quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Sangue nas calçadas

Um alto preço é preciso pagar 
Se queres a liberdade viver 
Não se pode nem dormir em paz 
Porque deveras será espancado 
A violência já faz parte do cotidiano 
Em uma sociedade hipócrita e preconceituosa. 

Espanca-se o negro no terminal rodoviário 
A trans no regresso para casa 
A mulher dentro da sua própria casa 
E os espancadores, quase sempre, 
São "homens de bem", conservadores 
Detratores e violentos 
Que se acham donos da razão. 

Há um silêncio na sociedade 
Um silenciamento das vozes inquietas 
Não se pode falar contra esse sistema arcaico 
Contra esse fanatismo ideológico 
Que corrói a sociedade como um câncer 
Que invade as casas e arrastam os inocentes 
Porque a cor de sua pele é diferente. 

Há sangue nas calçadas 
Lágrimas silenciadas nas casas da periferia 
Onde mais um filho não retornou 
Por causa de uma bala "perdida" 
Nos confrontos de policiais e traficantes 
E temos que acreditar nas versões oficiais 
Nos dados das autoridades. 

Triste momento de nossa história 
Onde o sacrifício é real 
Onde temos hora de acordar para trabalhar 
Mas não sabemos se vamos voltar 
O mundo lá fora é assustador 
Mas se ficarmos aqui dentro vamos morrer 
Porque a fome não espera e não tem compaixão.

Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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