Não é apagar a cicatriz,
É aprender a chamá-la de lembrança.
Depois que perdi o que parecia amor,
O riso virou ruína:
Eco de algo que habitou o peito
E partiu sem se despedir.
Sorri por hábito,
Por defesa,
Por educação com o mundo
Que não sabe lidar com o luto dos sentimentos.
Mas o sorriso novo não nasce da pressa.
Ele germina no silêncio,
Quando aceito que aquilo não era infinito,
Apenas intenso.
Que amar, às vezes,
É confundir abrigo com tempestade.
Reinventar o sorriso
É permitir que ele seja menor,
Mais tímido,
Menos espetáculo
E mais verdade.
É sorrir sem prometer eternidades,
Sem pedir retorno,
Sem fingir inteireza.
Hoje, quando sorrio,
Não é porque esqueci.
É porque sobrevivi.
Porque algo em mim, mesmo ferido,
Decidiu continuar humano,
Inteiro nas imperfeições,
Aberto ao dia
Como quem aprende a andar
Depois da queda.
E esse sorriso,
Ainda em construção,
Não nega a perda.
Ele a carrega consigo
Como quem diz em silêncio:
Do que parecia amor,
Restou a coragem de recomeçar.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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