quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Divagação de um poeta na noite de sua vida


Nesta solidão que me cerca 
Eu contemplo o seu olhar a me conduzir 
Ao infinito do meu pensamento 
Que procura nas lembranças de tempos remotos 
A alegria do seu sorriso nas manhãs de primavera. 
O tempo passa lentamente nos olhos cansados 
E a brisa da tarde chega suave espantando o calor 
De um sol amarelo que procura se esconder 
No horizonte distante 
Atrás das árvores refletidas nas águas a serpentear 
As colunas de areia. 
 
Tento esquecer o seu sorriso que tanto me acalentava 
Seus olhos a me dizer o que havia no seu coração 
Sua forma esbelta de olhar para as nuvens 
E deixar os pensamentos 
Escorrerem pela sua boca pequena. 
Há uma profunda dor que incomoda lentamente 
E aumenta conforme as horas vão passando. 
É como se as areias da ampulheta quisesse dizer 
Que o tempo não volta mais. 
 
Na verdade eu já sei de tudo isso 
Mas parece que as respostas para as minhas perguntas 
Já não são capazes de convencer-me de que a realidade 
É esta mesma que está diante de mim. 
 
Observo o beija-flor que bate suas asas incansavelmente 
E paira no ar como se me olhasse 
E eu quero ser livre como ele. 
Então deixo escorrer de meus olhos aquela lágrima teimosa 
Que procura fugir do silêncio que me cerca. 
Percorro as campinas verdejantes a minha frente 
Mas nem sei se são verdes as folhas que contemplo. 
Meus olhos confundem-me a todo instante 
E o que sinto nem sempre é o que estou sentindo 
Pois meus sentimentos são como as miragens do deserto. 
 
Você é como essa estrela que estou olhando 
Que vejo brilhar e ofuscar a minha visão 
Então levanto as minhas mãos e você se afasta 
E quanto mais corro em direção a ela 
Mais longe ela fica de mim. 
Não sei porque foi preciso caminhar nesta estrada 
Que só me prende as lembranças 
De um tempo que não volta mais. 
 
Meus dedos estão encurvados 
Eles nãos querem mais escrever sobre isso 
Querem um descanso para seus ossos e músculos 
Mas o pensamento divaga 
Eles precisam ser pontuados e eternizados neste papel. 
Não adianta pensar tudo isso e não falar 
Onde mais encontraria respostas para estas perguntas? 
Não são as respostas que movem o mundo 
Mas o que seria do mundo se não houvesse as perguntas? 
 
Agora meus passos são lentos 
Não tenho pressa mais de chegar a qualquer lugar 
Quero olhar tudo a minha volta 
Sentir o perfume das flores e ouvir o canto dos pássaros. 
Não me importa a distância 
Nem o medo pode me afastar de buscar essa esperança 
Esse olhar que se destaca na multidão. 
 
Na minha mente há uma enorme confusão 
Perguntas sem respostas me torturam 
Pois preciso saber quem é você 
E como surgiu assim na minha vida. 
Não pode simplesmente aparecer do nada e mudar tudo assim 
Sem uma explicação plausível. 
Agora eu preciso ir 
Para o meu caminho 
E preciso esquecer tudo isso 
Que permeia os meus sentimentos. 
Só quero sentir suas mãos suaves a acariciar meus cabelos 
E sua voz me dizendo para acreditar nos seus olhos. 
 
Eu apenas quero deixar o vento levar meus pensamentos 
E meus dedos registrar 
O que sinto no meu coração 
Nesta noite de nostalgia 
Quando penso no seu olhar tão lindo. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

Nenhum comentário:

Postar um comentário