domingo, 9 de novembro de 2025

O vírus é a palavra

 O vírus é a cura. 
Ele entra pelas fendas do silêncio, 
E desperta o que dorme nas margens da carne. 
Ele elimina os obstáculos da mente 
Os enigmas obscuros da existência. 
 
O vazio é o parasita, 
Cresce onde não há verbo, 
Onde o pensamento permanece mudo. 
Aloja-se no âmago do sentimento 
Como se possuísse o saber escondido. 
 
Os corpos ocos estão infectos, 
Mas é a infecção que os devolve ao sentido: 
Cada palavra é uma febre, 
Cada frase, 
Uma ferida que cicatriza por dentro. 
 
O vírus é a palavra. 
Espalha-se pela escrita, 
Transmite-se pelo olhar de quem lê. 
Expande a mente além da superfície 
Dando novo sentido a existência. 
 
O vazio é eliminado 
Se as palavras são escritas, 
Porque escrever é contaminar o nada, 
E dar ao silêncio um corpo doente, 
Capaz de dizer-se vivo. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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