sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

O que parecia amor

 Reinventar em mim o sorriso 
Não é apagar a cicatriz, 
É aprender a chamá-la de lembrança. 
 
Depois que perdi o que parecia amor, 
O riso virou ruína: 
Eco de algo que habitou o peito 
E partiu sem se despedir. 
Sorri por hábito, 
Por defesa, 
Por educação com o mundo 
Que não sabe lidar com o luto dos sentimentos. 
 
Mas o sorriso novo não nasce da pressa. 
Ele germina no silêncio, 
Quando aceito que aquilo não era infinito, 
Apenas intenso. 
Que amar, às vezes, 
É confundir abrigo com tempestade. 
 
Reinventar o sorriso 
É permitir que ele seja menor, 
Mais tímido, 
Menos espetáculo 
E mais verdade. 
É sorrir sem prometer eternidades, 
Sem pedir retorno, 
Sem fingir inteireza. 
 
Hoje, quando sorrio, 
Não é porque esqueci. 
É porque sobrevivi. 
Porque algo em mim, mesmo ferido, 
Decidiu continuar humano, 
Inteiro nas imperfeições, 
Aberto ao dia 
Como quem aprende a andar 
Depois da queda. 
 
E esse sorriso, 
Ainda em construção, 
Não nega a perda. 
Ele a carrega consigo 
Como quem diz em silêncio: 
Do que parecia amor, 
Restou a coragem de recomeçar. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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