domingo, 28 de dezembro de 2025

Medo de transbordar

 Cresci como quem aprende 
A trancar portas por dentro. 
Guardei palavras no fundo do peito, 
Não por frieza, 
Mas por excesso. 
 
Havia sentimentos demais para o mundo, 
E eu aprendi cedo 
Que nem todo silêncio é ausência, 
Às vezes é cuidado, 
Às vezes é medo de transbordar. 
 
Se pareço não ligar, 
É porque aprendi a amar em voz baixa, 
A sofrer sem plateia, 
A sentir sem pedir socorro. 
 
Carrego tudo comigo: 
O que não disse, 
O que não chorei, 
O que não coube em gestos. 
E isso pesa, 
Mas também me fez inteiro de um jeito estranho. 
 
Então, desculpa… 
Não é indiferença. 
É só alguém que cresceu acreditando 
Que sentir demais 
Era algo que precisava ser escondido. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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