segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Como poderia deixar de pensar nestas coisas


Pesadelos de noites mal dormidas 
Era o que poderia ter descrito na lápide silenciosa 
Mesmo no escuro da alma onde se escondia 
E insistia em não ouvir os grilos em sua festa particular 
No desespero de uma alma tão vazia como o abismo 
Onde tentava, mesmo sem esperança, esconder sua dor. 
 
Falava baixinho para si mesmo 
Uma história que ninguém mais queria ouvir 
Contos e fantasias de uma mente tão insana e vazia 
Como a devastação do Vesúvio 
E mesmo assim caminhava pela estrada cheia de transeuntes 
E não dava a mínima para os rostos bucólicos 
Que via na sua frente. 
 
Escrevia na parede suja do viaduto 
Ou será que pintava uma figura diabólica de uma lembrança 
Que atormentava suas noites intermináveis 
Como as tardes insuportáveis de calor no verão 
Daquela cidade que nunca conseguira deixar para trás. 
 
Esconder o que se todos podiam ver escancarado em sua face 
As incertezas que agarravam suas memórias 
Dando a impressão de fazer-lhe companhia como as estrelas na noite de luar. 
 
Bem que desejou não mais padecer 
As agruras de pensamentos insólitos 
Figuras emblemáticas no recôndito da alma 
Uma fagulha prestes a explodir com a sensação inquieta 
No semblante perturbado de dias ensolarados na cabeça. 
 
Como poderia deixar de pensar nestas coisas 
Se via o vento carregar folhas secas de árvores centenárias 
Ruas silenciosas que pareciam esconder monstros em cada buraco nas paredes 
E sabia que tudo não passava de fantasmas de uma mente doentia 
De olhos que não conseguiam fechar no escuro da existência 
Em que vultos tenebrosos percorriam os espaços da mente. 
 
Palavras vazias, sempre pensava consigo mesmo, 
Que não podem ser faladas livremente sem correr o risco 
De serem amordaçadas na penumbra de um quarto qualquer 
Em vasos de flores pendurados na varanda. 
 
Nem notava os latidos dos cachorros 
O caminhar lento e cansado do velho que batalhou a vida toda 
E não se importa nem mesmo com o choro das crianças 
Quando se concentra nas letras garrafais do livro antigo 
Com folhas amareladas pelo tempo 
E gastas pelas mãos que nele pegou 
Os olhos que leram sua história de final tão trágica. 
 
Abre os olhos devagar e tenta ver a claridade 
Tudo é ofuscado pela ternura de um olhar tão meigo 
Como se toda beleza do mundo estivesse ali 
E desliza suas mãos para a pena que poderá usar em sua escrita 
No desejo intenso de registrar tal momento tão sublime 
Que nunca mais poderá encontrar 
Se não descrever minuciosamente toda sua emoção 
Ao contemplar tão misterioso olhar. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

Nenhum comentário:

Postar um comentário