terça-feira, 2 de setembro de 2025

Um coração indeciso

Um coração indeciso 
É lâmina em chamas, 
Fere quem toca 
E queima quem espera. 
 
Promete horizontes 
Com voz de brisa, 
Mas deixa apenas 
Cacos de tempestade. 
 
Ele não ama, 
Coleciona ausências, 
E no fim repousa 
No abismo que construiu. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Mistérios

 Não é sobre entender. 
É sobre permitir que o mistério te abrace 
Como o vento que toca o rosto 
Sem jamais explicar de onde vem. 
 
Há coisas que não se decifram, 
Se habitam. 
O desconhecido não exige lógica, 
Pede silêncio e coração aberto. 
 
Entender é erguer muros de palavras. 
Sentir é deixar o mundo atravessar. 
E o mistério... 
Ele floresce no espaço entre uma dúvida e um suspiro. 
 
Não busque luz para o enigma. 
Deixe-o escuro, tateável, vivo. 
Algumas verdades se dizem 
Com a pele, não com a razão. 
 
O desconhecido não foi feito para ser desvendado, 
Mas para ser dançado. 
É música sem partitura, 
E sentir é a única forma de saber que ela está ali. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

domingo, 31 de agosto de 2025

O que é o amor hoje?

 Me apaixono por você todos os dias, 
Como quem reencontra um poema antigo 
E percebe que nunca o leu direito. 
 
O amor por você não é um relâmpago, 
É o sol que insiste — mesmo em dias nublados. 
E todo amanhecer é um recomeço: 
Te descubro de novo, 
Como se a noite tivesse te reinventado. 
 
Você é a mesma, 
Mas meus olhos mudam. 
E é por isso que te amo de formas inéditas, 
Com memórias recém-nascidas. 
 
Amar você diariamente 
É como beber da mesma taça, 
Mas o vinho nunca tem o mesmo gosto. 
A safra do sentimento amadurece em silêncio. 
 
Cada vez que olho para você, 
Uma versão nova de mim 
Se inclina para dizer: 
"Então é isso que é o amor hoje?" 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sábado, 30 de agosto de 2025

A beleza da poesia

 A poesia é o sopro invisível que acaricia a alma, 
Um espelho delicado 
Onde nossos silêncios se reconhecem. 
 
Ela é ponte entre o indizível e o vivido, 
Guarda-chuva contra a chuva das dores, 
Sol nascente nos dias em que a esperança parece se pôr. 
 
Na poesia, a alma encontra refúgio e voo, 
Raízes e asas, 
Luz e sombra entrelaçadas em ritmo. 
 
É a beleza que não precisa ser compreendida, 
Basta ser sentida. 
 
Porque quando as palavras dançam como vento na pele, 
A alma descansa e se renova, 
Sabendo que a beleza da vida está também 
Naquilo que nunca conseguimos dizer por inteiro. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

As maravilhas do mundo moderno

 O homem levantou torres de vidro, 
Que tocam o céu com dedos de aço, 
E nelas acendeu constelações elétricas 
Para não esquecer que ainda sonha. 
 
Inventou caminhos invisíveis, 
Feitos de ondas que atravessam o ar, 
Para que vozes viajassem mais rápido 
Que os próprios ventos. 
 
Domou a distância com trilhos e asas, 
Riscando mapas que não cabem na pele da Terra, 
E lançou foguetes para além da noite, 
Como quem pede respostas às estrelas. 
 
Prolongou a vida com ciência, 
Costurou feridas com luz e bisturi, 
Mas ainda busca no silêncio dos corredores 
A cura para a solidão. 
 
E mesmo entre máquinas que pensam, 
Olhos que veem o invisível, 
Mãos que constroem o impossível, 
Há uma maravilha maior: 
A poesia que insiste em lembrar 
Que somos humanos. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Última Confissão

Se você estiver lendo isso… 
É porque eu finalmente parei de lutar. 
Cansei. 
Cansei de fingir que posso te esquecer, 
Que posso caminhar para longe de você 
Sem carregar o gosto do seu nome preso na garganta. 
 
Passei noites inteiras com os olhos abertos, 
Te desenhando nas paredes da minha mente, 
Tentando arrancar cada pedaço seu 
Que ficou cravado em mim 
Como ferrugem nas costelas. 
 
Mas quanto mais eu lutava, 
Mais fundo você entrava. 
Como se fosse feito de raízes, 
Me sufocando de dentro pra fora. 
 
A verdade é que eu não te amo 
Como as pessoas amam nas músicas. 
Não tem beleza nisso. 
Tem desespero. 
Tem febre. 
Tem essa maldita sensação de vertigem, 
Como se o chão abrisse 
Toda vez que eu lembrasse do som da sua voz. 
 
Então hoje… 
Eu desisto. 
Desisto de fingir que sou forte, 
Que sou inteiro, 
Que sou qualquer coisa além de alguém arruinado por você. 
 
Se houver alguma justiça nesse mundo, 
Depois de tudo isso, 
O universo vai me conceder o direito de te esquecer. 
Nem que seja por um minuto. 
Um minuto de paz… 
Antes de tudo recomeçar. 
 
Adeus. 
Ou pelo menos… a tentativa de um adeus. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

O brado no Ipiranga

Independência não foi um grito apenas, 
Foi um rio que se recusou a ser lago, 
Uma seiva que rompeu o tronco seco 
Para florir em outra direção. 
 
Ser independente é carregar cicatrizes, 
Pois a liberdade nunca chega sem dor. 
O Brasil nasceu entre correntes quebradas 
E sonhos ainda acorrentados. 
 
O Ipiranga ecoa até hoje, 
Não no brado de um príncipe, 
Mas no murmúrio do povo 
Que ainda aprende a dizer "somos". 
 
Independência é mais que fronteira, 
É a coragem de existir com voz própria, 
Mesmo quando essa voz treme, 
Mesmo quando o silêncio pesa. 
 
O Brasil não se fez livre de um só golpe, 
Mas de cada gesto, cada memória, 
De cada mão que se ergueu 
Para escrever sua história 
Com sangue, suor e esperança. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

terça-feira, 26 de agosto de 2025

Delírio

Meu corpo te chama 
Mesmo quando minha mente suplica por trégua. 
Você é o calor nas minhas veias, 
O enjoo no fundo do estômago, 
O suor frio que escorre pela nuca 
Quando tento pensar em qualquer coisa que não seja você. 
 
Minhas mãos tremem, 
Meus dentes rangem durante a noite, 
Meus olhos ardem de tanto te imaginar 
Quando fecho as pálpebras, 
Como se fosse possível te apagar assim. 
Não é. 
 
Você está nas paredes, 
No teto, 
Na sombra do meu próprio reflexo. 
Sua ausência é um grito constante dentro da minha cabeça, 
E sua lembrança… 
É uma lâmina arranhando a parte de dentro do meu peito. 
 
Já não como. 
Já não durmo. 
Meu corpo queima em febres que não têm cura. 
Chamo o seu nome com a voz rouca de tanto falar. 
 
E mesmo sabendo que isso me mata aos poucos, 
Eu continuo. 
Eu rastejo até você, 
Feito um animal ferido, 
Com fome, com medo, 
Com desejo. 
 
Amar você… 
É a pior doença que já me aconteceu. 
E, ainda assim, 
Se um dia eu me curar, 
Sei que vou implorar por recaída. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Um fio estendido no vento

 A existência é um fio estendido no vento: 
Frágil e, ao mesmo tempo, resistente. 
Cada um de nós caminha sobre ele, 
Como viajantes de um destino 
Que se constrói passo a passo. 
 
Há dias em que a vida parece um enigma 
Uma pergunta sem resposta clara. 
Outros dias, ela se revela no gesto simples: 
O sorriso inesperado, 
A mão que se estende, 
O silêncio que acolhe. 
 
O sentido da vida 
Talvez não esteja em grandes revelações, 
Mas no modo como tocamos o mundo 
E deixamos o mundo nos tocar. 
Não é tanto chegar ao fim do caminho, 
Mas sentir a terra sob os pés, 
Respirar o instante 
E compreender que cada momento já é um milagre. 
 
Viver é um constante nascer 
E morrer dentro de nós mesmos: 
Morrem os medos, nascem as esperanças, 
Morrem as certezas, nascem as perguntas, 
E nesse ciclo aprendemos a ser mais humanos. 
 
No fim, 
A jornada não é sobre encontrar uma resposta, 
Mas sobre tornar-se resposta para alguém, 
Sobre deixar rastros de ternura, 
Sobre compreender 
Que o infinito habita dentro de nós. 
 
 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

domingo, 24 de agosto de 2025

Minha alma se curva

 É um querer que arde por dentro, 
Um chamado da pele à tua pele, 
Da boca à tua boca, 
Da sede à tua fonte. 
 
Deliciar-me em teus carinhos 
É naufragar sem medo, 
É ceder ao abismo de teus lábios, 
É perder-me no labirinto úmido 
Que tua pele me oferece. 
 
Teus toques são lâminas quentes 
Rasgando o véu da razão, 
E em cada gesto teu 
Minha carne se acende, 
Minha alma se curva. 
 
Não peço ternura, 
Exijo intensidade: 
Quero que teus carinhos 
Me devorem, 
Me sufoquem, 
Me façam renascer 
Num corpo que só existe 
Quando é tocado pelo teu. 
 
 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sábado, 23 de agosto de 2025

Recusa

 Uma noite eu sonhei com você, 
E no sonho havia ternura, 
Havia o impossível transformado em gesto, 
Havia nós dois sem medo algum. 
 
Mas despertei, 
E a realidade me cortou como lâmina fria. 
Você não quis viver comigo o que sonhei, 
Preferiu esconder-se nas paredes da distância. 
 
A perda então ganhou um nome: 
Não foi morte, 
Não foi partida, 
Foi recusa. 
 
E não há dor maior 
Do que desejar o infinito com alguém 
Que não quis nem sequer 
O começo. 
 
 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

Um dia eu quis você

 Um dia eu quis você, 
Mas o silêncio foi maior que o gesto. 
Havia em seus olhos um esconderijo, 
Uma porta fechada para o meu abraço. 
 
O sentimento de perda não é ausência, 
É presença que nunca se cumpriu, 
É o eco de um encontro que não aconteceu, 
É a sombra de um toque que ficou suspenso no ar. 
 
Perder não é deixar de ter, 
É carregar a ausência como se fosse peso, 
É caminhar com a lembrança 
De algo que nunca chegou a nascer. 
 
Um dia eu quis você, 
E o tempo me mostrou 
Que há dores que não sangram, 
Mas permanecem em silêncio, 
Como cartas que nunca foram abertas. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Sob a pele

É como respirar vidro. 
Como engolir água escura 
E sentir os pulmões queimando, 
Implorando por ar 
Enquanto o seu nome pesa no meu peito 
Feito pedra. 
 
Meu corpo treme. 
A pele arde como se você estivesse por dentro, 
Rasgando cada nervo, 
Cada pedaço que eu tentei proteger de você. 
 
Minhas mãos suam, 
Minha boca seca, 
Minha cabeça gira 
Como se o chão tivesse desaparecido. 
E ainda assim… 
Eu te procuro. 
No meio do caos, no meio da falta de ar, 
Eu te procuro. 
 
Você é a febre que não passa, 
A vertigem que me derruba, 
O veneno que eu bebo sabendo o fim. 
 
Já tentei correr, 
Já tentei me esconder em outros corpos, 
Outros abraços, 
Outros cheiros. 
 
Inútil. 
Tudo em mim grita o seu nome. 
 
Amar você não é um ato de escolha. 
É um colapso inevitável. 
É a falha final do meu instinto de sobrevivência. 
 
E mesmo com o coração estilhaçado, 
Mesmo sabendo que estou afundando, 
Eu abro os braços para te receber. 
 
Porque no fim, 
A dor de te querer 
É menos insuportável 
Do que a ideia de te perder. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Sobre as desigualdades

Desigualdades 
São como rachaduras no chão por onde caminhamos: 
Alguns andam descalços sobre pedras afiadas, 
Outros deslizam com sapatos de seda. 
As desigualdades nos atravessam como ventos frios, 
Uns se abrigam em palácios, 
Outros se encolhem sob a ponte. 
 
No cotidiano, o pão falta em uma mesa, 
Enquanto sobra e se perde em outra. 
As lágrimas de uns viram silêncio, 
As dores de outros 
Se escondem atrás de cortinas de luxo. 
A vida sofrida caminha ao lado da pressa, 
Vende doces no sinal fechado, 
Carrega tijolos que nunca serão sua casa, 
Enquanto olhos distraídos fingem não ver. 
 
O cotidiano é um palco de contrastes: 
Risos de cristal soam em salões iluminados, 
Ao mesmo tempo em que choros abafados 
Ecoam em quartos escuros sem janela. 
A vida sofrida pulsa nos becos, 
Nas mãos calejadas que carregam o peso do mundo, 
Nos olhos que sonham com um amanhã menos árido. 
 
E ainda assim, no meio do peso, 
Nasce uma teimosia de esperança: 
A criança que desenha o sol no caderno gasto, 
A mulher que inventa beleza com pouco, 
O homem que partilha o pão escasso. 
 
Apesar do fardo, 
Há quem floresça na margem: 
Um sorriso que resiste, 
Um gesto de partilha, 
Um sopro de esperança que insiste 
Em dizer que a vida pode ser justa, 
Mesmo quando o mundo não é. 
 
A dor é real, mas também o sonho. 
E é nele que se acende a chama 
De um amanhã que insiste em chegar. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Inescapável

Eu jurei que não. 
Gritei para dentro de mim 
Mil vezes: NÃO! 
 
Fechei os olhos, 
Arranquei seus rastros dos meus pensamentos, 
Rasguei lembranças, 
Afoguei vontades. 
 
Mas você… 
Você continuava ali. 
Na curva da minha respiração, 
No intervalo entre um batimento e outro, 
Na parte mais escura dos meus sonhos. 
 
Quanto mais eu lutava, 
Mais você crescia em mim 
Feito febre, 
Feito praga, 
Feito tudo aquilo que destrói devagar. 
 
E agora estou aqui, 
Esgotado, vencido, 
Com as mãos tremendo de tanto resistir. 
Amar você não é uma escolha, 
É um incêndio que me consome inteiro 
Enquanto eu grito, 
Sabendo que ninguém vai me ouvir. 
 
Porque no fundo… 
Talvez eu nunca quisesse fugir de verdade. 
Talvez eu sempre soubesse 
Que esse amor é a minha perdição. 
E mesmo assim… 
Eu corro para ela. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense