Como quem se apaixona por um eclipse antes de acontecer.
Eles vivem em um reino entre sonho e ausência,
E ainda assim iluminam mais do que a luz que alcanço.
É estranho amar o que não se viu,
Mas talvez o amor seja sempre isso:
Um tato cego, procurando calor no escuro.
Teu olhar inexistente pesa em mim
Como se já tivesse me atravessado um dia.
Invento cores que talvez não existam,
Formas que talvez te neguem,
Mas é no impossível que meu peito se aquece.
Talvez teu rosto more apenas na fronteira
Entre o que lembro e o que desejo.
Mas é lá que também moro eu.
O desejo que não posso sentir
Arde como uma chama que insiste em não tocar a pele.
É um fogo de vento,
Invisível, indomável, silencioso.
E mesmo assim me queima.
Há vontades que não pedem corpo,
Apenas espaço dentro de nós.
Amo-te no vazio,
Onde teus olhos deviam estar.
Talvez por isso o amor seja tão vasto,
Porque cresce onde nada existe.
E o que não posso ver em ti
Se torna exatamente aquilo que mais procuro ver em mim.
Entre nós há uma distância que não se mede,
Um abismo que não impede,
Uma falta que floresce.
E é nessa ausência viva
Que te encontro de forma mais inteira:
Um desejo que não posso tocar,
Um par de olhos que brilham
Exatamente porque nunca me olharam.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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