terça-feira, 21 de outubro de 2025

Respirando o ar do fim

 Às vezes, é o mundo que morre, não os mortos. 
Os mortos apenas dormem em silêncio, 
Guardam o fôlego das estrelas 
E o perfume das flores que não murcham. 
Mas o mundo… 
Ah, o mundo sangra em cada esquina esquecida, 
Em cada olhar que desaprendeu a ver o céu. 
 
Às vezes, é o mundo que apodrece de dentro, 
Com suas máquinas que devoram o vento, 
Seus risos ocos, suas promessas sem alma. 
Os mortos, em sua calma, parecem mais vivos, 
Porque ainda recordam o que é ser inteiro. 
 
Talvez a morte verdadeira 
Seja continuar aqui, respirando o ar do fim, 
Caminhando entre ruínas 
Que ainda fingem ser cidades. 
Porque às vezes, só às vezes, 
Os mortos somos nós, 
E o mundo é apenas o túmulo 
Que insiste em se mover. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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