quinta-feira, 11 de agosto de 2022

A escória da humanidade

Gritam impropérios naquela rua 
E não conseguimos decifrar quem está lá 
Misturado ao lixo 
Vidas miseráveis jogadas ao relento 
Escondendo sob as folhas rasgadas de jornais velhos 
Gritarias por causa de algum corotinho 
Algazarras de trôpegos 
E assovio entre as fumaças. 
 
 A lua se escondeu de vergonha 
Entre as árvores já picotadas 
Nos postes cartazes de propagandas antigas 
Enquanto um cachorro sarnento levanta suas patas 
Deixando um fedor ocre entre as catingas do lugar 
E alguns vermes observam silenciosamente 
As criaturas disputando um resto de pinga no corotinho. 
 
Foi assim que você aprendeu na escola 
Que não se deve importar tanto assim com o mundo 
O caos instalado na sociedade 
Que empurram com braços fortes 
Milhares de pessoas indefesas para a sarjeta 
Como se fossem a escória da humanidade 
Como se não houvesse ali uma alma a ser salva. 
 
Levantem-se e esbravejem 
Rasguem suas vestes já rotas pelo tempo 
Deixem que vejam os seus rostos machucados 
Marcados pelo abandono e desprezo 
Quem sabe assim eles não se esqueçam do menosprezo 
E percam o sono em suas mansões bem vigiadas 
Cercadas de seguranças por todo lado. 
 
Vão dizer que vocês não tem nada a falar 
Que reclamam de barriga cheia 
Quando eles se esbaldam nas suculentas porções
E saboreiam vinhos importados
Jogam o que sobram nos latões de lixo 
Que agora estão diante desses pobres coitados 
Que continuam brigando pelo corotinho de pinga. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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