sexta-feira, 29 de abril de 2022

Enquanto dormia

Cansado da caminhada 
Deixei-me cair na sombra da frondosa árvore 
Refúgio para os viajantes nas tardes de calor; 
Em mim havia a esperança 
De alcançar a flor levada pelo vento 
Onde cuidava eu estar o amor. 
 
 O vento suave amenizava a fadiga 
E o cansaço levou-me ao sono 
Que logo roubou a minha visão; 
Deitei-me na relva sob a árvore 
E observei as borboletas a voarem 
Formando o que parecia ser um coração. 
 
 Se não tivesse dormido aquela tarde 
Teria visto o que aconteceu 
Mas nunca saberei, de fato, toda história; 
Apenas levo no pensamento 
O que não consigo decifrar se foi sonho 
Ou realidade o que tenho na memória. 
 
Mal tinha fechado os olhos 
Um casal passou por ali 
E em seus olhos havia um ar de curiosidade; 
Desejava encontrar alguém 
Que pudesse ser como um filho 
E seu nome levasse para a posteridade. 
 
Entre eles houve um breve diálogo 
Se me acordava e convidava 
Para ser o filho adotivo desejado; 
Seria alguém para conversar 
Ensinar lições preciosas 
E, no coração deles, seria amado. 
 
No fundo mesmo o que queriam 
Era alguém que pudesse herdar o que tinham 
Sua fortuna deixaria nesta vida; 
Eu nem nos melhores sonhos poderia imaginar 
Que o casal que me olhava 
Pudesse mudar minha situação sofrida. 
 
Enquanto dormia o sono dos anjos 
A riqueza bateu a minha porta 
Mas não quis tirar-me do descanso; 
Então o casal olhou para o dormente 
E continuaram a sua trajetória 
Deixando-me sob o tempo suave e manso. 
 
O sol agora já começava a declinar-se 
Suavemente no horizonte 
Colorindo de cores vibrantes o céu no verão; 
E eu dormindo o sono dos justos 
Sonhando com um amor que se foi 
Deixando em frangalhos o meu pobre coração. 
 
Então surge na estrada 
A moça mais linda que poderia existir 
De beleza tão ímpar como a primavera; 
Ela para diante do jovem a dormir 
Por um instante mágico o contempla 
Sem saber que ele o amor a tanto tempo espera. 
 
 Ela pensa em roubar-lhe um beijo 
E se dobra diante de seu rosto 
Mas, como poderia, de tão belo sono acordar-lhe; 
Parou por um instante 
Refletiu sobre a sua vida 
E espantou um mosquito que tentava perturbar-lhe. 
 
Não era justo interromper 
Tão magnífico sono como aquele 
O certo era ir embora e enfrentar o calor; 
 Ela se foi e eu não percebi 
Que aquela donzela tinha o que procurava 
O mais puro e verdadeiro amor. 
 
Enquanto dormia o sono de descanso 
O amor bateu a minha porta 
E não quis interromper a minha sonolência; 
Virei-me para o lado confortavelmente 
E viajava em meus sonhos 
Sem saber que perdia muito na minha inocência. 
 
Foi então que apareceu o malfeitor 
Vinha fugindo de algum lugar 
E não tinha nada de bom em seu coração; 
Ao me ver ali dormindo 
Pensou em roubar-me o que tivesse de valor 
Ir embora com meus recursos e deixar-me na mão. 
 
Arrancou a sua faca 
Caso eu tivesse alguma reação 
E nos bolsos tentou ver o que havia; 
Revirei-me na relva e o assustei 
Olhando para os lados se retirou 
E eu dormindo nem sabia o que comigo acontecia. 
 
Enquanto dormia o sono da liberdade 
A morte passou tão perto de mim 
Que poderia ter profundamente me assustado; 
Mas estava tão entregue ao sono 
Que não percebi nada disso 
E, por muito tempo, permaneci ali deitado. 
 
O sol já havia se escondido 
Quando acordei para a vida 
E percebi que precisava continuar; 
Depois de sacudir a poeira 
Não sabia eu nada do que aconteceu 
E, na estrada a luz das estrelas, pus-me a caminhar. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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