segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Sobre mim mesmo

 Sou o que sobrou dos dias em que me escondi. 
Entre medos e vontades mal costuradas, 
Me fiz abrigo, 
Mesmo sem saber acolher a mim. 
 
Aprendi a ser assim, 
Porque ninguém soube me perguntar 
Como eu realmente estava. 
Então, fui criando respostas com o corpo, 
Com o silêncio, com o olhar. 
 
Cada ausência me ensinou a presença 
De mim mesmo. 
Foi no vazio dos outros 
Que descobri a urgência de me escutar. 
 
Guardei afetos nos bolsos, 
Como quem esconde cartas que nunca envia. 
E essas cartas, ainda hoje, 
Sussurram meu nome quando a noite chega. 
 
Sou feito de repetições que me protegeram, 
De palavras que calei para não romper vínculos, 
De sonhos pequenos 
Porque os grandes assustavam quem eu amava. 
 
Hoje entendo: 
Não fui me tornando por acaso. 
Fui me moldando devagar, 
Com ternura e dor, 
Como quem se aprende 
Porque precisa sobreviver 
Ao próprio coração. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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