"O poeta tem uma alma sublime,/ Alma que o impossível quer sonhar;/ Como um pássaro alado/ As mais altas nuvens voar". Poema: Odair José, Poeta Cacerense - Um poeta nascido às margens do Rio Paraguai expressa aqui o seu sentimento de gratidão por ser cacerense. Para todos apreciadores da eterna poesia.
domingo, 14 de outubro de 2018
Coração insensível
Ela caminhava lindamente pelo pátio da universidade
Parecia uma deusa revestida de humanidade a desfilar pela terra
Seus olhos encantadores realçavam sua beleza
E seu sorriso era muito sedutor.
Esplendidamente bela ela caminhava sem pressa
E sorria como se o mundo a pertencesse.
Parecia não ter medo de nada
E carregava consigo a magia do amor verdadeiro.
Era bela como uma sereia e desfilava sorridente pelos corredores
Sob os olhares de toda aquela gente.
Meu coração bateu mais forte
Ao desejar o seu amor.
Mas como fazer para conquistar aquele coração?
A única saída era arriscar-me uma aproximação e deixar acontecer
O que o destino havia nos reservado.
Não sei dizer ao certo se foram minhas palavras poéticas
Ou meu jeito tímido na abordagem
Mas seus olhos brilharam para mim e quis descobrir seu coração.
Um encontro foi marcado e o amor poderia acontecer.
Uma tarde de amor inesquecível nos braços daquela deusa
E meu coração não batia, corria loucamente.
Sua pele suave e perfumada
Sua voz tão delicada e sensual falando aos meus ouvidos
Palavras de amor e obscenidades
Causaram em mim a sensação maravilhosa do êxtase.
A taça de vinho, os beijos de sedução, os gemidos de prazer
Uma tarde perfeita para nunca esquecer.
Uma deusa perfeita para amar e na minha mente a grande pergunta:
Seria ela meu grande e verdadeiro amor
Que procurei a minha vida toda?
À noite o nosso encontro foi no calçadão da Praça Barão
Ao som de uma boa música ao vivo, chopp e sorrisos.
Ela linda em uma alegria contagiante
E eu a deslumbrar toda aquela euforia.
O mundo nos pertencia
E não precisava de mais nada para ser melhor.
Meu coração radiante com aquela beldade a minha frente
E meus pensamentos a voar em seus sonhos.
O amor, finalmente havia sorrido para mim.
Uma senhora não muito velha caminhava tristemente pela praça
Duas crianças a tiracolo pareciam desnutridas e com fome.
Do meu local eu observava seus movimentos
E interpelações aos transeuntes ao pedir-lhes alguma moeda.
Por um instante meus pensamentos foram até aquela senhora
Por que estaria naquele sofrimento?
A mulher atravessou a rua e veio em nossa direção
Eu a acompanhava com meu olhar e ela chegou perto da nossa mesa
Não tive tempo de falar nada e só observei
Aquela garota ali comigo foi abordada pela senhora com as crianças
Olhou para elas
Por um instante eu pude notar a indiferença e o desdém
Engoli em seco quando ela chamou o garçom e pediu para que as afastassem dali.
Seu sorriso se fora
Seu olhar era desprezível
E seu coração fora revelado.
Em mim a sensação de surpresa e decepção.
Como uma moça tão linda como aquela
Poderia ser tão insensível ao sofrimento humano?
E todo o amor e admiração que sentia por ela acabou em cinzas.
Em mim já não havia o desejo de estar com ela
Seus sorrisos agora me causavam angústia e eu só queria ir embora.
A sua beleza exterior fora sucumbida pela sua alma insensível
E meu amor por ela morreu naquela noite.
Em meu silêncio e em meio às lágrimas
Vejo o olhar daquelas crianças com fome
E a insensatez do coração humano.
Lembro-me, então, de ter me levantado
Com educação perguntei o que desejavam
- Moço, tenho fome e minhas filhas também.
E, mesmo sabendo que era muito pouco a se fazer,
Dei-lhes, naquela noite, o alimento que precisava.
Minha alma chora neste silêncio
A ilusão de mais uma decepção com as pessoas desumanas
Que habitam entre nós.
No celular as mensagens e ligações
De alguém que nunca mais atenderei...
Poema: Odair José, Poeta Cacerense
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