domingo, 30 de março de 2025

Quando me olhas

Nos teus olhos, vejo mais do que luz— 
Vejo o céu inteiro, vejo a minha alma. 
O brilho que dança na tua íris 
Não é só reflexo, é entrega, é chama. 
 
Quando me olhas, o tempo se dobra, 
O mundo se cala, o amor se revela. 
Sou um rio que corre para teu brilho, 
Um verso perdido na tua aquarela. 
 
Se o amor tem forma, se o amor tem cor, 
Ele mora no reflexo que vem de ti. 
Pois quando me vejo nos teus olhos, 
Descubro que sempre estive ali. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sábado, 29 de março de 2025

O homem eterno

O homem eterno 
É um eco do infinito, 
Um sopro de luz 
Aprisionado no cárcere da carne. 
Sua alma, imortal e errante, 
Veste-se de tempo 
E esquece-se do seu verdadeiro nome. 
 
Cada batida do coração 
É um chamado para o alto, 
Um lamento silencioso 
Da eternidade que habita o transitório. 
 
Os ossos são grades, 
A pele é véu, 
E os olhos, ainda que janelas, 
Mal vislumbram 
A vastidão que os aguarda 
Além do horizonte do corpo. 
 
O homem eterno sonha com asas, 
Mas anda com pés de barro. 
Busca na matéria a centelha do divino 
E, ao encontrá-la, 
Percebe que ela 
Sempre ardeu dentro de si. 
 
Na despedida da carne, 
Ele se reencontra. 
O cárcere se desfaz, 
E a alma, enfim livre, 
Retorna à melodia do cosmos, 
Onde nunca deixou de estar. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

O rei amaldiçoado e o homem só

O rei amaldiçoado 
Veste sua coroa de espinhos invisíveis, 
Cada joia um peso de mil lamentos. 
O trono que ergueu com glórias passadas 
Agora é um cárcere de ouro frio, 
Onde os ecos de antigos juramentos 
Se tornam espectros a assombrá-lo. 
 
E o homem só, 
Errante entre os campos do destino, 
Caminha sob luas indiferentes. 
Sem coroa, sem trono, 
Carrega apenas o silêncio como cetro 
E a liberdade como fardo. 
Pois há prisões no poder 
E há prisões na solidão — 
Mas qual delas é a mais cruel? 
 
 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sexta-feira, 28 de março de 2025

A chegada

Chegaste de forma singela 
Quase não a percebi 
Mas ali estava tu 
A imagem da beleza sútil 
Que dominou minha insensatez. 
 
O dia nem lembro como era 
Porque o tempo parou 
Tudo que consegui perceber 
Foi a singeleza do seu olhar 
O encanto que inebriou-me. 
 
Tudo era solidão 
Perto de mim o medo inconsciente 
A ilusão de amores perdidos 
E o amargo pesadelo 
De outra vez me apaixonar. 
 
Mas não havia nada a ser feito 
Nada que eu pudesse fazer 
Senão curvar-me diante de ti 
Deusa da minha imaginação 
O amor que sonhei a vida toda. 
 
E você chegou assim 
Quando eu menos esperava 
Você sorriu para mim 
E isso fez toda diferença na minha vida 
E preencheu o meu coração. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quarta-feira, 26 de março de 2025

O paradoxo da urgência

Corremos, corremos, sem pausa ou porquê, 
Mas nunca nos perguntamos: corremos pra quê? 
O tempo escorrega entre dedos aflitos, 
E os dias se perdem em passos restritos. 
 
O agora sufoca, o amanhã nos consome, 
O relógio nos grita, nos cobra, e some. 
A pressa é constante, o destino é nublado, 
Um ciclo infinito, um rumo apressado. 
 
Queremos o topo, queremos o mais, 
Mas quando chegamos, queremos a paz. 
A paz que deixamos, perdida na estrada, 
Trocada por metas, e uma agenda lotada. 
 
Se o tempo é dinheiro e a pressa é um vício, 
Quem dita o preço desse sacrifício? 
Se o fim é incerto e a pressa um engano, 
Por que não sermos um pouco mais humano? 
 
Então eu te pergunto, em meio a essa corrida: 
Que tal desacelerar e sentir um pouco a vida? 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

terça-feira, 25 de março de 2025

Entre os cacos

Num mundo que corre, sem pausa, sem freio, 
Onde a pressa devora até mesmo o anseio, 
Ousar perguntar é quase um perigo, 
Um ato rebelde, um salto ao abismo. 
 
O ruído se ergue em muralha espessa, 
Atropela verdades, dilui a promessa. 
Mas quando o eco se faz insuportável, 
O silêncio se ergue, firme, incontestável. 
 
E quando as certezas caem por terra, 
Feito vidro partido no chão da espera, 
O pensamento, descalço, caminha entre os cacos, 
Tateando o novo em meio aos destroços. 
 
Pois só quem se perde entre mil incertezas 
Descobre que a dúvida é sua fortaleza. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

domingo, 23 de março de 2025

Justiça

 A justiça veste um véu que o vento descobre, 
Mas seus olhos, cegos, ainda hesitam. 
Vem a cavalo, dizem, mas tropeça em pedras 
Que a injustiça semeia pelo caminho. 
 
Nos tribunais, a balança inclina-se, 
Não pelo peso da verdade, 
Mas pelo ouro que lhe é posto na mão. 
As palavras da lei são frias, 
Mas o que buscamos é fogo,
Justiça que arde, que pulsa, que vive. 
 
Anoitece, e as sombras sussurram 
O que ninguém ousa explicar. 
Não há justiça na casa da justiça, 
Pois ali, a verdade é só um eco distante, 
Perdido entre os corredores do poder. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

Simplicidade

A flor desabrocha sem perguntas, 
O rio corre sem dúvida, 
Mas nós — ah, nós — 
Carregamos o peso do porquê 
E esquecemos de apenas ser. 
 
Talvez a simplicidade 
Seja aceitar o instante, 
Permitir-se fluir, 
Como a brisa que não teme o amanhã. 
 
 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

O paradoxo da existência

Há uma voz que ecoa no silêncio, 
Grita nas sombras, mas ninguém a escuta. 
É o canto da verdade amarga, 
O lamento dos invisíveis, 
O verbo esquecido antes de ser dito. 
 
O poeta vê o tempo ao contrário, 
Sente o amanhã como quem lê as veias do vento. 
Cada palavra escrita é um destino moldado, 
E no caos da metáfora, 
Um mundo nasce antes de existir. 
 
O fim não tem pressa, 
Não se dobra aos caprichos da vontade. 
Mesmo quando enterramos as memórias, 
Elas florescem sob a terra, 
Teimando em ser eternas. 
 
O vento sopra e sopra outra vez, 
Como um sonho inalado pelo divino. 
Seus dedos invisíveis tocam a pele do mundo, 
Viciados em movimento, 
Inebriados pela dança do eterno. 
 
A simplicidade de existir é um paradoxo: 
Tão leve quanto o vento que dança, 
Tão densa quanto o silêncio que pesa. 
Ser é um ato tão natural quanto respirar, 
Mas a consciência nos enreda em labirintos 
Onde buscamos significados 
Para aquilo que já é inteiro. 
 
 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sexta-feira, 21 de março de 2025

A chaga oculta

No silêncio das sombras frias, 
Tece-se o fio da traição. 
Mãos que juraram justiça, 
Vendem-se ao ouro da ilusão. 
 
Sonhos se tornam ruínas, 
Honra se perde no mar, 
Onde moedas afundam consciências, 
E a verdade deixa de brilhar. 
 
Cada pacto selado no escuro 
Rouba o pão de quem tem fome. 
Cada mentira bem dita 
Apaga histórias, apaga nomes. 
 
Mas o tempo, senhor do destino, 
Sabe pesar cada ação. 
A justiça pode ser lenta, 
Mas sempre encontra a razão. 
 
E quando as máscaras caírem, 
E o véu da farsa ruir, 
O que restará dos corruptos, 
Senão o eterno exílio do porvir? 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quinta-feira, 20 de março de 2025

O que é poesia?

Poesia é vento que dança no ar, 
É onda que vem sem avisar, 
É riso e lágrima, luz e luar, 
É tudo e nada num só respirar. 
 
É voz do silêncio, som do sentir, 
É chama que arde sem se exibir, 
É traço invisível, eterno a insistir, 
É o mundo inteiro num breve existir. 
 
É pássaro livre, é sonho acordado, 
É tempo suspenso num verso bordado, 
É rima que embala, é dor que conforta, 
É porta entreaberta para outra porta. 
 
Poesia é vida que pulsa no peito, 
É alma despida, sem medo, sem jeito, 
É arte, mistério, encanto e magia... 
A poesia? Ah... a poesia! 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quarta-feira, 19 de março de 2025

É veneno o teu encanto

 Teu olhar, centelha ardente, 
Queima a alma, prende a mente, 
Num feitiço tão sutil, 
Que vicia, é doce, é vil. 
 
Teu toque, brisa envenenada, 
Suave, leve, enlaçada, 
Entre beijos e meu egoísmo, 
Deixo-me cair no abismo. 
 
E se é veneno o teu encanto, 
Bebo a taça sem espanto, 
Pois morrer de amor assim, 
É um destino bom pra mim. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

terça-feira, 18 de março de 2025

Últimas palavras de amor

As últimas palavras deste amor 
E você vai ter que ouvir. 
Não são súplicas, nem promessas, 
Nem mesmo versos tentando te iludir. 
 
São restos de tudo que um dia fomos, 
O infinito eco do que já sonhamos, 
Nas noites em claro, os sonhos 
De tudo que não realizamos. 
 
Você vai ter que ouvir 
O silêncio gritando entre nós, 
As memórias que dançam no escuro, 
O peso do adeus em minha voz. 
 
Não vou pedir que volte, 
Nem fingir que ainda há solução. 
Mas antes de tudo acabar, 
Deixa-me dar o meu perdão. 
 
Pois mesmo que o tempo não apague, 
Mesmo que o vento sopre e termine a dor, 
As últimas palavras do coração 
Serão sempre: "Vá em paz, meu amor!" 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

domingo, 16 de março de 2025

Jeitinho de menina

Tem um riso solto, um olhar de encanto, 
Corre descalça sentindo o vento, 
Traz no peito um mundo vasto, 
E nos olhos, estrelas ao relento. 
 
Jeitinho de menina, doce e ligeira, 
Brinca com a vida sem medo de errar, 
Mas guarda segredos na alma inteira, 
Gosto de mulher que sabe amar. 
 
É tempestade, é brisa serena, 
Delicadeza que arde em brasas, 
Um sopro de flor, um fogo que acena, 
Caminha firme sem perder as asas. 
 
 Jeitinho de menina, sonhos no peito, 
Gosto de mulher que sabe o que quer, 
Faz do impossível um rumo perfeito, 
Mistério e força em um só viver. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

O dia que decidires me beijar

O dia que decidires me beijar, 
O tempo, com certeza, há de parar no ar. 
As horas perderão seu compasso, 
E o mundo caberá em um único abraço. 
 
O vento há de sussurrar em desatino, 
Contando às folhas o nosso feliz destino. 
O sol hesitará no horizonte distante, 
Com medo de apagar esse mágico instante. 
 
Será um beijo de primavera, 
Cheiro de flor, gosto de espera? 
Ou será brisa de verão, 
Febril, ardente, furacão? 
 
Talvez venha feito outono, 
Suave, num toque sem dono. 
Ou como inverno, tímido e frio, 
Mas quente no meio ao provocar arrepio. 
 
E quando enfim me beijares, 
Não haverá mais talvez. 
Só o instante em que os lábios se encontram 
E tudo recomeça outra vez. 
 
 Poema: Odair José, Poeta Cacerense