segunda-feira, 22 de dezembro de 2025

Ser escravo do amor

 Às vezes me pergunto 
Por que ajoelhar o coração 
Diante de um sentimento 
Que exige correntes, 
Se a solidão me oferece 
O vasto campo onde posso respirar? 
 
O amor, quando não é encontro, 
Vira cela dourada: 
Promessas que vigiam, 
Silêncios que cobram, 
Esperas que nunca dormem. 
Nele, o eu se dissolve 
Até virar eco do outro. 
 
A solidão, ao contrário, 
Não me pede juras. 
Ela senta ao meu lado 
E me deixa inteiro. 
É um espaço vazio 
Que não machuca, 
Apenas me escuta. 
 
Ser escravo do amor 
É viver à mercê de gestos alheios, 
É medir o próprio valor 
Pelo olhar que não vem. 
Ser livre na solidão 
É aprender que o peito 
Também pode ser casa. 
 
Talvez o amor verdadeiro 
Não queira servos, 
Mas companheiros. 
E enquanto ele não chega, 
A solidão não é castigo: 
É território. 
É o lugar onde o coração 
Retira as algemas 
E reaprende a andar sozinho. 
 
 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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