A ideia é soprada nos meus ouvidos,
Não sei se é sonho ou lembrança,
Mas queima.
Vem leve como brisa de outono,
Mas carrega o peso de séculos calados.
Escrevo.
Com dedos trêmulos, risco o papel
Como quem decifra sombras.
Talvez seja só imaginação
Ou talvez o eco de um grito
Que a história abafou em seus porões.
Ouço vozes sem rosto,
Vozes que se agarram à minha pele,
Que sussurram nomes,
Datas,
Lugares que ninguém mais visita.
São os esquecidos.
Os que morreram com os olhos abertos,
Os que tiveram a boca selada,
Os que arderam em fogueiras sem chamas,
Os que dançaram em silêncio
Nos corredores da loucura.
Eles me usam como papel.
Minha carne é página,
Meu sangue, tinta,
Meu medo, trilha sonora.
Não sou autor — sou canal.
Não crio — evoco.
Não escrevo — exorcizo.
E a cada linha,
Um segredo se liberta,
Uma cicatriz se abre,
Um tempo se dobra.
A ideia não é minha
Vem do vento,
Vem das frestas,
Vem de um tempo que não vivi.
Escrevo como quem traduz
O sussurro dos que não puderam falar.
Escrevo, sim.
Mas não por escolha.
Escrevo porque se não o fizer,
As vozes não me deixarão dormir.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense
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