O tempo mastiga as fachadas, as almas, os nomes.
Os relógios já não marcam horas,
Apenas feridas que se repetem.
Tento falar com Deus,
Mas o horário de visitas já passou.
As portas do céu rangem
Como portões enferrujados de hospício,
E o silêncio é o único padre de plantão.
As correntes nos meus pés pesam mais
Do que um milhão de mundos esquecidos.
Cada elo guarda o eco de uma prece que não chegou,
De um sonho que apodreceu no ar.
Caminho — se é que isso é caminhar,
Entre os escombros da fé e da carne,
Onde até a luz
Parece cansada de fingir que ainda é luz.
Conto as horas e ignoro os minutos,
Como quem mede o infinito em parcelas de tédio.
Porque o que dói não é o tempo que passa,
Mas o tempo que fica preso dentro da gente.
Talvez Deus esteja dormindo.
Ou talvez sejamos nós
Que nunca mais acordamos.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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