quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Crônicas de meio século

Carrego meio século nas mãos, 
Não como peso, mas como mapa. 
Cada linha da palma guarda um rio, 
Um erro, um rosto, um silêncio. 
 
O tempo, esse escultor invisível, 
Me lapidou em noites de espera 
E manhãs que nasceram sem promessa. 
Aprendi que existir é resistir 
À própria dissolução. 
 
Há memórias que brilham como lâminas, 
Outras que repousam, gastas, 
No fundo das gavetas do ser. 
Mas todas me compõem, 
Como constelações de um céu particular 
Onde o passado ainda respira. 
 
Já não busco o sentido, 
Ele se esconde nas frestas do cotidiano, 
No café que esfria, 
No gesto breve de quem parte. 
 
Metade da vida talvez seja apenas isso: 
Um aprendizado lento 
Sobre como perder sem desaparecer, 
Como amar sem possuir, 
Como permanecer quando tudo muda. 
 
E se houver outra metade à frente, 
Que venha com menos pressa, 
Mais sombra, mais pausa, 
Para que eu possa, enfim, 
Ouvir o murmúrio do que fui 
Sem medo de deixar de ser. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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