sábado, 24 de maio de 2025

O esconderijo da infância

 Toda a existência, pesada como chumbo, 
Perde o fôlego e o nome 
Quando tropeçamos no esconderijo da infância 
Onde o tempo ainda brinca descalço 
E os medos dormem de barriga cheia. 
 
O mundo inteiro pesa até doer os ombros, 
Mas se desfaz em poeira dourada 
Quando abrimos a porta esquecida 
Do quintal onde enterramos nossos segredos. 
 
A angústia da vida adulta se cala 
No instante em que o vento nos leva 
De volta àquela árvore torta, 
Onde juramos ser eternos. 
 
Quando reencontramos 
O esconderijo da infância, 
Tudo o que parecia urgente 
Se dobra, em silêncio, 
Como roupas guardadas por uma avó ausente. 
 
A existência sufoca como neblina espessa, 
Mas se dissipa 
No instante em que ouvimos, de novo, 
A risada que fomos um dia. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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