segunda-feira, 16 de junho de 2025

Quando me lembro de mim

Às vezes, no silêncio entre dois passos, 
Um pensamento antigo me alcança. 
Não vem como relâmpago, 
Vem como brisa que atravessa 
Janelas mal fechadas, 
Trazendo o cheiro da infância 
Ou o gosto de uma esperança esquecida. 
 
É nesses instantes que me lembro de mim. 
Não do nome, 
Não da profissão, 
Mas daquele que sonhava escondido no quintal 
Com mundos impossíveis, 
Com vozes que o mundo ainda não escutava. 
 
Há lembranças que não são imagens, 
São sensações: 
A vertigem antes da escolha, 
O calor do primeiro erro, 
O silêncio após a última palavra não dita. 
 
E então percebo: 
Sou feito desses fragmentos, 
Do menino que desejava voar, 
Do jovem que não temia o escuro, 
Do adulto que ainda procura abrigo em versos. 
 
Cada pensamento que volta 
É um espelho sem moldura, 
Onde enxergo não só o que fui, 
Mas o que continuo sendo, 
Mesmo quando esqueço. 
 
Porque no fundo, 
Somos memória viva, 
Feito páginas escritas a lápis, 
Onde o tempo tenta apagar, 
Mas o coração insiste em reler. 
 
E quando me lembro de mim, 
Não é passado que retorna, 
É a raiz que me sustenta, 
O fio invisível que me costura 
E me permite continuar sendo 
Mesmo entre tantas versões. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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