domingo, 14 de outubro de 2018

Coração insensível


Ela caminhava lindamente pelo pátio da universidade 
Parecia uma deusa revestida de humanidade a desfilar pela terra 
Seus olhos encantadores realçavam sua beleza 
E seu sorriso era muito sedutor. 
Esplendidamente bela ela caminhava sem pressa 
E sorria como se o mundo a pertencesse. 
Parecia não ter medo de nada 
E carregava consigo a magia do amor verdadeiro. 
Era bela como uma sereia e desfilava sorridente pelos corredores 
Sob os olhares de toda aquela gente. 
Meu coração bateu mais forte 
Ao desejar o seu amor. 
Mas como fazer para conquistar aquele coração? 
A única saída era arriscar-me uma aproximação e deixar acontecer 
O que o destino havia nos reservado. 
Não sei dizer ao certo se foram minhas palavras poéticas 
Ou meu jeito tímido na abordagem 
Mas seus olhos brilharam para mim e quis descobrir seu coração. 
Um encontro foi marcado e o amor poderia acontecer. 

Uma tarde de amor inesquecível nos braços daquela deusa 
E meu coração não batia, corria loucamente. 
Sua pele suave e perfumada 
Sua voz tão delicada e sensual falando aos meus ouvidos 
Palavras de amor e obscenidades 
Causaram em mim a sensação maravilhosa do êxtase. 
A taça de vinho, os beijos de sedução, os gemidos de prazer 
Uma tarde perfeita para nunca esquecer. 
Uma deusa perfeita para amar e na minha mente a grande pergunta: 
Seria ela meu grande e verdadeiro amor 
Que procurei a minha vida toda? 

À noite o nosso encontro foi no calçadão da Praça Barão 
Ao som de uma boa música ao vivo, chopp e sorrisos. 
Ela linda em uma alegria contagiante 
E eu a deslumbrar toda aquela euforia. 
O mundo nos pertencia 
E não precisava de mais nada para ser melhor. 
Meu coração radiante com aquela beldade a minha frente 
E meus pensamentos a voar em seus sonhos. 
O amor, finalmente havia sorrido para mim. 

Uma senhora não muito velha caminhava tristemente pela praça 
Duas crianças a tiracolo pareciam desnutridas e com fome. 
Do meu local eu observava seus movimentos 
E interpelações aos transeuntes ao pedir-lhes alguma moeda. 
Por um instante meus pensamentos foram até aquela senhora 
Por que estaria naquele sofrimento? 
A mulher atravessou a rua e veio em nossa direção 
Eu a acompanhava com meu olhar e ela chegou perto da nossa mesa 
Não tive tempo de falar nada e só observei 
Aquela garota ali comigo foi abordada pela senhora com as crianças 
Olhou para elas 
Por um instante eu pude notar a indiferença e o desdém 
Engoli em seco quando ela chamou o garçom e pediu para que as afastassem dali. 
Seu sorriso se fora 
Seu olhar era desprezível 
E seu coração fora revelado. 
Em mim a sensação de surpresa e decepção. 
Como uma moça tão linda como aquela 
Poderia ser tão insensível ao sofrimento humano? 
E todo o amor e admiração que sentia por ela acabou em cinzas. 
Em mim já não havia o desejo de estar com ela 
Seus sorrisos agora me causavam angústia e eu só queria ir embora. 
A sua beleza exterior fora sucumbida pela sua alma insensível 
E meu amor por ela morreu naquela noite. 

Em meu silêncio e em meio às lágrimas 
Vejo o olhar daquelas crianças com fome 
E a insensatez do coração humano. 
Lembro-me, então, de ter me levantado 
Com educação perguntei o que desejavam 
- Moço, tenho fome e minhas filhas também. 
E, mesmo sabendo que era muito pouco a se fazer, 
Dei-lhes, naquela noite, o alimento que precisava. 
Minha alma chora neste silêncio 
A ilusão de mais uma decepção com as pessoas desumanas 
Que habitam entre nós. 
No celular as mensagens e ligações 
De alguém que nunca mais atenderei... 

Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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