domingo, 1 de dezembro de 2024

O homem esquecido

Entre arranha-céus que rasgam o céu cinzento, 
Caminho só, no silêncio do vento. 
O mundo avança, veloz, destemido, 
E eu, parado, sou um eco perdido. 

Robôs brilham onde antes havia suor, 
Falam de progresso, mas onde está o amor? 
Conexões de fibra, frias como o aço, 
E eu, de carne, tropeço no espaço. 

Meus pés conhecem a terra, o chão bruto, 
Não o brilho efêmero de um mundo astuto. 
Minhas mãos guardam histórias, calos e dor, 
Mas hoje são sombras de um tempo anterior. 

Sou ponte esquecida entre o ontem e o amanhã, 
Uma voz que se apaga, eco de um afã. 
Não sei da língua das máquinas nem seus sinais, 
Minha poesia é feita de versos ancestrais. 

Para o mundo evoluído, sou um erro do tempo, 
Um suspiro antigo, levado pelo vento. 
Mas se sou esquecido, que reste o saber: 
A alma humana, nem o aço pode conter. 

Deixo aqui meu legado, em palavras escritas, 
Pois mesmo no esquecimento há vidas infinitas. 
Para o futuro que nasce, um simples pedido: 
Não esqueçam o homem, o homem esquecido. 

 Poema: Odair José, Poeta Cacerense