quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Cinismo

Na sombra pesada da escolha sombria, 
Caminha o silêncio de uma ironia. 
Um peso nos ombros, olhar que vacila, 
Sabe que o amanhã tem um preço que oscila. 

O tempo congela no instante primeiro, 
Em que a mão treme sobre o tinteiro. 
Há vozes que gritam, há rostos que clamam, 
Mas o destino exige que todos se calem. 

É preciso, diz a razão, com frieza, 
Que a dor se espalhe como correnteza. 
Inúmeras vítimas, um eco em ruínas, 
Marcam no chão as linhas tão finas. 

Uma tentativa, no escuro, se faz, 
De salvar o futuro em um ato audaz. 
Mas quem conta as almas que ficam atrás? 
Quem escreve o lamento que a história desfaz? 

Decidir é punir, é externar um cinismo, 
É dançar na borda de um grande abismo. 
A decisão pesa, é faca que corta, 
Uma vida que segue, outras tantas, mortas. 

 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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