domingo, 16 de novembro de 2025

Canto o meu próprio ser

 Eu canto o meu próprio ser 
Como quem afia uma lâmina na própria sombra. 
Cada verso nasce de uma pequena ferida, 
E ainda assim é música, 
A música daquilo que resiste. 
 
Canto porque sou feito de retornos, 
De ecos que ninguém ouviu, 
De tempestades que aprendi a domesticar 
Com as mãos nuas. 
 
E a vida plena de paixão 
Não é um jardim, mas um incêndio lento: 
Uma chama que não pergunta se dói, 
Que apenas cresce, consome, transforma. 
 
Há uma loucura doce 
Em existir com o peito aberto, 
Em permitir que o mundo me atravesse 
Como flecha, como sopro, como rito. 
 
Eu canto o meu próprio ser 
Para lembrar que ainda estou aqui, 
Mesmo quando me perco de mim. 
Canto porque as cicatrizes também têm voz 
E, às vezes, cantam mais alto que a pele. 
 
E se a vida é paixão, 
Que seja excessiva, faminta, inevitável. 
Que eu me reconheça no vermelho das minhas recusas, 
No brilho dos meus abismos, 
No tremor que anuncia que algo em mim renasce. 
 
Eu canto, 
Porque é a única forma de continuar vivo 
Dentro do que me devora. 
 
E, no fim, 
Sou eu que devoro a escuridão 
Para transformá-la em uma canção. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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