segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Os bons sentimentos estão em extinção (Mas ninguém ligou)

Todo mundo quer ser ouvido, 
Mas ninguém suporta silêncio que não seja o próprio. 
Todo mundo quer colo, 
Mas não sabe onde pôr os braços 
Quando o outro chora. 
 
É quase engraçado, não fosse tão triste. 
Nascemos carentes, 
Crescemos orgulhosos, 
Morremos sozinhos, 
Mas com a pose intacta. 
 
Ser gentil virou excentricidade. 
Perguntar "tudo bem?" com real interesse 
É tratado como invasão de privacidade. 
 
Pessoas tropeçam, 
Mas em vez de mãos, 
Recebem diagnósticos rápidos e conselhos prontos 
De quem nunca sentiu sede 
Mas adora ensinar a beber do próprio veneno. 
 
O mundo anda cheio de frases bonitas 
E gente vazia. 
Sorrisos de rede social 
E afetos por atacado. 
É como se estivéssemos todos 
Numa grande convenção de sobrevivência emocional, 
Onde o lema é: 
"Antes ferir do que ser ferido." 
 
E de ferida em ferida, 
Vai-se perdendo o tato. 
A carne vira couraça, 
O coração, protocolo. 
 
Ninguém é bom com ninguém. 
Não por maldade explícita, 
Mas por falta de tempo, 
De prática, 
Ou simplesmente por cansaço. 
 
Talvez sejamos só isso: 
Criaturas que um dia sonharam em ser luz, 
Mas aprenderam cedo 
Que sombra é mais segura. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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