domingo, 11 de maio de 2025

Na noite absoluta

A noite desceu sem nome, 
Espessa como o silêncio entre dois desconhecidos. 
Nela, o tempo se dissolveu em absinto 
Verde, amargo, incendiando as veias 
Com lembranças que nunca aconteceram. 
 
Cada gole era um rito, 
Um afundar lento na vertigem do Eu. 
Ao redor, corpos dançavam sem gravidade, 
Palavras evaporando 
No hálito dos que ousaram olhar para dentro. 
 
Não era festa — era oferenda. 
Ali, entre sombras e fumaça, 
Alguns rasgaram as peles herdadas, 
Escapando das formas ditas humanas. 
 
Tornaram-se deuses de si mesmos, 
Não por poder, mas por abandono: 
Despiram as promessas, os medos, os espelhos, 
E ergueram no lugar um altar de carne e dúvida. 
 
Na noite absoluta, 
Não há juízes, nem salvação 
Apenas a possibilidade brutal 
De existir sem desculpas. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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