Todo mundo quer ser ouvido,
Mas ninguém suporta silêncio que não seja o próprio.
Todo mundo quer colo,
Mas não sabe onde pôr os braços
Quando o outro chora.
É quase engraçado, não fosse tão triste.
Nascemos carentes,
Crescemos orgulhosos,
Morremos sozinhos,
Mas com a pose intacta.
Ser gentil virou excentricidade.
Perguntar "tudo bem?" com real interesse
É tratado como invasão de privacidade.
Pessoas tropeçam,
Mas em vez de mãos,
Recebem diagnósticos rápidos e conselhos prontos
De quem nunca sentiu sede
Mas adora ensinar a beber do próprio veneno.
O mundo anda cheio de frases bonitas
E gente vazia.
Sorrisos de rede social
E afetos por atacado.
É como se estivéssemos todos
Numa grande convenção de sobrevivência emocional,
Onde o lema é:
"Antes ferir do que ser ferido."
E de ferida em ferida,
Vai-se perdendo o tato.
A carne vira couraça,
O coração, protocolo.
Ninguém é bom com ninguém.
Não por maldade explícita,
Mas por falta de tempo,
De prática,
Ou simplesmente por cansaço.
Talvez sejamos só isso:
Criaturas que um dia sonharam em ser luz,
Mas aprenderam cedo
Que sombra é mais segura.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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