quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Ontem eu a conheci

 Ontem eu a conheci. 
E desde então 
O mundo parece caminhar 
Com o passo que ela deixou no ar, 
Leve, atento, como se aprendesse a respirar de novo. 
 
Havia na presença dela 
Uma espécie de elegância que não se veste: acontece. 
Era como se cada gesto fosse um sussurro 
Destinado apenas ao olhar que a descobrisse, 
Um silêncio bonito demais para ser interrompido. 
 
Quando a vi, algo em mim se ajeitou, 
Como quem finalmente encontra o horizonte certo. 
A beleza dela não era apenas vista, 
Era sentida, deslizando por dentro, 
Acendendo pequenas luzes 
Em lugares que eu nem lembrava que tinha. 
 
Ontem eu a conheci. 
Mas parece que meu coração, 
Que sempre chega atrasado, 
Resolveu chegar antes do tempo dessa vez. 
E ficou lá, parado diante dela, 
Tentando aprender a não tropeçar 
Na própria admiração. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Ouça-me, meros mortais!

 Por caminhos nunca antes trilhados, eu sigo. 
Não para ser visto, 
Mas para dizer. 
 
Minha voz já não se esconde nas dobras do medo. 
Ela aprende o peso do silêncio 
E escolhe, ainda assim, romper o ar. 
 
Falo ao coração dos ouvintes atentos, 
Não aos distraídos pela pressa, 
Nem aos satisfeitos com a superfície das coisas, 
Mas àqueles que tremem quando uma verdade encosta. 
 
Não há mais vergonha em ser inteiro. 
A vergonha agora é fingir cegueira, 
É ajoelhar diante da mediocridade 
E chamá-la de normalidade. 
 
Minha palavra não é afago fácil. 
É alerta. 
É espinho na almofada do conformismo. 
É farol para quem cansou de andar em círculos. 
 
Que minha voz incomode. 
Que provoque ruídos nas consciências adormecidas. 
Porque todo novo caminho 
Começa quando alguém ousa dizer 
O que muitos sentem, 
Mas não têm coragem de nomear. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Não quero muito

Não quero muito. 
Só um cantinho no teu coração, 
Tipo um puxadinho, 
Com vista para tua insegurança. 
E, claro, um controle remoto 
Dos teus pensamentos. 
Versão sem anúncio. 
 
Queria morar no teu coração, 
Mas com contrato vitalício 
E direito a reforma. 
Teus pensamentos? 
Ah, esses eu já domino,
Mesmo sem tua permissão. 
 
Desejo invadir tua mente, 
Como quem instala um vírus: 
Silencioso, charmoso, 
Devastador. 
E quando deres por ti, 
Estarei lá, 
Editando teus sonhos 
E reescrevendo tua lógica. 
 
Queria invadir teu coração 
Com a delicadeza de um elefante apaixonado. 
Espalhar minhas vontades nos teus cantos, 
Trocar teus medos por memórias minhas 
E te fazer pensar em mim 
Toda vez que esqueceres de pensar em ti. 
 
Amor? Não. 
Domínio mental temporário com opção de eternidade. 
Coração? Invado sem GPS. 
Pensamentos? 
Já moro neles, 
E não paguei aluguel. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Sentimento feito de silêncio

 Guardo no peito um sentimento feito de silêncio, 
Mas teus olhos sempre chegam antes do meu disfarce. 
Eles atravessam minhas palavras cuidadosas 
E pousam exatamente onde finjo não existir. 
 
É estranho esconder algo que sabe respirar sozinho. 
Posso calar a voz, conter os gestos, 
Mas o olhar, esse traidor delicado, 
Entrega o que o coração escreve em segredo. 
 
Carrego esse sentimento como quem leva fogo no bolso: 
Não queima por fora, 
Mas ilumina cada pensamento, 
E às vezes vaza em pequenos clarões quando te vejo. 
 
Não te digo nada, 
Mas tudo em mim fala quando estás perto. 
Meu silêncio não é ausência, 
É apenas um amor 
Aprendendo a caber no intervalo entre dois olhares. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

domingo, 7 de dezembro de 2025

O poeta e a imaginação

 A imaginação é uma criatura selvagem. 
Não pede licença. 
Chega correndo, arranhando as paredes da mente, 
Uivando para que o poeta a escute. 
 
Ela exige passagem. 
Empurra portas, derruba certezas, 
Atravessa fronteiras 
Que o próprio poeta desconhecia. 
Ele tenta segurá-la — mas ela escapa, 
Indomável, sacudindo símbolos, memórias, 
Vozes que nunca existiram. 
 
É um animal feito de sombra e luz. 
Quando quer, sussurra ternura. 
Quando decide, ruge tempestades. 
E o poeta, incapaz de domá-la, 
Apenas a segue — ou é arrastado por ela. 
 
Ele nunca sabe onde termina o caminho. 
A criatura o conduz por abismos e constelações, 
Por medos antigos e mundos que ninguém viu. 
Seu limite é um lugar sem nome, 
Sempre além do horizonte, 
Sempre mais longe do que ontem. 
 
Quando grita, não é súplica, é comando: 
Escreva-me. 
E o poeta obedece, não por submissão, 
Mas porque essa força o atravessa 
Com a precisão de um relâmpago. 
A imaginação corre, feroz, e ele corre atrás, 
Consciente de que nunca a alcançará, 
Apenas registrará seus rastros, suas marcas, 
As pegadas que ela deixa na terra escura do pensamento 
 
O poeta vive nesse fio: 
Entre o risco de ser devorado 
E o êxtase de ser levado para além de si mesmo. 
 
A imaginação não tem jaula. 
E o poeta, no fundo, também não. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sábado, 6 de dezembro de 2025

Sobre ela

 Ela é a sombra suave 
Que repousa no canto dos meus pensamentos, 
A chama que insiste em arder 
Mesmo quando o mundo se apaga. 
Amo-a no silêncio da madrugada 
E no rumor do dia que desperta, 
Porque meu peito 
Aprendeu a respirar no ritmo do nome dela. 
 
Há um lugar em mim onde o tempo dobra, 
Onde a memória é mais viva que o próprio gesto. 
Nesse espaço secreto, ela existe inteira, 
Como um verso que se recita sozinho 
Mesmo quando os lábios juram silêncio. 
 
Se a noite fosse apenas ausência de luz, 
Eu ainda a veria, 
No contorno das estrelas, 
No vento que passa, 
Na saudade que não descansa. 
É que o amor, quando é grande, 
Acende mundos por dentro. 
 
Durante o dia, meu coração tenta ser discreto, 
Finge normalidade, veste a máscara da razão. 
Mas basta um pensamento, 
Uma lembrança pequena, 
Um detalhe quase esquecido, 
E tudo em mim se dobra em direção a ela. 
 
Amo-a profundamente 
Como quem carrega um segredo quente entre as mãos: 
Não posso soltar, 
Não posso mostrar, 
Mas também não consigo esquecer. 
É uma chama que pede cuidado, 
Mas também pede eternidade. 
 
Noite e dia, ela é o rumor dentro do meu peito. 
Uma presença que não pede permissão, 
Não precisa provar existência, 
Apenas é. 
E eu, prisioneiro voluntário desse sentir, 
Apenas sigo amando. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Teu colo

Quando repouso minha cabeça em teu colo, 
O mundo deixa de ser urgente. 
As fronteiras do tempo se desfazem, 
Como areia que escapa entre os dedos, 
E só resta esse instante macio 
Onde a vida respira mais devagar. 
 
Teu colo é território de silêncio bom, 
Onde até meus medos encontram abrigo 
E se calam, por um momento, 
Como feras selvagens pacificadas 
Pela luz de um amanhecer. 
 
Ali, encostado em ti, 
Sou menos áspero, menos perdido, 
Sou quase menino outra vez, 
Descobrindo que existir 
Pode ser leve, se houver mãos que acolham. 
 
Porque quando deito minha cabeça em teu colo, 
Tudo que é barulho vira música, 
Tudo que é peso vira vento, 
E tudo que sou encontra repouso 
No lugar mais simples e mais raro: 
A paz que só teu corpo sabe oferecer. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Carrego teu nome em pensamento

 Há um nó no peito que não se desata, 
Feito laço de silêncio e desejo. 
Amo com a alma escancarada, 
Mas meus lábios são cárceres do segredo. 
 
Vejo teu riso e sou sombra atrás da luz. 
Tua felicidade é meu veneno e minha cura. 
Porque te amo tanto, não te toco. 
Porque te respeito, me desfaço em silêncio. 
 
Carrego teu nome em pensamento, 
Como quem guarda fogo entre as costelas. 
Não posso acender, não posso apagar. 
Apenas arder, inteiro e invisível. 
 
Tu amas outro, 
E eu amo em mim tudo que jamais serei contigo. 
Sou testemunha da tua alegria, 
E cúmplice do meu próprio naufrágio. 
 
Quem me dera amar menos, ou te esquecer. 
Mas o amor verdadeiro não pede permissão, 
Nem se esconde: 
Ele apenas aprende a dançar no escuro. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

A História como respiração do mundo

 A História não é apenas um acúmulo de datas — é a pulsação mais antiga do mundo. 
É o sopro que antecede cada gesto humano, o silêncio que sussurra por trás das cidades, das ruínas, das catedrais, das encruzilhadas poeirentas onde homens e mulheres decidiram, um dia, quem poderiam ser. 
 
Estudar a História é ouvir o coração do tempo. 
E o tempo, quando ouvido com atenção, revela seus movimentos secretos. 
 
A História nos ensina que nada nasce sozinho: as ideias têm ancestralidade, os sonhos têm raízes, e até o caos obedece a um desenho invisível. 
Cada época carrega sua dor, sua fome de sentido, sua obsessão e sua coragem — como se o mundo fosse feito de sucessivas tentativas de compreender a si mesmo. 
 
Conhecer o passado é um ato de ternura. 
Porque é reconhecer que outros caminharam antes de nós, erraram antes de nós, amaram e lutaram antes de nós. 
E que, mesmo assim, ousaram continuar. 
 
A História é o espelho onde o presente encontra seu próprio rosto. 
E às vezes esse rosto assusta — outras vezes inspira. 
Mas ignorá-lo é caminhar às cegas. 
 
Aprender História é o mais humano dos gestos: é juntar fragmentos de vidas alheias e reconstruir, com cuidado, a tapeçaria do que fomos para entender aquilo que poderemos ser. 
É um exercício permanente de empatia. 
É um pacto com a lucidez. 
 
O conhecimento histórico nos liberta do engano confortável de pensar que somos únicos, ou inéditos, ou donos absolutos de nossas próprias ideias. 
Ele nos lembra que fazemos parte de uma corrente profunda, antiga, interminável. 
Uma corrente que começou antes de qualquer registro e continuará muito depois que nossos nomes virarem pó. 
 
A História é o que impede os homens de repetirem seus pesadelos. 
É também o que permite repetir seus melhores sonhos. 
 
Ela nos convoca a pensar com a serenidade de quem conhece o caminho — e a agir com a responsabilidade de quem sabe que cada escolha se tornará, inevitavelmente, memória de alguém. 
 
Defender a História é defender a consciência. 
É defender a capacidade de aprender, de reparar, de refazer. 
É recusar a amnésia coletiva, esse sono perigoso em que sociedades inteiras esquecem como chegaram até aqui. 
 
Por isso, quem estuda História não vive no passado. 
Vive em todas as épocas ao mesmo tempo. 
E por isso enxerga mais longe. 
 
Porque a História, afinal, não é o que passou. 
É o que permanece. 
 
É aquilo em nós que nunca termina. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

terça-feira, 2 de dezembro de 2025

O desejo que não posso sentir

 Amo teus olhos que nunca vi, 
Como quem se apaixona por um eclipse antes de acontecer. 
Eles vivem em um reino entre sonho e ausência, 
E ainda assim iluminam mais do que a luz que alcanço. 
É estranho amar o que não se viu, 
Mas talvez o amor seja sempre isso: 
Um tato cego, procurando calor no escuro. 
 
Teu olhar inexistente pesa em mim 
Como se já tivesse me atravessado um dia. 
Invento cores que talvez não existam, 
Formas que talvez te neguem, 
Mas é no impossível que meu peito se aquece. 
Talvez teu rosto more apenas na fronteira 
Entre o que lembro e o que desejo. 
Mas é lá que também moro eu. 
 
O desejo que não posso sentir 
Arde como uma chama que insiste em não tocar a pele. 
É um fogo de vento, 
Invisível, indomável, silencioso. 
E mesmo assim me queima. 
Há vontades que não pedem corpo, 
Apenas espaço dentro de nós. 
 
Amo-te no vazio, 
Onde teus olhos deviam estar. 
Talvez por isso o amor seja tão vasto, 
Porque cresce onde nada existe. 
E o que não posso ver em ti 
Se torna exatamente aquilo que mais procuro ver em mim. 
 
Entre nós há uma distância que não se mede, 
Um abismo que não impede, 
Uma falta que floresce. 
E é nessa ausência viva 
Que te encontro de forma mais inteira: 
Um desejo que não posso tocar, 
Um par de olhos que brilham 
Exatamente porque nunca me olharam. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Digo que é o vento

 Às vezes a noite é tão grande 
 Que parece caber dentro de mim. 
E no escuro do meu peito, 
O teu nome brilha como janela acesa 
Em casa abandonada, 
Uma luz que não devolve ninguém, 
Mas insiste em ficar acesa. 
 
As horas vazias são mares sem lua. 
Eu navego nelas com as mãos frias 
E o coração tateando sombras, 
Procurando o teu rastro 
Como quem busca água 
Num deserto que já sabe o fim. 
 
Penso em você como quem segura um objeto frágil: 
Com cuidado, com medo, com vício. 
E cada lembrança tua 
É uma porta abrindo sozinha no corredor, 
Lembrando-me que a casa é minha, 
Mas o silêncio é teu. 
 
Há noites em que o mundo inteiro dorme, 
Menos a saudade. 
Ela vigia, ela respira, ela caminha pelos cantos, 
Sussurrando teu nome 
Como se fosse um feitiço 
Que me mantém acordado. 
 
Se alguém me perguntar por que não durmo, 
Digo que é o vento. 
Mas é mentira. 
É você soprando dentro de tudo que me falta. 
 
A verdade é simples e cruel: 
As noites são vazias, 
Mas eu não. 
Eu transbordo, 
De você, do que não foi dito, 
Do que ainda queima nas entrelinhas. 
 
 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

domingo, 30 de novembro de 2025

Incompreensões

 Há uma violência silenciosa em estar perdido: 
Não é o grito, mas o eco. 
O mundo continua, 
E você permanece ali, 
Um vulto colado à própria sombra, 
Tentando decifrar mapas que nunca foram desenhados 
Para o seu tipo de alma. 
 
Os dias se enchem de incompreensões 
Como quartos mal arejados. 
Entramos neles, respiramos o que não entendemos, 
E saímos com um peso que não sabemos nomear. 
A vida segue, 
Mas algo em nós fica para trás, 
Um pedaço que tenta ainda traduzir o indizível. 
 
Perder-se é descobrir que o tempo 
Não é linear, 
Mas um labirinto em chamas. 
Cada passo é uma ferida, 
Cada escolha um corte, 
E, mesmo assim, caminhamos, 
Como quem espera que no centro do fogo 
Haja finalmente um sentido. 
 
As incompreensões doem 
Porque nos tornam estrangeiros de nós mesmos. 
É brutal perceber que ninguém enxerga 
O que carregamos na pele por dentro. 
Ainda assim, seguimos, 
Como rios que não escolhem suas margens. 
 
Há dias em que a alma tropeça. 
E a violência não está na queda, 
Mas no chão que se afasta toda vez 
Que pensamos tê-lo alcançado. 
Nesses dias, tudo é enigma, 
E nós — frágeis decifradores, 
Tentamos sobreviver às próprias perguntas. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sábado, 29 de novembro de 2025

De um outro eu

 Ontem foi um mau sonho que alguém teve por mim. 
E eu acordei dentro dele. 
 
As horas se arrastavam como sombras indecisas, 
E o ar parecia feito de lembranças que não me pertenciam. 
Havia vozes chamando por um nome que não era o meu, 
Mas que eu reconhecia como se viesse de um outro tempo, 
De um outro eu, esquecido entre duas realidades. 
 
Talvez eu seja apenas o resquício do sonhador, 
O reflexo de uma consciência cansada 
Que tentou acordar e falhou. 
Porque o sonho continuou… 
E eu segui nele, vestindo a carne de quem dorme. 
 
Senti o toque frio de algo que não existe, 
Vi rostos desfeitos pela própria dúvida, 
E compreendi: o pesadelo não pertence a ninguém, 
Ele apenas escolhe moradas temporárias. 
 
Ontem, ele habitou em mim. 
Hoje, talvez em você. 
E amanhã… quem sabe o mundo inteiro 
Não passe a sonhar o mesmo sonho escuro? 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

domingo, 23 de novembro de 2025

Liberdade em chamas

Dizem que a liberdade é um pássaro, 
Mas às vezes ela vem como bomba, 
Como fogo que consome a casa inteira 
Só para apagar uma tranca na porta. 
 
Às vezes ela veste farda, 
Grita ordens entre corpos caídos, 
E em seu nome, sangue escorre 
Como se a paz nascesse do abismo. 
 
Outras vezes, ela sussurra 
Nos corredores da mente partida, 
Dança descalça sobre os cacos da razão, 
E ri, enquanto o mundo chama de loucura 
O simples ato de ser inteiro. 
 
Talvez a guerra e a loucura 
Não sejam caminhos para a liberdade, 
Mas espelhos estilhaçados do desejo 
De viver sem correntes, 
De sentir sem algemas, 
De ser sem permissão. 
 
E quem caminha por esses extremos 
Não busca a glória, 
Mas a chave. 
 
Mesmo que ela esteja 
No fundo de um sonho febril 
Ou no último sopro 
De um campo em chamas. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

E então digo adeus

 No silêncio onde o amor costuma se esconder, 
Eu descobri o nome de outra pessoa 
Batendo dentro do teu peito. 
Não houve grito, nem tempestade — apenas a verdade 
Descendo lenta, 
Como uma lágrima que sabe exatamente 
Onde vai cair. 
 
É estranho, quase sagrado, ver o fim se erguer 
Com a delicadeza de uma despedida 
Que não pede permissão. 
Percebo que teu coração já caminha em outra direção, 
E eu fico aqui, parado na fronteira 
Entre o que fomos e o que nunca mais será. 
 
O último adeus tem gosto de porta entreaberta: 
Não se fecha de repente, 
Apenas deixa de ser passagem. 
E enquanto te vejo partir, sinto algo curioso, 
Como se meu próprio peito aprendesse, 
A duras penas, que amar também é soltar. 
 
Levo comigo o que ficou intacto: 
O brilho de um instante, 
O calor de uma promessa antiga, 
O breve consolo de saber que, mesmo sendo o fim, 
A história passou por mim. 
 
E então digo adeus. 
Não o adeus de quem espera retorno, 
Mas o adeus de quem finalmente entende 
Que certos caminhos se despedem antes mesmo 
Que percebermos que estamos caminhando sozinhos. 
 
 Poema: Odair José, Poeta Cacerense