segunda-feira, 24 de maio de 2021

A casca da serpente

Abre-se o jornal na banca de revista da esquina 
E nem precisava 
Porque já está divulgada nas redes sociais 
O discurso do Presidente. 
Em tom de conciliação 
Tenta oferecer uma alternativa para o povo em polvorosa 
Desconfiados dos novos decretos 
Que ele não abre mão de estabelecer. 
Querem o veto 
Ao projeto de legalização do aborto 
E são contra as manobras para aprovação 
Da lei do desarmamento. 
Como um país como o nosso pode aceitar tal premissa? 
A liberdade religiosa é ameaçada 
E a censura toma conta dos meios de comunicação 
Enquanto nossos artistas são expulsos 
Por causa de suas canções. 
Ouve-se dizer aos quatro cantos 
Que uma nova era está chegando. 
Escondido entre a multidão 
Faca na mão 
Está o próximo assassino do mundo 
No ventre de uma jovem mãe 
Germina a vida que não deveria nascer 
A casca da serpente é vista entre as folhagens 
E o medo toma conta de tudo que valeu a pena um dia. 
Nas ruas misérias 
Nas vitrines o pavor 
Nas placas comerciais. 
Areias cobrem os olhos de quem não mais consegue enxergar 
Além de um palmo do nariz. 
Nem adianta mais ouvir os gritos 
Agora tão comum 
Por todo lado que se olha. 
E não pode se negar que um dia 
Houve um sonho tão real. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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