segunda-feira, 9 de junho de 2025

O silêncio nas engrenagens

Há um silêncio que range 
Entre os dentes das engrenagens, 
Como se a vida mastigasse devagar os instantes. 
Não é ausência de som, 
Mas uma pausa suspensa 
Entre um suspiro e outro do mundo. 
 
Enquanto a máquina da existência hesita, 
O silêncio mora nos intervalos, 
Feito semente no asfalto, 
Sonhando com raízes 
Que rompem a precisão do ferro. 
 
O barulho do mundo é constante, 
Mas é no quase ruído que nos revelamos, 
Somos mais do que movimento: 
Somos espera, falha, vertigem. 
 
Entre o tic e o tac, 
Há uma eternidade calada. 
Ali, o coração se pergunta: 
Isso é vida, ou apenas o hábito de continuar? 
 
O silêncio nas engrenagens 
Não é defeito, 
É memória, é escuta, 
É a alma da máquina que por um instante 
Lembra que também já foi humana. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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