quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Transformações no mundo

 O mundo não errou — apenas se moveu. 
As ruas antigas, que um dia guardaram passos lentos, 
Agora tremem sob a pressa de relógios que ninguém controla. 
Não culpamos o passado por ter sido brando: 
Ele apenas dormia enquanto o futuro afiava suas lâminas. 
 
As transformações não pediram licença. 
Chegaram como vento que troca de direção no meio da noite, 
Fazendo as janelas rangerem, 
Fazendo o coração sentir 
Que algo não pertence mais ao lugar onde sempre esteve. 
 
Ainda assim, o antigo permanece, silencioso, 
Como um velho guardião que observa sem julgar, 
Sabendo que cada época acende suas próprias sombras. 
O contemporâneo apenas revela outras formas de escuridão, 
Outras máquinas, outros medos, 
Outros abismos que aprendemos a chamar de progresso. 
 
E nós seguimos — não como testemunhas culpadas, 
Mas como viajantes 
Que atravessam pontes que não construíram, 
Levando dentro do peito a memória do que fomos 
E a dúvida tremulante do que ainda podemos ser. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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