terça-feira, 8 de julho de 2025

Nos livros

 Nos livros, encontrei abrigo. 
Em cada página, um espelho do que sou 
E do que ainda posso ser. 
Amá-los é amar o infinito em pequenas doses. 
 
Há amores que se desfazem no tempo, 
Mas os livros me amam 
Mesmo quando os esqueço na estante. 
Eles esperam em silêncio, 
Com os braços abertos em forma de páginas. 
 
A cada capa, um portal. 
A cada linha, um fio de luz puxando minha alma 
Para lugares onde o corpo jamais pisou. 
Meu amor por eles não pede nada,
Apenas que eu volte. 
 
Não me importo se o mundo ruir lá fora. 
Com um livro no colo, 
O caos se torna silêncio, 
E o silêncio, uma canção antiga 
Que só quem ama os livros consegue ouvir. 
 
Alguns escrevem cartas de amor. 
Eu leio livros como se fossem cartas 
Que o universo me escreveu 
Antes mesmo de eu nascer. 
 
 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 7 de julho de 2025

Fui amado em noites cálidas

 Beijei bocas 
Como quem sorve o néctar das madrugadas, 
Mas em cada lábio, deixei intacta minha fome. 
O que busco não tem nome, 
Não está no toque, nem no perfume, 
Mas num abismo onde o amor não alcança. 
 
As mulheres me deram beijos como dádivas, 
Sussurros doces na pele cansada. 
Mas eu era sede antiga, 
De água que não corre em veias humanas. 
 
Beijei como quem tenta recordar um sonho, 
E despertei mais vazio. 
Suas bocas eram jardins, 
Mas o fruto que eu queria 
Jamais brotou entre seus dentes. 
 
As mulheres me beijavam 
Como quem fecha os olhos para esquecer, 
E eu respondia 
Como quem os abre para lembrar 
De algo que nunca existiu. 
 
Fui amado em noites cálidas, 
Beijado até que o tempo se dissolvesse, 
Mas nada nelas acalmava 
A fúria de um desejo mais antigo que a carne. 
Minha sede era do invisível. 
E elas — tão belas — eram apenas corpos. 
 
 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

domingo, 6 de julho de 2025

Os amores que não vivi

 Houve olhos que cruzaram os meus 
Com o silêncio de uma pergunta, 
Mas eu não soube responder. 
Talvez ali morasse um amor inteiro, 
Mas a hora passou, 
Como o vento passando por uma janela esquecida. 
 
Tantos nomes eu nunca soube, 
Mas senti suas presenças leves 
Como sombras que quase tocam o chão. 
São amores que existiram 
Apenas no intervalo entre um olhar e outro. 
 
Os amores que não vivi 
Moram no sótão da alma, 
Guardados em caixas sem rosto, 
Mas que ainda exalam perfume 
De um tempo que não foi. 
E mesmo ausentes, doem 
Como a ausência do que poderia ter sido. 
 
Talvez tenhamos passado um pelo outro 
Numa estação qualquer, 
Carregando livros, sonhos e distrações. 
Nos olhamos por um segundo 
— o bastante para não esquecer — 
E seguimos, por caminhos que nunca se tocaram. 
 
Não vivi todos os amores que imaginei, 
Mas cada um deixou um eco, 
Um sussurro de futuro que não se fez passado. 
E por vezes, penso: 
Será que do outro lado alguém também se pergunta 
Sobre o amor que não teve comigo? 
 
 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sábado, 5 de julho de 2025

As vozes da ignorância

 Gritam alto os arautos da ignorância, 
Erguendo verdades de barro em púlpitos de vidro. 
Quanto mais vazio o eco, 
Mais longe ressoa na praça. 
 
Eles vestem certezas como armaduras, 
Mas combatem com lanças de vento. 
E o povo os aplaude, 
Sem perceber que a tempestade já começou. 
 
A ignorância não chega sozinha, 
Ela desfila em palanques dourados, 
Com vozes treinadas a soar como sabedoria 
Num mundo que esqueceu de escutar. 
 
São vozes que incham sob refletores, 
Mas secam à sombra do silêncio pensante. 
Seus discursos não alimentam, inflamam, 
Como tochas em palha seca. 
 
A verdade sussurra por entre as folhas, 
Mas os tambores da ignorância marcham firmes. 
Nem sempre quem grita mais 
Tem algo útil a dizer. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

Saudade sentida

 Quando a saudade vem, feito lamento, 
Silêncio em mim se acende, sem medida. 
É como um mar que inunda o pensamento, 
Mas não encontra voz na alma ferida. 
 
Tento escrever, mas falha o sentimento, 
As letras se desfazem, fugitivas. 
No peito, um nó, vazio e encantamento, 
Em guerra as horas lentas e cativas. 
 
Queria te chamar, dizer teu nome, 
Mas cada som é frágil, se consome, 
E morre antes de tocar o ar que invade. 
 
Fico a sentir, sem forma e sem coragem, 
A dor que não se diz vira paisagem 
Nos olhos fundos de quem tem saudade. 
 
 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sexta-feira, 4 de julho de 2025

Ode à Filosofia

 A filosofia é o silêncio que pergunta, 
Mesmo quando o mundo grita respostas prontas. 
É a brasa que arde no escuro da razão, 
Procurando, entre sombras, a verdade nua. 
 
Pensar é doer com elegância. 
É calçar as sandálias de Sócrates 
E caminhar rumo ao desconhecido, 
Sabendo que cada passo é uma pergunta sem fim. 
 
Ela mora entre a dúvida e o espanto, 
No intervalo entre o nascer da pergunta 
E o morrer da certeza. 
A filosofia não consola — mas ilumina. 
 
Platão sonhou com ideias eternas, 
Aristóteles pesou o mundo com lógica e medida. 
Mas foi o coração do filósofo que, em silêncio, 
Chorou diante do caos da vida. 
 
Quem filosofa dança com o invisível, 
Tateia o vento, beija a ausência e acolhe o enigma. 
Pois viver, no fundo, 
É ser estrangeiro em terra própria. 
 
Filosofar é escrever com tinta de abismo 
Em folhas de tempo que o vento carrega. 
É tentar traduzir 
O universo com palavras que nunca bastam. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quarta-feira, 2 de julho de 2025

Quem ouve as minhas palavras

 Quem ouve as minhas palavras 
Não escuta apenas sons, 
Mas recolhe sementes invisíveis 
Que plantei com as mãos da alma. 
 
Há ouvidos que são jardins. 
Neles, minha voz floresce 
Sem que eu saiba 
O nome da estação. 
 
Quem ouve as minhas palavras 
Carrega um pouco de mim, 
Feito rio que recebe o reflexo 
Mas segue o seu próprio caminho. 
 
Falo 
E se me ouves de verdade, 
És mais do que ouvinte: 
És espelho, eco e recomeço. 
 
Quem ouve minhas palavras com o coração 
Transforma silêncio em entendimento, 
E o mundo em volta, 
Num lugar mais terno. 
 
Se minhas palavras te tocarem, 
É porque, talvez, antes disso, 
O silêncio que há em ti 
Já conversava com o meu. 
 
 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

terça-feira, 1 de julho de 2025

Fomos iludidos pelo tempo

 Tenho loucuras em mim 
Como estrelas que não dormem. 
E ao ver a alvorada romper o silêncio, 
Descubro, atônito, 
Que nós também, por tanto tempo, 
Fomos sombra fingindo luz. 
 
Habita em mim uma febre mansa, 
Um delírio feito de ecos antigos. 
Mas é na alvorada, 
Quando o céu se despe da noite, 
Que percebo: 
Fomos enganados, 
Acreditando que o sonho era o real. 
 
Há loucuras que me guiam mais que a razão, 
Labaredas que ardem calmas no peito. 
E quando a alvorada toca o mundo 
Com dedos dourados, 
Sinto, como quem desperta de um feitiço, 
Que a verdade esteve oculta em plena luz. 
 
Em mim, a loucura dança 
Como névoa sob o sol nascente. 
E ao testemunhar o dia nascer, 
Com seus olhos limpos e imensos, 
Entendo: 
Fomos iludidos pelo tempo, 
Mas a manhã sabe de tudo. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 30 de junho de 2025

O sentimento que guardo em mim

 Guardo em mim o que sinto por você 
Como se fosse um segredo escrito no vento, 
Um sol que nasce por dentro 
Toda vez que penso em teu nome. 
 
O que sinto por você é um rio calmo, 
Mas profundo, 
Ninguém vê a correnteza que me arrasta 
Quando você sorri. 
 
É silêncio e tempestade, 
É prece e fogo contido. 
Amar você em silêncio 
É como carregar o céu no peito 
Sem que ninguém perceba o azul que me habita. 
 
Sinto por você aquilo que não cabe em palavras, 
Por isso guardo, 
Como quem esconde uma flor rara 
Para que o tempo não a leve embora. 
 
Você é presença mesmo ausente, 
É verbo que não conjugo em voz alta, 
Mas que vibra em cada gesto meu 
Quando ninguém está olhando. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

domingo, 29 de junho de 2025

A arte de existir sem medo

 Existir é caminhar descalço sobre espelhos, 
Aceitar os estilhaços como parte do reflexo. 
Não é ausência de dor, 
É dança com o desconhecido. 
 
A arte de existir sem medo 
É como respirar debaixo d’água: 
No começo, estranha-se o oxigênio do invisível, 
Mas depois o peito aprende 
Que viver é confiar no que não se vê. 
 
Não temas tua sombra, 
Ela é apenas a luz dizendo teu nome ao contrário. 
Aceita tuas dobras, teus abismos, 
Teu riso fora de hora, 
Eles também são parte da sinfonia. 
 
Quem existe sem medo 
Aprendeu que não precisa caber em molduras. 
Fez-se quadro vivo, 
Em constante rasura, 
Uma arte que se renova ao ser incompleta. 
 
Ser é um verbo que se aprende devagar. 
Mas quando o medo cede lugar ao espanto, 
A existência floresce 
Como uma planta que, pela primeira vez, 
Entende o sol. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sábado, 28 de junho de 2025

O brilho desse sorriso

 Teu riso é luz que rompe a madrugada, 
Clarão sereno em céu de tempestade, 
É flor que nasce em meio à caminhada, 
Milagre em forma de simplicidade. 
 
Nos lábios teus, encanto faz morada, 
E o mundo esquece toda a sua idade. 
Ao ver-te assim, de face iluminada, 
Renovo em mim a fé na felicidade. 
 
Teu riso é som de brisa em campo em flor, 
É bálsamo a curar qualquer cansaço, 
É chama doce a reacender o amor. 
 
E quando ris, o tempo perde o compasso, 
Pois tudo em ti se enche de esplendor, 
E eu me imagino inteiro em teu abraço. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sexta-feira, 27 de junho de 2025

Sonhando com o infinito

O universo se estende como um livro sem fim, 
Cada estrela uma palavra, 
Cada galáxia, um capítulo não escrito. 
E nossa imaginação, 
A pena inquieta 
Que ousa sonhar o que ainda não foi lido. 
 
Na dança silenciosa dos astros, 
Há segredos que nem a luz alcança. 
Mas no escuro do pensamento humano, 
Brilham ideias 
Que viajam mais longe que qualquer cometa. 
 
Somos poeira de estrelas 
Sonhando com o infinito. 
Enquanto o cosmos se expande, 
Nossos sonhos o acompanham, 
Saltando buracos negros, 
Sussurrando para quasares, 
Recriando mundos em silêncio. 
 
A mente é um telescópio voltado para dentro. 
Quanto mais olhamos, 
Mais percebemos que o universo lá fora 
Reflete o infinito que carregamos por dentro. 
 
Se há fim nas galáxias, 
Ele não detém a alma que imagina. 
Porque onde a física silencia, 
A poesia continua. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quinta-feira, 26 de junho de 2025

A meiguice do teu olhar

Teu olhar, doçura em forma de alvorada, 
Desperta o sol nas sombras do meu dia, 
Traz a leveza em brisa delicada 
E acalma em mim a dor que antes doía. 
 
Há um silêncio terno em tua pupila, 
Que diz mais que mil frases no ar suspensas, 
E o mundo, ao ver teu brilho que cintila, 
Se curva à luz de intenções tão imensas. 
 
É como se os anjos, em reverência, 
Derramassem nos olhos tua essência, 
E o tempo parasse só para te mirar. 
 
Oh, se soubesses quanto me fascina 
Essa ternura pura, cristalina, 
Que mora serena no teu doce olhar. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quarta-feira, 25 de junho de 2025

Não é sobre entender

Não é sobre entender. 
É sobre respirar o que não tem nome, 
Tocar com os olhos fechados 
O que não cabe nas palavras. 
 
O mistério não quer ser decifrado, 
Ele quer ser sentido, 
Como o arrepio sem razão, 
Como a lágrima que cai sem dor. 
 
Entender constrói paredes, 
Mas sentir abre janelas 
Por onde o invisível entra 
Com o peso exato de um instante eterno. 
 
O desconhecido não se explica, 
Se aceita. 
Não se ilumina com respostas, 
Se acende com presença. 
 
É como dançar no escuro 
Sem saber os passos, 
Mas ainda assim dançar, 
Porque o coração sabe a música 
Que a mente jamais escutou. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

terça-feira, 24 de junho de 2025

No teu aconchego

No instante em que te encontro, 
Meu peito desaprende a pressa. 
O mundo desacelera… 
E a alma, cansada de vagar, 
Se entrega ao teu aconchego 
Como quem encontra morada 
Depois de mil invernos. 
 
O suspiro que nasce de mim 
Não é apenas ar, 
É a lembrança de todas as vezes 
Que sonhei com o abraço que agora me envolve. 
É o eco suave de um coração 
Que enfim repousa 
No território da tua presença. 
 
Há um alívio antigo 
Que escorre pelos meus ombros 
Quando me aninho no teu abraço. 
É como se cada parte de mim, 
Desfiada pelo tempo, 
Fosse costurada de volta 
Pelo calor do teu silêncio. 
 
O corpo relaxa, 
Os olhos fecham, 
A alma sorri por dentro. 
No teu aconchego, 
Não sou mais pedaços soltos, 
Sou inteiro. 
E o suspiro que escapa 
É oração sem palavras. 
 
É no teu colo 
Que o meu cansaço desaprende a ser peso. 
Meu suspiro não é desistência, 
É entrega. 
É o som manso 
De quem encontrou refúgio 
Na curva exata do teu abraço. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense