A poesia e a filosofia
Não chegam como visitantes dóceis.
Elas entram rasgando os véus do hábito,
Desmontando os móveis da ordem comum,
Ferindo com beleza aquilo que parecia sólido.
O incômodo nasce do gesto
Quando a palavra deixa de ser só palavra
E se torna espelho torto,
Um abismo íntimo.
Arrancar a máscara do óbvio
É expor a nudez do cotidiano:
O trivial se revela monstruoso,
O silêncio mostra suas garras,
A rotina sangra metáforas.
A poesia escava no fundo,
A filosofia martela na superfície.
E ambas obrigam o espírito a enxergar
Onde antes havia apenas conforto cego.
Quem lê com descuido,
Sente apenas um sopro.
Quem lê com entrega,
Sente o chão ruir
E percebe que o óbvio nunca foi seguro,
Apenas um disfarce frágil
Costurado pela pressa de viver sem pensar.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense