quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

No fim da vida... o abandono

O caminhar lento e cuidadoso 
As mãos trêmulas a segurar a bengala 
Revela o cansaço da vida 
E a proximidade do fim. 
É comovente ver os dois passarem horas sentados 
Não se pode saber se conversam ou se só pensam sobre a vida. 
Observo-os todos os dias do alto de meu quarto 
E eles estão sempre lá, um ao lado do outro. 
As paredes dos prédios não os deixam ver o horizonte 
Às vezes, algumas nuvens, 
É a única coisa que seus olhos cansados podem contemplar. 
A vida passa muito lentamente para eles 
Ali abandonados depois de toda uma vida. 
Quem sabe onde anda seus filhos? 
Envoltos nos afazeres do dia a dia 
Na busca incessante pelo sucesso 
Não foi possível dar aos velhinhos o repouso de um lar. 
Vez ou outra ali chega alguém 
Fala algumas palavras e vai embora rapidamente 
E os dois voltam a sua rotina de sempre 
Olhar as paredes de concreto que os prendem naquele apartamento. 
A vida passa muito lentamente para eles 
E o coração sente a angústia de ambos. 
Quem irá primeiro? 
O que acontecerá com o que ficar por último? 
Um ao outro é o que afasta a solidão 
E os ajuda a continuar. 
Quantos anos estiveram juntos 
E quantas situações superaram tendo um ao outro na caminhada. 
O fim da vida 
O apagar das luzes no abandono da vida moderna. 
Já não se pode ouvir o cantar dos pássaros 
E nem alimentar as aves de manhã 
Nem correr pelos campos em flores 
Como faziam na juventude. 
A selva de pedra os condenaram. 
A mão do velhinho repousa sobre a mão de sua amada 
Parecem notar o meu olhar 
E em silêncio eles permanecem a pensar. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

4 comentários:

  1. Meu professor e além de professor um grande filósofo o homem sábio e sabe o que escolhe o homem de sábias escolhas tenho muito orgulho de ser meu professor

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  2. A velhice chega pra todos. Mas .. quão difícil é aceita-la, até porque aqueles que estavam ao nosso redor se vão e queira ou não chega a nos faltar o chão e ficamos nós você, eu.. avós

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  3. Meu querido Odair, A crueza dos versos nos revelam a crueza da vida: ninguém tem 20, 30, 40, 50, 60 eternamente...evoluímos...e a evolução se liga à passagem do tempo. Vi.

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