quinta-feira, 28 de abril de 2022

Resta um poeta morto!

Às vozes se calaram agora 
Cessaram as cantorias 
Ninguém ousa dançar 
Nem mesmo os pássaros 
Apenas os grilos ousam quebrar o silêncio 
Tão quieto que se pode ouvir a respiração 
Dos que antes exultavam de alegria... 
 
O poeta está morto 
Deixou de registrar a sua revolta 
As suas incertezas já não causam mais pavor 
O olhar que tinha sobre o mundo se foi 
Resta um poeta morto 
Na sua solidão contínua 
Por viver em um mundo que não lhe presta nenhuma atenção. 
 
Então, que se dane todo mundo 
Que pisem o seu cadáver 
Que queimem suas poesias 
Seus versos não podem ser imortalizados 
Eles incomodam 
Perturbam a ordem pública 
De gente que só quer viver um vida boa. 
 
Se esse poeta não morresse 
O mundo nem mesmo sentiria sua falta 
Deixaria que morresse de outra forma 
No abandono de uma vida medíocre 
Embrulhado nas folhas rasgadas de seus cadernos empoeirados. 
 
Mataram o poeta 
Ignoraram as suas palavras 
Taparam os ouvidos para não ouvirem as declamações 
E ligaram seus celulares 
Para ouvirem suas músicas preferidas. 
 
Por que não calam a boca dele? 
Alguns pensavam em silêncio, 
Suas palavras causam comichões nos ouvidos 
São duras e realistas demais 
Quando preferimos o sono indolente 
A ociosidade nos embala e não queremos sair da caverna. 
 
Ainda bem que o poeta morreu 
Parou de falar seus poemas 
Cessou de escrever seus versos contumazes 
Que escancarava a nossa mediocridade 
Fecham a porta do esquife 
Vai que ele ressuscite e volte tudo de novo 
Sua luz poderia ofuscar os nossos olhos, 
Vedem a tampa do caixão e jogue logo a terra por cima 
Apague, de uma vez, a sua memória! 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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