terça-feira, 21 de julho de 2020

A mulher que fugiu de Sodoma



A única coisa que conseguiu ver foi uma silhueta 
Que esgueirava pelas colinas 
E tentava furtivamente se esconder da luz do sol 
Escaldante e impiedoso que ofuscava sua visão. 
Um pesadelo terrível perpassava sua mente 
Causando pavor e angústia como nunca havia sentido 
E nem imaginado sentir na sua longa vida 
De luxo naquela cidade extravagante. 
Agora podia avistar ao longe apenas uma bola de fumaça 
Que erguia-se ao céu como um cogumelo gigante 
E que não podia obstruir o pavor que causava aos olhos 
Que outrora havia contemplado as belezas da campina verdejantes. 
Lágrimas de desespero corriam em sua face 
Agora tão ruborizada como um coração rasgado 
E os pesadelos de noites intermináveis teimavam em corroer-lhe 
A alma já fatigada pelo desespero de uma vida sem sentido. 
A ordem explícita de não olhar para trás 
Ainda ecoavam em seus ouvidos 
E era combatida pelo desejo de ver seus bens adquiridos 
Ao longo dos anos em que ali estivera a batalhar. 
Nada parece fazer mais sentido nesta vida miserável 
Porque uma fúria silenciosa tomava conta de seu coração 
Tudo que lutou para juntar agora viraria poeira e cinza 
E que coisa tão injusta isso poderia ser. 
Na sua angústia durante a fuga vertiginosa 
Não pode conter o desejo que a envolvia 
O que de pior poderia lhe acontecer ainda? 
E, ao olhar para a cidade em chamas, 
Tornou-se uma estátua de sal castigada pelo vento. 

Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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