quarta-feira, 11 de junho de 2025

A ausência revela

A ausência não é o contrário da presença. 
É o que sobra dela. 
Como a marca do corpo no barro, 
Como o eco depois do grito. 
 
Tudo o que amamos, 
Cedo ou tarde, se ausenta, 
E somos forçados a aprender 
A linguagem do que falta. 
 
O tempo, esse escultor invisível, 
Não molda o que vemos, 
Mas o que perdemos. 
Somos feitos tanto de presenças 
Quanto de lacunas. 
 
A ausência revela. 
Mostra o que era essencial 
Sob o véu do hábito. 
Mostra que o outro, 
Mesmo partindo, 
Permanece como espelho 
Do que somos quando amamos. 
 
Sofrer a ausência 
É uma forma de lembrar 
Que já estivemos completos, 
Ou acreditamos estar. 
É a memória recusando-se 
A aceitar a dissolução. 
 
E ainda assim, 
Há algo belo nisso: 
O vazio nos ensina 
A ver com olhos internos, 
A ouvir com o que sobra do silêncio, 
A tocar com o pensamento. 
 
Talvez, no fim, 
Tudo seja ausência. 
O mundo, 
A vida, 
O próprio eu, 
Um intervalo entre dois desconhecidos. 
 
Mas há nobreza 
Em quem sofre a ausência 
Sem perder o gesto de acolher, 
Sem apagar o lume da espera, 
Sem deixar de chamar, 
Mesmo que ninguém responda. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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