quinta-feira, 14 de abril de 2022

Que se calem todas as vozes!

Será mesmo que temos escolhas 
Ou tudo já foi escolhido antecipadamente 
E somos apenas induzidos a acreditar nas falácias 
De que a escolha é nossa 
E as consequências também. 
 
E se dissessem que este não é o caminho 
Que andamos a ermo e nem mesmo sabemos para onde estamos indo 
Porque nunca saímos do mesmo lugar onde sempre estivemos 
Que tudo não passava de sonhos que nunca foram sonhados? 
 
Já pensou que quando você acredita 
Que está subindo as escadas 
Na verdade não existe escada nenhuma e é tudo fruto da sua imaginação 
Que não passa de uma construção metafórica 
Ondulações de mares que sucumbiram na escuridão? 
 
Canções de marasmos 
Versos rasgados pelo chão em folhas levadas pelo vento 
Palavras que se perdem na imensidão 
De uma ignóbil solidão atroz de oradores medíocres 
E alguém grita na multidão: 
Que se calem todas as vozes! 
 
Talvez o destino seja apenas as cores desbotadas nas paredes 
O som estridente em suas têmporas atrofiadas 
Desejos de pessoas atordoadas com a temporalidade 
Loucos desvairados em suas máquinas desenfreadas 
Pelas ruas agitadas das grandes cidades 
E ninguém liga para o que acontece com você. 
 
Será mesmo que eu escolhi levantar hoje cedo 
Trabalhar o dia todo 
E nem mesmo saber o que aconteceu nas trilhas das formigas 
Que carregavam folhas no portão da minha casa? 
 
Se existe uma escolha para o viver 
Diga-me onde estava nos momentos em que desejava estar aqui 
E não sabes o que aconteceu ontem a noite 
Porque ouviu alguém esbaforido gritando a todos pulmões: 
Que se calem todas as vozes! 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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