sexta-feira, 30 de maio de 2025

Decadência

Caminho entre destroços de mim 
Com o porte de um desfile. 
O tempo mastigou meus dias 
Com dentes de ouro falso, 
Mas ainda piso firme 
Como quem crê na eternidade de um salto alto. 
 
Meus bolsos estão cheios 
De cinzas, Bilhetes antigos, 
E gargalhadas mal lembradas 
Mas faço deles um estojo 
Para a última faísca de beleza. 
 
O espelho me olha com pena, 
Mas eu retribuo com pose. 
A decadência me veste como um alfaiate fiel: 
Encaixe perfeito nas costuras da desilusão. 
 
As paredes do meu quarto 
Descascaram com charme. 
Até os cupins parecem artistas, 
Esculpindo arabescos nas vigas 
Do que restou de mim. 
 
Já não espero visitas, 
Mas deixo as velas acesas. 
Não por esperança, 
Mas por vaidade. 
 
E se perguntarem se sofri, 
Direi que sim 
Mas sofri como se dança um tango: 
Coluna ereta, olhos fechados, 
E um perfume 
Que disfarça qualquer desmoronamento. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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