Pesadelos de noites mal dormidas
Era o que poderia ter descrito na lápide silenciosa
Mesmo no escuro da alma onde se escondia
E insistia em não ouvir os grilos em sua festa particular
No desespero de uma alma tão vazia como o abismo
Onde tentava, mesmo sem esperança, esconder sua dor.
Falava baixinho para si mesmo
Uma história que ninguém mais queria ouvir
Contos e fantasias de uma mente tão insana e vazia
Como a devastação do Vesúvio
E mesmo assim caminhava pela estrada cheia de transeuntes
E não dava a mínima para os rostos bucólicos
Que via na sua frente.
Escrevia na parede suja do viaduto
Ou será que pintava uma figura diabólica de uma lembrança
Que atormentava suas noites intermináveis
Como as tardes insuportáveis de calor no verão
Daquela cidade que nunca conseguira deixar para trás.
Esconder o que se todos podiam ver escancarado em sua face
As incertezas que agarravam suas memórias
Dando a impressão de fazer-lhe companhia como as estrelas na noite de luar.
Bem que desejou não mais padecer
As agruras de pensamentos insólitos
Figuras emblemáticas no recôndito da alma
Uma fagulha prestes a explodir com a sensação inquieta
No semblante perturbado de dias ensolarados na cabeça.
Como poderia deixar de pensar nestas coisas
Se via o vento carregar folhas secas de árvores centenárias
Ruas silenciosas que pareciam esconder monstros em cada buraco nas paredes
E sabia que tudo não passava de fantasmas de uma mente doentia
De olhos que não conseguiam fechar no escuro da existência
Em que vultos tenebrosos percorriam os espaços da mente.
Palavras vazias, sempre pensava consigo mesmo,
Que não podem ser faladas livremente sem correr o risco
De serem amordaçadas na penumbra de um quarto qualquer
Em vasos de flores pendurados na varanda.
Nem notava os latidos dos cachorros
O caminhar lento e cansado do velho que batalhou a vida toda
E não se importa nem mesmo com o choro das crianças
Quando se concentra nas letras garrafais do livro antigo
Com folhas amareladas pelo tempo
E gastas pelas mãos que nele pegou
Os olhos que leram sua história de final tão trágica.
Abre os olhos devagar e tenta ver a claridade
Tudo é ofuscado pela ternura de um olhar tão meigo
Como se toda beleza do mundo estivesse ali
E desliza suas mãos para a pena que poderá usar em sua escrita
No desejo intenso de registrar tal momento tão sublime
Que nunca mais poderá encontrar
Se não descrever minuciosamente toda sua emoção
Ao contemplar tão misterioso olhar.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense
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