como quem toca um retrato antigo, 
Sabendo que não há retorno, 
Só vestígios. 
 
O vento carrega o nome dela sem voz, 
E cada cor que desaparece do céu 
Me lembra o jeito 
Como ela foi sumindo de mim: 
Devagar, mas para sempre. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

domingo, 13 de abril de 2025

Nas ruas de terra batida

 Na cidade pequena, 
Onde o tempo parecia escorrer devagar 
Como melado no pão, 
A infância era uma festa sem convites 
Bastava abrir o portão. 
Brincávamos descalços, 
Pés sujos e corações limpos, 
Os risos ecoando entre muros baixos 
E janelas sempre abertas. 
 
Tinha bola de meia, 
Tinha pique esconde até a lua subir, 
E um céu tão estrelado 
Que dava vontade de dormir olhando pra cima. 
A rua era nossa
Chão de aventuras, palco de invenções, 
E cada esquina, 
Um universo com regras só nossas. 
 
A felicidade morava ali, sem fazer alarde: 
No cheiro do pão da padaria, 
No som da bicicleta que rangia, 
No quintal com goiabeiras, 
No abraço da avó com cheiro de café. 
 
Éramos reis e rainhas 
De castelos feitos de barro, 
Corajosos diante de monstros 
Que só existiam na imaginação. 
E, mesmo sem saber, éramos completos 
Porque tudo cabia ali: 
O mundo, os sonhos e o agora. 
 
Hoje, tudo parece menor ao voltar 
A rua, a casa, até a árvore. 
Menos o sentimento. 
Esse cresce com a saudade 
Do tempo que se brincava 
Nas ruas de terra batida. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

Desejo no olhar

Fazer amor com desejo no olhar 
É abrir portais de carne 
Com a chave do espírito. 
É quando o olhar roça a pele 
Como um feitiço quente, 
Desenhando promessas em chamas 
Sem dizer uma só palavra. 
 
É o toque que ainda não veio, 
Mas já estremece. 
É a alquimia do querer, 
A magia antiga de dois corpos 
Que se reconhecem como templos — 
E se adoram como deuses. 
 
Ali, entre suspiros e segredos, 
O prazer não é só físico: 
É sagrado, é selvagem, 
É oração em gemido 
E céu desabando no lençol. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sexta-feira, 11 de abril de 2025

Deixar de te amar?

Mesmo que o tempo passe, 
Mesmo que o mundo gire mil vezes, 
A lembrança dos teus olhos 
Ainda me envolve — 
Doce, profunda, feroz. 
 
Fecho os olhos e lá estás: 
Não em corpo, mas em brilho, 
Não em palavras, mas em silêncio, 
Um silêncio que grita teu nome 
Nas madrugadas vazias do meu peito. 
 
Tentei esquecer-te mil vezes, 
Mas como se esquece um pôr do sol? 
Como se apaga da alma 
O que um dia foi luz? 
 
Teu olhar é porto e tempestade, 
É abrigo e vertigem, 
É a linha tênue entre sonho e saudade. 
E eu, que já quis seguir em frente, 
Me vejo parado — preso nesse instante 
Em que teus olhos cruzaram os meus. 
 
Deixar de te amar? 
Talvez um dia. 
Mas antes preciso aprender 
A viver sem tua luz 
E a aceitar a escuridão que resta. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quarta-feira, 9 de abril de 2025

Janelas do ser

Os olhos são janelas, 
Não apenas para o mundo, 
Mas para dentro — 
De quem olha e de quem é olhado. 
 
Há quem veja paisagens, 
E há quem veja almas. 
Há quem repare o reflexo, 
E há quem atravesse o vidro, 
Para tocar o invisível. 
 
Quando um olhar encontra outro, 
E se demora, 
É o ser dizendo ao ser: 
“Eu te vejo além da superfície.” 
 
Não é só o que entra pelos olhos que importa — 
É o que sai deles. 
É a luz, o abismo, o afeto, 
O silêncio que diz: 
“Sou casa aberta para quem ousa entrar.” 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

terça-feira, 8 de abril de 2025

O vento pode ser ameaçador

Nunca é tão real quanto parece ser 
A realidade que se apresenta 
Apenas para os olhos de alguns 
Que nem mesmo tiveram a coragem 
De abri-los para enxergar. 
 
O vento pode ser ameaçador 
Mas você não o vê chegar 
Apenas pode sentir o seu toque 
No rosto que tenta se livrar 
Quando o sonho permanece no coração. 
 
Houve um tempo no tempo 
Bem antigo que não se lembra mais 
Alguém contou um segredo blasfemo 
De algo que não pode mais acontecer 
Por causa da angústia da humanidade. 
 
Foi algo que não posso revelar 
Mas que já passou pelos seus pensamentos 
Quando estava deitado em sua cama 
E olhava para o vazio que existia 
Entre os seus olhos e o teto acima de você. 
 
E nesse momento crucial da sua vida 
Uma fronteira foi atravessada 
Uma linha muito tênue foi rompida 
E o mundo nunca mais foi o mesmo de antes 
Mesmo que você não tenha percebido isso. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 7 de abril de 2025

Podia ser uma canção de amor

 Podia ser uma canção de amor, 
Se o vento soprasse mais devagar, 
Se as palavras não fugissem da boca 
Como pássaros assustados no crepúsculo do luar. 
 
Podia ser verso, refrão e saudade, 
Feito de notas que dançam no ar, 
Um sussurro entre as batidas do peito, 
Um segredo que insiste em cantar. 
 
Podia ser uma canção de amor, 
Se teu nome rimasse com esperança, 
Se o silêncio que deixaste ao partir 
Ainda tivesse melodia para uma dança. 
 
Mas é só eco — doce, doído — 
De algo que quase foi inteiro. 
Podia ser canção... 
E foi apenas um suspiro derradeiro. 
 
 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

domingo, 6 de abril de 2025

Admiração

Teu olhar, um céu sem fim, 
Brilha mais que a própria aurora. 
Cada gesto diz pra mim: 
Essa beleza vive agora. 
 
Teu sorriso, luz serena, 
Inspira o mais lindo poema. 
E se o mundo perde a direção, 
Tu és a mais bela em cena. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense