domingo, 7 de dezembro de 2025

O poeta e a imaginação

 A imaginação é uma criatura selvagem. 
Não pede licença. 
Chega correndo, arranhando as paredes da mente, 
Uivando para que o poeta a escute. 
 
Ela exige passagem. 
Empurra portas, derruba certezas, 
Atravessa fronteiras 
Que o próprio poeta desconhecia. 
Ele tenta segurá-la — mas ela escapa, 
Indomável, sacudindo símbolos, memórias, 
Vozes que nunca existiram. 
 
É um animal feito de sombra e luz. 
Quando quer, sussurra ternura. 
Quando decide, ruge tempestades. 
E o poeta, incapaz de domá-la, 
Apenas a segue — ou é arrastado por ela. 
 
Ele nunca sabe onde termina o caminho. 
A criatura o conduz por abismos e constelações, 
Por medos antigos e mundos que ninguém viu. 
Seu limite é um lugar sem nome, 
Sempre além do horizonte, 
Sempre mais longe do que ontem. 
 
Quando grita, não é súplica, é comando: 
Escreva-me. 
E o poeta obedece, não por submissão, 
Mas porque essa força o atravessa 
Com a precisão de um relâmpago. 
A imaginação corre, feroz, e ele corre atrás, 
Consciente de que nunca a alcançará, 
Apenas registrará seus rastros, suas marcas, 
As pegadas que ela deixa na terra escura do pensamento 
 
O poeta vive nesse fio: 
Entre o risco de ser devorado 
E o êxtase de ser levado para além de si mesmo. 
 
A imaginação não tem jaula. 
E o poeta, no fundo, também não. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

Nenhum comentário:

Postar um comentário