quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Muros invisíveis

 Nasci dentro de muros invisíveis, 
Erguidos pela argila da carne e pelo peso do tempo. 
O mundo me chama, 
Mas tudo o que vejo chega filtrado por grades sutis, 
Luzes que se quebram 
Nas paredes do meu próprio cárcere. 
 
Sou espírito acorrentado ao corpo, 
Uma chama que queima dentro de um lampião opaco. 
Cada dor que me atravessa não pode ser dividida, 
Cada alegria que me visita não pode ser entregue. 
Tudo pulsa em solidão, 
Mesmo quando sorrisos se cruzam 
Ou quando mãos se entrelaçam em aparente consolo. 
 
O sofrimento, eu o carrego como ferida secreta, 
Um corte que ninguém enxerga, 
Um sussurro que não encontra ouvidos. 
Ele me visita à noite, 
Quando o silêncio devora as paredes da casa 
E só resta o eco do meu próprio pensamento. 
 
O prazer, por sua vez, é visita breve, 
Relâmpago que explode no íntimo 
E desaparece antes que alguém o perceba. 
É um gozo fechado em si, 
Um riso que não atravessa o muro, 
Um êxtase que só o cárcere conhece. 
 
Assim caminho: 
Um condenado que ri sozinho, 
Que chora sozinho, 
Que ama sozinho. 
E por mais que me lance ao encontro dos outros, 
Descubro que cada ser é uma ilha, 
Um arquipélago de espíritos isolados, 
Ligados apenas pela ilusão de pontes frágeis. 
 
No fundo, sei que a vida é isto: 
Um corredor de ecos, 
Onde cada alma grita seu destino 
E escuta apenas o som de sua própria voz. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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