Não pede licença.
Chega correndo, arranhando as paredes da mente,
Uivando para que o poeta a escute.
Ela exige passagem.
Empurra portas, derruba certezas,
Atravessa fronteiras
Que o próprio poeta desconhecia.
Ele tenta segurá-la — mas ela escapa,
Indomável, sacudindo símbolos, memórias,
Vozes que nunca existiram.
É um animal feito de sombra e luz.
Quando quer, sussurra ternura.
Quando decide, ruge tempestades.
E o poeta, incapaz de domá-la,
Apenas a segue — ou é arrastado por ela.
Ele nunca sabe onde termina o caminho.
A criatura o conduz por abismos e constelações,
Por medos antigos e mundos que ninguém viu.
Seu limite é um lugar sem nome,
Sempre além do horizonte,
Sempre mais longe do que ontem.
Quando grita, não é súplica, é comando:
Escreva-me.
E o poeta obedece, não por submissão,
Mas porque essa força o atravessa
Com a precisão de um relâmpago.
A imaginação corre, feroz, e ele corre atrás,
Consciente de que nunca a alcançará,
Apenas registrará seus rastros, suas marcas,
As pegadas que ela deixa na terra escura do pensamento
O poeta vive nesse fio:
Entre o risco de ser devorado
E o êxtase de ser levado para além de si mesmo.
A imaginação não tem jaula.
E o poeta, no fundo, também não.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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