As ruas antigas, que um dia guardaram passos lentos,
Agora tremem sob a pressa de relógios que ninguém controla.
Não culpamos o passado por ter sido brando:
Ele apenas dormia enquanto o futuro afiava suas lâminas.
As transformações não pediram licença.
Chegaram como vento que troca de direção no meio da noite,
Fazendo as janelas rangerem,
Fazendo o coração sentir
Que algo não pertence mais ao lugar onde sempre esteve.
Ainda assim, o antigo permanece, silencioso,
Como um velho guardião que observa sem julgar,
Sabendo que cada época acende suas próprias sombras.
O contemporâneo apenas revela outras formas de escuridão,
Outras máquinas, outros medos,
Outros abismos que aprendemos a chamar de progresso.
E nós seguimos — não como testemunhas culpadas,
Mas como viajantes
Que atravessam pontes que não construíram,
Levando dentro do peito a memória do que fomos
E a dúvida tremulante do que ainda podemos ser.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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