Há um silêncio que range
Entre os dentes das engrenagens,
Como se a vida mastigasse devagar os instantes.
Não é ausência de som,
Mas uma pausa suspensa
Entre um suspiro e outro do mundo.
Enquanto a máquina da existência hesita,
O silêncio mora nos intervalos,
Feito semente no asfalto,
Sonhando com raízes
Que rompem a precisão do ferro.
O barulho do mundo é constante,
Mas é no quase ruído que nos revelamos,
Somos mais do que movimento:
Somos espera, falha, vertigem.
Entre o tic e o tac,
Há uma eternidade calada.
Ali, o coração se pergunta:
Isso é vida, ou apenas o hábito de continuar?
O silêncio nas engrenagens
Não é defeito,
É memória, é escuta,
É a alma da máquina que por um instante
Lembra que também já foi humana.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense
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