domingo, 26 de outubro de 2025

Cinzas de silício

 Os eletrônicos nascem febris, 
Repletos de luz, fome e novidade. 
São criaturas do instante, 
Brilham como relâmpagos 
Num céu de obsolescência. 
 
Têm corpos de metal e silêncio, 
Mas nenhuma alma que suporte a ferrugem do tempo. 
Dez anos — e já se tornam relíquias, 
Ossos digitais em gavetas esquecidas. 
O que neles pulsa é memória prestes a morrer 
Na primeira falta de energia. 
 
Os livros, não. 
Estes respiram devagar, 
Como velhos monges 
Que aprenderam o idioma da paciência. 
Carregam o pó dos séculos 
E o hálito das mãos que os folhearam. 
Suas palavras não brilham — queimam. 
Não piscam — permanecem. 
 
Enquanto o chip se apaga, 
A página acende. 
Enquanto o circuito se parte, 
A frase se multiplica em bocas, vozes, ecos. 
 
O futuro é curto para os eletrônicos, 
Mas o passado é vasto para os livros. 
E quando tudo o que resta for poeira e silêncio, 
Será ainda uma palavra, 
Escrita à sombra de uma vela, 
Quem contará a história 
De tudo o que quis ser eterno 
E durou apenas dez anos. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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