Estar perdido
É ter o nome arrancado da boca do mundo.
É caminhar sem sombra,
Porque até ela se esqueceu de seguir.
É o corpo intacto e a alma esfolada por dentro.
Perder-se não é ausência de caminho
É excesso de estradas que sangram os pés.
Cada escolha feita com fome vira armadilha.
Quem se perde não desaparece
Apenas deixa de caber no olhar alheio.
É um naufrágio em terra firme,
Com os gritos abafados pela rotina dos outros.
A violência de se estar perdido
não grita — sussurra.
E o sussurro corta mais fundo
Porque ninguém o ouve.
Estar perdido
É carregar um coração espancado pelo tempo,
Um mapa que chora as rotas apagadas,
Um idioma que ninguém mais entende.
Perder-se é morrer de sede no meio da água.
É gritar o próprio nome
Até ele deixar de soar verdadeiro.
É olhar no espelho e não pedir socorro.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense
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