quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Não eram bruxas, eram apenas mulheres


Não se engane 
Elas poderiam ser qualquer uma 
Poderia ser a sua avó 
Poderia ter rugas ou verrugas 
Usar um chapéu na cabeça para proteger-se do sol 
Poderia fazer um chá de ervas 
Ou mesmo ter um gato preto na sua casa 
Poderia ter tudo isso 
Mas, eram apenas mulheres 
E as mulheres sempre foram um perigo 
Principalmente as habilidosas 
As que sabiam lidar com a vida cotidiana 
Essas sempre causaram pavor 
Ameaçavam as estruturas da Igreja 
Por isso só as fogueiras poderiam detê-las. 
Torturadas 
Excomungadas 
Eram expostas à vergonha pública 
Obrigadas a confessar coisas indescritíveis 
Que beijavam ânus de gatos 
Que bebiam sangue humano 
Que sacrificavam crianças recém-nascidas 
E isso fazia o mito das bruxas se propagar. 
Então eram perseguidas 
Demonizadas 
Desprezadas 
Incriminadas 
Em nome da ideologia cristã de salvação. 
Como seriam salvas se tinham pacto com o diabo? 
Como poderiam ser perdoadas de tamanha blasfêmia? 
Só o fogo poderia purificá-las 
Salvar-lhes as almas. 
As mulheres belas eram uma ameaça 
Poderiam engravidar dos seres infernais 
As mulheres sem beleza natural 
Eram consideradas receptáculos de magias 
Até foram acusadas de causar a Peste Bubônica 
Como sobreviver a tudo isso? 
Torturas 
Fogueiras 
Afogamentos 
Enforcamentos 
Tantos tormentos 
Até quando serão perseguidas? 
Não eram bruxas 
Não são bruxas 
Nunca foram bruxas 
São apenas mulheres! 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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