Às vezes, no silêncio entre dois passos,
Um pensamento antigo me alcança.
Não vem como relâmpago,
Vem como brisa que atravessa
Janelas mal fechadas,
Trazendo o cheiro da infância
Ou o gosto de uma esperança esquecida.
É nesses instantes que me lembro de mim.
Não do nome,
Não da profissão,
Mas daquele que sonhava escondido no quintal
Com mundos impossíveis,
Com vozes que o mundo ainda não escutava.
Há lembranças que não são imagens,
São sensações:
A vertigem antes da escolha,
O calor do primeiro erro,
O silêncio após a última palavra não dita.
E então percebo:
Sou feito desses fragmentos,
Do menino que desejava voar,
Do jovem que não temia o escuro,
Do adulto que ainda procura abrigo em versos.
Cada pensamento que volta
É um espelho sem moldura,
Onde enxergo não só o que fui,
Mas o que continuo sendo,
Mesmo quando esqueço.
Porque no fundo,
Somos memória viva,
Feito páginas escritas a lápis,
Onde o tempo tenta apagar,
Mas o coração insiste em reler.
E quando me lembro de mim,
Não é passado que retorna,
É a raiz que me sustenta,
O fio invisível que me costura
E me permite continuar sendo
Mesmo entre tantas versões.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense
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