Ainda que imposta, 
Há que rejeitar-se, sempre, 
A normalização do absurdo. 
Porque o hábito é um veneno doce, 
E o silêncio, uma forma de consentir. 
Chamam de ordem o que é submissão, 
De paz o que é medo, 
De progresso o que é ruína disfarçada. 
Mas há um grito que não se dobra, 
Um lampejo que resiste na sombra. 
É nele que o humano se afirma, 
Não no aceitar, mas no negar o inaceitável, 
Não no conformar-se, mas no desobedecer 
À mentira repetida até parecer verdade. 
O absurdo quer ser rotina, 
Quer sentar-se à mesa 
E brindar à indiferença. 
Mas quem ainda sente, 
Quem ainda sonha, 
Quem ainda se indigna, 
É a rachadura por onde entra a luz. 
E por essa fresta, 
A liberdade respira. 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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