Ergo-me diante dessa multidão eufórica
Extasiada e ao mesmo tempo confusa
Querem um sinal dos deuses
Corta-se, se rasgam e dilaceram-se
Na esperança fútil de que eles ouvirão
Os seus gritos.
Pedem fogo do céu para queimar o altar
Com o sacrifício.
Mas, os deuses são burros e impiedosos
Porque foram criados pelos homens
Humanamente cretinos como sua cria.
Quem te ensinou a ver o mundo dessa forma?
Em todas as sociedades lá estão eles
Nas tribos mais distantes
Nos grandes centros em grandes templos
Pendurados na parede
Emoldurados em madeira de lei
Mas, os deuses são burros e impiedosos
E no silêncio da noite
Eles também dormem o sono da indiferença.
Vejo a ignorância por todos os lados
A ilusão em todos os olhares
Heresias em cada evangelho hodierno
E um mundo indivisível
Cheio de angústia e violência.
Criaram-se o anticristo e o abraçam
Nas penumbras e avenidas da cidade
Mas, os deuses são burros e impiedosos
Eles arrancam o coração e comem com farinha
E deixam a alma para ser devorada pelos corvos.
Os deuses criados pelo ser humano
São as maiores ilusões
Que esse mesmo ser humano carrega
Sem saber que eles são burros e impiedosos.
Quem poderá julgar-me
Por tão severas palavras?
Eles continuam dilacerando-se
E os seus deuses zombam de sua ignorância.
Não dão a mínima por tudo que fazem
Porque, na verdade, eles não existem.
Poema: Odair José, o Poeta Cacerense
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