sábado, 8 de novembro de 2025

Talvez Deus esteja dormindo

 Tudo é cinza e descascado por aí. 
O tempo mastiga as fachadas, as almas, os nomes. 
Os relógios já não marcam horas, 
Apenas feridas que se repetem. 
 
Tento falar com Deus, 
Mas o horário de visitas já passou. 
As portas do céu rangem 
Como portões enferrujados de hospício, 
E o silêncio é o único padre de plantão. 
 
As correntes nos meus pés pesam mais 
Do que um milhão de mundos esquecidos. 
Cada elo guarda o eco de uma prece que não chegou, 
De um sonho que apodreceu no ar. 
 
Caminho — se é que isso é caminhar, 
Entre os escombros da fé e da carne, 
Onde até a luz 
Parece cansada de fingir que ainda é luz. 
 
Conto as horas e ignoro os minutos, 
Como quem mede o infinito em parcelas de tédio. 
Porque o que dói não é o tempo que passa, 
Mas o tempo que fica preso dentro da gente. 
 
Talvez Deus esteja dormindo. 
Ou talvez sejamos nós 
Que nunca mais acordamos. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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