Mas às vezes ela é só o início de um silêncio
Tão profundo
Que nele podemos finalmente ouvir
A nossa própria respiração:
Um testemunho frágil
De que ainda estamos aqui.
E encontrar fé na extinção das crenças
É como recolher brasas de um incêndio extinto.
Não é a chama que retorna,
Mas o calor que sobrou,
Aquele calor teimoso, quase invisível,
Que nos lembra que algo já ardeu em nós
E pode arder de novo.
Porque a fé, quando resta sozinha,
Sem nome, sem rito, sem moradia,
Vira apenas um impulso de continuar:
Um movimento mínimo
Que o mundo não percebe,
Mas que mantém o peito aberto
Ao que ainda pode nascer
Do meio do nada.
Existir assim — achar-se na perda,
É como ser um farol esquecido numa costa morta,
Que ainda insiste em girar sua luz
Mesmo quando não há mais navios,
Nem mar,
Nem olhos atentos ao brilho.
Talvez existir seja isso:
Ser achado justamente onde nos perdemos,
Carregar uma centelha
Quando todo o resto virou cinza,
E caminhar sabendo que,
Mesmo que as crenças morram,
O desejo de sentido não morre nunca.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense














