Carrego meio século nas mãos,
Não como peso, mas como mapa.
Cada linha da palma guarda um rio,
Um erro, um rosto, um silêncio.
O tempo, esse escultor invisível,
Me lapidou em noites de espera
E manhãs que nasceram sem promessa.
Aprendi que existir é resistir
À própria dissolução.
Há memórias que brilham como lâminas,
Outras que repousam, gastas,
No fundo das gavetas do ser.
Mas todas me compõem,
Como constelações de um céu particular
Onde o passado ainda respira.
Já não busco o sentido,
Ele se esconde nas frestas do cotidiano,
No café que esfria,
No gesto breve de quem parte.
Metade da vida talvez seja apenas isso:
Um aprendizado lento
Sobre como perder sem desaparecer,
Como amar sem possuir,
Como permanecer quando tudo muda.
E se houver outra metade à frente,
Que venha com menos pressa,
Mais sombra, mais pausa,
Para que eu possa, enfim,
Ouvir o murmúrio do que fui
Sem medo de deixar de ser.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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