sábado, 14 de junho de 2025

O sentido corrompido

 Há um instante em que o coração se inclina, 
Não mais para o que é puro, 
Mas para o brilho falso 
Daquilo que o mundo chama de conquista. 
 
É quando o sentido se corrompe, 
Como um rio que, ao invés de seguir para o mar, 
Se perde em charcos de vaidade. 
 
Buscamos aplausos, 
Como se o eco de vozes alheias 
Pudesse preencher o vazio que cavamos dentro. 
E confundimos o reflexo com a essência, 
A imagem com o ser, 
O elogio com a verdade. 
 
A vaidade é um espelho sujo, 
Que deforma o que temos de mais humano. 
Faz-nos esquecer que a beleza real 
É feita de silêncios, 
De gestos pequenos, 
De quedas e reconstruções. 
 
Perseguimos uma perfeição ilusória, 
Ignorando que o que nos priva dela 
É justamente a ânsia de parecer perfeitos. 
Quanto mais corremos atrás da máscara, 
Mais nos afastamos do rosto. 
 
O orgulho grita, 
Mas a alma sussurra. 
E no fim, tudo o que sobra 
É um gosto amargo 
De ter amado mais a aparência 
Do que a vida em si. 
 
Quem dera entendêssemos cedo 
Que o valor de um passo verdadeiro 
Vale mais que mil caminhos encenados. 
Que a humildade é a ponte 
E a vaidade, o abismo. 
 
E que a perfeição, se existe, 
Mora apenas no instante 
Em que somos inteiros, 
Mesmo que imperfeitos. 
 
 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

Nenhum comentário:

Postar um comentário