quinta-feira, 5 de junho de 2025

Não sei dizer adeus

 Há partidas que se impõem como o outono: 
Sabemos que virão, mas não sabemos 
Como arrancar as folhas do peito 
Sem sangrar raízes. 
 
Dizer adeus é desenhar com a voz 
O fim de uma casa que ainda mora em nós. 
E eu, tropeçando em sílabas, 
Prefiro o silêncio, 
Ele também chora, 
Mas ninguém percebe. 
 
Você partiu antes que eu aprendesse 
A conjugar o verbo deixar. 
Fiquei com a língua presa 
No passado imperfeito. 
 
Mesmo sabendo que o tempo exige esse adeus, 
Meus gestos ainda guardam portas entreabertas. 
Como se um retorno 
Fosse menos impossível que te esquecer. 
 
Não sei dizer adeus. 
Só sei calar devagar, 
Como quem fecha os olhos 
Esperando que o mundo volte a ser sonho. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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