terça-feira, 7 de outubro de 2025

Por dentro, eu te devoro

 Teus sinais me confundem, 
Da cabeça aos pés sou labirinto, 
Errando entre o sim e o talvez 
Que dançam na curva do teu silêncio. 
 
Teu olhar é uma pergunta sem língua, 
Tua boca um presságio de incêndio. 
E eu, que nunca soube decifrar o amor, 
Aprendi a ler tua pele em braile de vertigem. 
 
Cada gesto teu me atravessa, 
Me deixa sem norte, sem nome. 
Mas há em mim uma fome antiga, 
E tu és o banquete 
Que não se oferece — apenas se devora. 
 
Sou fera disfarçada de ternura, 
Bebo-te em goles lentos e desajeitados, 
Como quem tenta conter o infinito 
Numa respiração só. 
 
Por dentro, eu te devoro. 
E nesse ato silencioso e febril, 
Não sei mais se te amo 
Ou se apenas me alimento daquilo que és. 
 
Pois teus sinais, confusos e sagrados, 
São o mapa do meu desassossego, 
E eu sigo, tonto, faminto, 
Até o fundo do teu mistério. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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