A ausência não é o contrário da presença.
É o que sobra dela.
Como a marca do corpo no barro,
Como o eco depois do grito.
Tudo o que amamos,
Cedo ou tarde, se ausenta,
E somos forçados a aprender
A linguagem do que falta.
O tempo, esse escultor invisível,
Não molda o que vemos,
Mas o que perdemos.
Somos feitos tanto de presenças
Quanto de lacunas.
A ausência revela.
Mostra o que era essencial
Sob o véu do hábito.
Mostra que o outro,
Mesmo partindo,
Permanece como espelho
Do que somos quando amamos.
Sofrer a ausência
É uma forma de lembrar
Que já estivemos completos,
Ou acreditamos estar.
É a memória recusando-se
A aceitar a dissolução.
E ainda assim,
Há algo belo nisso:
O vazio nos ensina
A ver com olhos internos,
A ouvir com o que sobra do silêncio,
A tocar com o pensamento.
Talvez, no fim,
Tudo seja ausência.
O mundo,
A vida,
O próprio eu,
Um intervalo entre dois desconhecidos.
Mas há nobreza
Em quem sofre a ausência
Sem perder o gesto de acolher,
Sem apagar o lume da espera,
Sem deixar de chamar,
Mesmo que ninguém responda.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense
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