segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Sobre Cáceres, MT

 I
 
Antes que o tempo bordasse os contornos da terra, 
O sol já repousava sobre o espelho das águas, 
E o rio — esse velho Paraguai de alma serena 
Cantava segredos às margens sagradas. 
Foi então que as vozes indígenas 
Ergueram aldeias ao sopro do vento, 
Onde o verde do mato e o ouro da tarde 
Se encontravam em puro encantamento. 
Veio o missionário, com cruz e esperança, 
Trazendo o verbo, a fé e a lembrança. 
Nasceu Cáceres, entre o sonho e o barro, 
Um relicário erguido do amor e do trabalho. 
 
II 
Oh Cáceres! Princesinha coroada de brisa, 
Que o Paraguai embala como mãe que acaricia. 
Teus casarões, de janelas azuis e saudades, 
Guardam histórias de antigas vontades. 
Das tropas e das canoas, ergueu-se o destino, 
Entre o sino da Matriz e o canto do menino. 
Tuas ruas são veias de um coração antigo, 
Onde o passado caminha ao lado do amigo. 
És rainha das águas, dos peixes e das festas, 
Dos carnavais de rua e procissões modestas. 
Em teu céu brilham memórias de outrora, 
Onde o tempo repousa e o povo comemora. 
 
III 
Teus filhos são feitos de sonhos e coragem, 
Lavradores da alma, poetas da paisagem. 
Cantam modas de viola, dançam cururu e siriri, 
E ao toque do tambor, o sagrado volta a florir. 
No cais em fins de tarde, o vento traz lembranças, 
Das boiadas, das promessas e das andanças. 
Cada pedra da praça tem uma linda história, 
Cada esquina respira uma bela memória. 
O povo de Cáceres é rio que não se cala, 
É fé que não morre, é luz que embala. 
No calor do sertão, na sombra do ipê, 
Há um sonho guardado, pronto para renascer. 
 
IV 
E no coração da cidade, entre versos e auroras, 
Surge um nome que o tempo não devora: 
Natalino Ferreira Mendes, trovador do Pantanal, 
Cuja pena é rio, anhuma, lavadeiras e festival. 
Em suas rimas, Cáceres ganha corpo e voz, 
A cidade se faz gente, e o povo, um todo em nós. 
Ele escreveu o perfume da tarde que declina, 
E a alma sertaneja que o destino ilumina. 
Oh poeta das águas, guardião da beleza, 
Tua poesia é flor que desafia a dureza. 
Por isso, a cidade canta mais alto e sorri, 
Porque há o eco da alma cacerense em ti. 
 
Hoje, Cáceres continua — entre ontem e agora, 
Tecendo esperanças que o tempo decora. 
Suas escolas, seus barcos, seu povo gentil, 
São sementes da história no solo do Brasil. 
E o Paraguai, velho rio enamorado, 
Beija-lhe as margens com cuidado. 
Pois sabe que a Princesinha jamais morrerá, 
Enquanto a poesia de Natalino ecoar. 
Que este canto permaneça, nas margens do luar, 
Como reza, memória e verbo a navegar. 
Pois quem bebe da fonte cacerense do saber 
Volta sempre, renascido, e vê a cidade renascer. 
 
Salve Cáceres, Princesinha do Rio Paraguai! 
Parabéns pelos seus 247 anos! 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense 
Dedicado, também, ao saudoso poeta cacerense, Natalino Ferreira Mendes

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