quinta-feira, 15 de julho de 2021

Bala perdida, chocolates e vacinas

Perambula feito ébrio pelas ruas vazias 
Não existe esperança e nem mesmo tristeza 
No fundo nem mesmo sabe o que sente 
Solidão 
Alegria 
Uma sensação de vazio existencial 
Ou o êxtase de ser um ser tão importante. 
Quem poderá dar as respostas que ninguém sabe as perguntas? 
Por que ainda ouve os choros nas casas abandonadas? 
Há sons de cantos e danças nas vilas 
Luzes acesas e fumaças subindo em direção ao céu 
Enquanto uma criança está sozinha em um canto qualquer 
Com a cabeça entre as pernas tremendo de frio. 
Jovens pulam em volta da fogueira 
Parecem possuídos ou sob efeito das drogas 
Uma senhora grávida carrega um pesado balde na cabeça 
Sem direção certa. 
Caminhos de uma sociedade líquida 
Onde os amores não fazem mais sentido algum 
E os sonhos são desfeitos 
Na trajetória de mais uma bala perdida 
Que, na verdade, tinha uma direção certa 
A cabeça de mais um pequeno inocente da favela. 
Lá na Capital Federal eles discutem 
Os sexos dos anjos, as cores do arco-íris 
E desviam milhões de reais em propinas 
Chocolates, vacinas 
Parece mais ser o fim de uma sociedade 
Que não pensam no próximo 
Orgulho 
Egoísmo 
Para de perambular pelas ruas desertas 
E deita sob a frondosa figueira solitária 
Na saída da cidade 
Onde poderia ser a entrada se assim o quisesse definir. 
Tudo é tão confuso como os vaga-lumes que sobrevoam sua cabeça 
E os grilos que cantarolam despreocupados 
Então fecha os olhos e abraça a escuridão. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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