Entre medos e vontades mal costuradas,
Me fiz abrigo,
Mesmo sem saber acolher a mim.
Aprendi a ser assim,
Porque ninguém soube me perguntar
Como eu realmente estava.
Então, fui criando respostas com o corpo,
Com o silêncio, com o olhar.
Cada ausência me ensinou a presença
De mim mesmo.
Foi no vazio dos outros
Que descobri a urgência de me escutar.
Guardei afetos nos bolsos,
Como quem esconde cartas que nunca envia.
E essas cartas, ainda hoje,
Sussurram meu nome quando a noite chega.
Sou feito de repetições que me protegeram,
De palavras que calei para não romper vínculos,
De sonhos pequenos
Porque os grandes assustavam quem eu amava.
Hoje entendo:
Não fui me tornando por acaso.
Fui me moldando devagar,
Com ternura e dor,
Como quem se aprende
Porque precisa sobreviver
Ao próprio coração.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense
Nenhum comentário:
Postar um comentário