domingo, 6 de abril de 2025

Admiração

Teu olhar, um céu sem fim, 
Brilha mais que a própria aurora. 
Cada gesto diz pra mim: 
Essa beleza vive agora. 
 
Teu sorriso, luz serena, 
Inspira o mais lindo poema. 
E se o mundo perde a direção, 
Tu és a mais bela em cena. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sábado, 5 de abril de 2025

O homem feito em palavras

O homem feito em palavras 
É cada ser pulsante 
Que caminha sobre tudo o que é vivo. 
Não é carne, é verbo. 
Não respira — declama. 
Carrega no peito um dicionário de sonhos, 
E nas mãos, 
O silêncio que só a poesia sabe ouvir. 
 
Porque o verbo nasceu antes do passo, 
E o nome veio antes da face. 
O homem, este poema em carne, 
Vive entre o que sente e o que diz, 
Entre o som e o sentido. 
 
O homem feito em palavras 
Não é apenas o que diz, 
Mas o que tenta dizer e nunca alcança. 
É construção infinita — 
Um eco do que sente, 
Um reflexo imperfeito do ser. 
 
Cada ser pulsante 
Que caminha sobre tudo o que é vivo 
Carrega dentro de si uma biblioteca invisível. 
Línguas não ditas, 
Sentidos que escorrem entre os dedos da razão. 
O humano é um texto em constante reescrita, 
Feito de dúvidas, metáforas e silêncios. 
 
Viver é interpretar-se. 
Ser é traduzir o indizível. 
E enquanto caminha, 
O homem busca uma palavra que o defina — 
Mas ela nunca vem completa. 
Talvez porque a verdade do ser 
Não caiba em vocábulos, 
Mas no intervalo entre eles. 
 
Há uma essência que antecede a matéria: o verbo. 
O homem não nasce apenas do barro ou do sangue, 
Mas da palavra que o nomeia. 
Antes mesmo de saber quem é, 
Ele já foi dito por outro 
E, ao ser dito, foi moldado. 
 
O ser humano é um texto em constante revisão. 
Não é estático, nem plenamente compreendido. 
Cada indivíduo caminha como um manuscrito aberto, 
Com margens riscadas de desejos, 
Erros, e verdades provisórias. 
A linguagem não o limita — o revela em fragmentos. 
O que escapa à linguagem, porém, 
É o que mais o define. 
 
Toda tentativa de se dizer 
É também um gesto de criação. 
Falar de si é nascer de novo, 
E cada palavra usada para explicar o que se é 
É também uma tentativa de escapar do que se foi. 
 
Caminhar sobre tudo o que é vivo 
É, portanto, um ato de tradução. 
O mundo é um texto sem pontuação final, 
E o homem, esse ser pulsante, 
É leitor e autor ao mesmo tempo. 
Interpreta a si mesmo no reflexo do outro, 
E, na escuta silenciosa da vida, 
Reconhece que existe mais no não dito 
Do que no que ousa ser pronunciado. 
 
Talvez, no fim, o que somos 
Não caiba na lógica ou na gramática, 
Mas apenas no mistério poético de estar vivo: 
Um poema inacabado, 
Escrito a cada passo 
Sobre a superfície do ser. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sexta-feira, 4 de abril de 2025

Natureza Morta em Luz de Neon

Um ipê solitário resiste 
No meio do asfalto rachado. 
É flor que ousa nascer 
Onde só o cinza é respeitado. 
 
A noite cai com olhos vermelhos, 
Sirenes e passos apressados. 
Luzes de neon fingem beleza, 
Mas escondem becos calados. 
 
O morro vê do alto os arranha-céus 
Com janelas que brilham sem alma. 
Lá embaixo, a quebrada pulsa rimas 
De um rap que sangra e acalma. 
 
Gente vive conectada 
Mas se toca cada vez menos. 
Likes não curam feridas 
De quem acorda no veneno. 
 
Mesmo assim, a cidade respira, 
Mesmo ferida, ela grita vida. 
Nos muros, nos beats, no olhar: 
Ela é dor, é arte, é partida. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

Entre concretos e sonhos

Na calçada cinza que engole os passos, 
Corpos cruzam sem se ver, 
Olhos presos em telas, 
Corações que já esqueceram o porquê. 
 
O buzinar constante soa como sinfonia, 
Acorde de um dia igual ao da lembrança. 
No semáforo, o tempo se alterna 
Entre a pressa e a esperança. 
 
Entre prédios que tocam o céu, 
Um grafite grita cor na parede rachada, 
Voz de um artista anônimo 
Que ainda sonha acordado na madrugada. 
 
A cidade fere e acalenta, 
Cobra caro por cada suspiro de emoção. 
Mas é nela que se planta 
O desejo de voar, mesmo sem razão. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quinta-feira, 3 de abril de 2025

A pedra de Sísifo

Caminhar em círculo 
É a arte de ir sem nunca chegar, 
De medir o tempo 
Em passos gastos sobre o mesmo chão. 
É o ensaio infinito 
De um destino que se repete, 
Onde cada curva já foi traçada 
Antes mesmo do pé tocar o solo. 
 
Os lugares são os mesmos, mas as sombras mudam, 
Como se zombassem do desejo de fuga. 
O tédio pesa nos ombros como a pedra de Sísifo, 
Rolando e rolando, sem jamais repousar. 
 
E se a vida for só isso? 
Uma coreografia exausta, 
Um relógio sem ponteiro novo, 
Um eco sem voz original? 
 
Ainda assim, seguimos. 
Porque mesmo na repetição há nuances, 
Um raio de luz 
Que dobra de forma imperceptível, 
Um silêncio que respira diferente. 
 
Talvez caminhar em círculo 
Seja apenas uma forma sutil 
De desenhar espirais 
Que ainda não aprendemos a ver. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quarta-feira, 2 de abril de 2025

Vou insistir

Vou insistir, 
Mesmo que o vento sussurre o contrário, 
Mesmo que a sombra do medo me cerque. 
 
Vou insistir, 
Porque a mudança é brisa que refresca, 
É sol que rompe a neblina espessa. 
 
Vou insistir, 
Em cada passo, em cada olhar, 
Até encontrar o antídoto 
Para minha paranóia se dissipar. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

terça-feira, 1 de abril de 2025

Ela é

Ela é 
Como um pôr do sol refletido no mar 
Tão bela 
Que o tempo parece prender a respiração 
Só para admirá-la. 
 
Seu riso é um poema 
Que ecoa no silêncio do mundo, 
Um verso que faz 
Até os dias mais comuns 
Parecerem extraordinários. 
 
Olhar para ela 
É como observar a lua cheia. 
Há um mistério que nunca se desfaz, 
Uma luz suave que ilumina sem ferir. 
 
Cada gesto seu 
É uma melodia que se escreve no ar, 
Um instante fugaz de beleza 
Que eu tento eternizar com os olhos. 
 
E quando ela sorri, 
O universo todo parece se reorganizar, 
Como se até as estrelas 
Buscassem formas de brilhar à sua altura. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 31 de março de 2025

Sem sentido

Essa despedida sem sentido 
É como um vento que sopra sem direção, 
Uma carta escrita sem destinatário, 
Uma vela acesa sob o sol do meio-dia. 
 
É um adeus que ecoa no vazio, 
Um nó que se desata 
Sem nunca ter sido atado, 
Um trem que parte sem jamais ter chegado. 
 
Talvez seja apenas o tempo 
Brincando de ilusão, 
Ou a vida 
Tentando nos ensinar que algumas partidas 
Não têm explicação — apenas silêncio. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

domingo, 30 de março de 2025

Quando me olhas

Nos teus olhos, vejo mais do que luz— 
Vejo o céu inteiro, vejo a minha alma. 
O brilho que dança na tua íris 
Não é só reflexo, é entrega, é chama. 
 
Quando me olhas, o tempo se dobra, 
O mundo se cala, o amor se revela. 
Sou um rio que corre para teu brilho, 
Um verso perdido na tua aquarela. 
 
Se o amor tem forma, se o amor tem cor, 
Ele mora no reflexo que vem de ti. 
Pois quando me vejo nos teus olhos, 
Descubro que sempre estive ali. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sábado, 29 de março de 2025

O homem eterno

O homem eterno 
É um eco do infinito, 
Um sopro de luz 
Aprisionado no cárcere da carne. 
Sua alma, imortal e errante, 
Veste-se de tempo 
E esquece-se do seu verdadeiro nome. 
 
Cada batida do coração 
É um chamado para o alto, 
Um lamento silencioso 
Da eternidade que habita o transitório. 
 
Os ossos são grades, 
A pele é véu, 
E os olhos, ainda que janelas, 
Mal vislumbram 
A vastidão que os aguarda 
Além do horizonte do corpo. 
 
O homem eterno sonha com asas, 
Mas anda com pés de barro. 
Busca na matéria a centelha do divino 
E, ao encontrá-la, 
Percebe que ela 
Sempre ardeu dentro de si. 
 
Na despedida da carne, 
Ele se reencontra. 
O cárcere se desfaz, 
E a alma, enfim livre, 
Retorna à melodia do cosmos, 
Onde nunca deixou de estar. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

O rei amaldiçoado e o homem só

O rei amaldiçoado 
Veste sua coroa de espinhos invisíveis, 
Cada joia um peso de mil lamentos. 
O trono que ergueu com glórias passadas 
Agora é um cárcere de ouro frio, 
Onde os ecos de antigos juramentos 
Se tornam espectros a assombrá-lo. 
 
E o homem só, 
Errante entre os campos do destino, 
Caminha sob luas indiferentes. 
Sem coroa, sem trono, 
Carrega apenas o silêncio como cetro 
E a liberdade como fardo. 
Pois há prisões no poder 
E há prisões na solidão — 
Mas qual delas é a mais cruel? 
 
 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sexta-feira, 28 de março de 2025

A chegada

Chegaste de forma singela 
Quase não a percebi 
Mas ali estava tu 
A imagem da beleza sútil 
Que dominou minha insensatez. 
 
O dia nem lembro como era 
Porque o tempo parou 
Tudo que consegui perceber 
Foi a singeleza do seu olhar 
O encanto que inebriou-me. 
 
Tudo era solidão 
Perto de mim o medo inconsciente 
A ilusão de amores perdidos 
E o amargo pesadelo 
De outra vez me apaixonar. 
 
Mas não havia nada a ser feito 
Nada que eu pudesse fazer 
Senão curvar-me diante de ti 
Deusa da minha imaginação 
O amor que sonhei a vida toda. 
 
E você chegou assim 
Quando eu menos esperava 
Você sorriu para mim 
E isso fez toda diferença na minha vida 
E preencheu o meu coração. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quarta-feira, 26 de março de 2025

O paradoxo da urgência

Corremos, corremos, sem pausa ou porquê, 
Mas nunca nos perguntamos: corremos pra quê? 
O tempo escorrega entre dedos aflitos, 
E os dias se perdem em passos restritos. 
 
O agora sufoca, o amanhã nos consome, 
O relógio nos grita, nos cobra, e some. 
A pressa é constante, o destino é nublado, 
Um ciclo infinito, um rumo apressado. 
 
Queremos o topo, queremos o mais, 
Mas quando chegamos, queremos a paz. 
A paz que deixamos, perdida na estrada, 
Trocada por metas, e uma agenda lotada. 
 
Se o tempo é dinheiro e a pressa é um vício, 
Quem dita o preço desse sacrifício? 
Se o fim é incerto e a pressa um engano, 
Por que não sermos um pouco mais humano? 
 
Então eu te pergunto, em meio a essa corrida: 
Que tal desacelerar e sentir um pouco a vida? 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

terça-feira, 25 de março de 2025

Entre os cacos

Num mundo que corre, sem pausa, sem freio, 
Onde a pressa devora até mesmo o anseio, 
Ousar perguntar é quase um perigo, 
Um ato rebelde, um salto ao abismo. 
 
O ruído se ergue em muralha espessa, 
Atropela verdades, dilui a promessa. 
Mas quando o eco se faz insuportável, 
O silêncio se ergue, firme, incontestável. 
 
E quando as certezas caem por terra, 
Feito vidro partido no chão da espera, 
O pensamento, descalço, caminha entre os cacos, 
Tateando o novo em meio aos destroços. 
 
Pois só quem se perde entre mil incertezas 
Descobre que a dúvida é sua fortaleza. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

domingo, 23 de março de 2025

Justiça

 A justiça veste um véu que o vento descobre, 
Mas seus olhos, cegos, ainda hesitam. 
Vem a cavalo, dizem, mas tropeça em pedras 
Que a injustiça semeia pelo caminho. 
 
Nos tribunais, a balança inclina-se, 
Não pelo peso da verdade, 
Mas pelo ouro que lhe é posto na mão. 
As palavras da lei são frias, 
Mas o que buscamos é fogo,
Justiça que arde, que pulsa, que vive. 
 
Anoitece, e as sombras sussurram 
O que ninguém ousa explicar. 
Não há justiça na casa da justiça, 
Pois ali, a verdade é só um eco distante, 
Perdido entre os corredores do poder. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense