Teu olhar foi a pausa entre dois séculos,
E nesse intervalo suspenso,
Onde o ar se tornou memória,
O universo esqueceu o próprio nome.
O som das máquinas cessou,
As cidades ficaram de joelhos diante do instante,
E as estrelas, como se voltassem à infância,
Piscaram com o espanto
De quem vê o primeiro nascer do sol.
Ali, onde o tempo hesitou,
Me vi dissolver naquilo que não tem medida.
Não havia mais passado nem promessa,
Só um fio de eternidade
Se desenrolando dentro da tua íris.
Teu olhar, esse abismo de calma,
Me revelou que o infinito é uma invenção breve,
Um segredo guardado
Na respiração entre dois pensamentos,
Na fronteira
Onde o real se despede do nome que carrega.
Fiquei ali, imóvel,
Ouvindo o silêncio
Que cresce quando o sentido desaparece.
Percebi que o corpo não cabe em si,
Que a alma é uma vertigem que busca espelho,
E que talvez amar seja apenas reconhecer-se
No reflexo de um tempo que não volta.
Teu olhar me deu essa revelação:
Que o ser é instante,
Que o instante é tudo,
E que, por um breve milagre,
Ser finito pode conter o infinito.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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